EDITORIAL | ||||
As duas principais áreas de trabalho da ACT Promoção da Saúde, o controle do tabagismo e a alimentação saudável, tiveram momentos de destaque em abril. Na seção Entrevista, Márcio Sousa, cardiologista e membro da Associação Médica Brasileira, dá outras informações sobre pesquisas com dispositivos eletrônicos e trata do Dia Mundial Sem Tabaco, cujo tema este ano são as doenças cardiovasculares. Já na área de alimentação, participamos do 25o Congresso Brasileiro de Nutrição (Conbran), em Brasília, como membro da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável. Tivemos um estande com atividades como tenda da rotulagem, quizzes sobre políticas de alimentação e talk shows de diversos temas, apresentados pelos jornalistas João Peres e Moriti Neto, do site O Joio e o Trigo . Além disso, membros da Aliança também foram até a Anvisa pedir pela abertura de uma consulta pública sobre os novos modelos de rotulagem propostos. O Conbran está com destaque especial nesta edição. Ainda na área de alimentação, num momento em que a sociedade tenta aprovar uma rotulagem com mais informações, vemos setores obscurantistas se aliando a senadores que não têm compromisso com a população para aprovar aprovar um projeto que desobriga indústrias de estamparem a letra T na embalagem de alimentos que contenham menos de 1% de ingredientes transgênicos. Conseguimos também publicar um artigo no Le Monde Diplomatique chamando a atenção para essa grave questão contra o direito à informação aos consumidores. A preocupação com a inserção do símbolo T, que data de 2003, também diz respeito à soberania e segurança alimentar e nutricional e às consequências ambientais, como a perda de biodiversidade, o uso intensivo de agrotóxicos e possíveis riscos para a saúde. Ao longo da nossa história, trabalhamos com base em evidências de como diferentes fatores influenciam a saúde das populações, justamente o que a epidemiologia estuda. Assim como vimos a epidemia global do tabagismo, que levou a um aumento significativo de alguns tipos de câncer, como o de pulmão, no século 20, assistimos agora a epidemia da obesidade, gerada pela mudança dos hábitos alimentares. Uma pesquisa recente mostrou que a China, com seu gigantismo de 1.370 bilhão de habitantes, é a nação com o maior número de obesos do mundo. No país do chá, é de se espantar, mas é simples de entender: a bonança econômica dos últimos 30 anos levou a mudanças profundas nos hábitos, e a população começou a comer mais, diferente, mas não melhor: os ultraprocessados entraram com tudo no país. Uma matéria do Globo ouviu especialistas e traz boas informações. Para fechar e desejar ao leitor um bom aproveitamento deste Boletim, deixo ao Gregório Duvivier, escritor, ator e humorista, apresentador do Greg News, essa tarefa. Ele preparou um programa, na semana passada, que amarra as pontas entre o tabaco e os alimentos ultraprocessados, e deixa muita coisa a se pensar. Vale a pena assistir e compartilhar. Boa leitura. Anna Monteiro |
ACT ENTREVISTA | ||||
Com Márcio Sousa O Dia Mundial Sem Tabaco 2018 terá como tema a relação entre o tabagismo e as doenças cardiovasculares que, combinadas, são as que mais matam no mundo. Nesta edição, o cardiologista Márcio Sousa, da Associação Médica Brasileira e da Sociedade Brasileira de Cardiologia, tira algumas dúvidas sobre essas doenças crônicas não transmissíveis, e é taxativo: as sociedades médicas pecam muito na prevenção deste tipo de doença. Quais são as principais doenças cardiovasculares causadas pelo tabagismo e os efeitos do fumo no corpo humano responsáveis pelo surgimento e piora dessas doenças? O InterHeart mostrou que o tabagismo era o segundo pior fator de risco capaz de gerar um infarto agudo do miocárdio, perdendo para a taxa de colesterol. Pacientes que fumavam dois maços tinham nove vezes mais chances de infarto. O InterStroke também mostrou que o tabagismo é responsável por 67% a mais de risco para acidente vascular encefálico. Mais recentemente, um estudo foi publicado numa revista da American Heart Association, o Stroke Prevention, realizado com 615 pacientes com menos de 50 anos. Ele mostrou que os fumantes que consumiam menos de onze cigarros ao dia tinham um risco 46% maior de terem um acidente vascular encefálico do que os não fumantes. Já para os que fumavam mais de 40 cigarros por dia, o risco era quase seis vezes maior (566%). Então, existe uma relação clara entre tabagismo e infarto e acidente vascular encefálico, que é o que mais mata hoje. Qual a importância da escolha das doenças cardiovasculares para o tema do Dia Mundial Sem Tabaco de 2018? Quais são as principais medidas que podem ser tomadas - seja pelos governos, pela sociedade civil, pelos médicos ou pelos próprios pacientes - para reduzir os riscos que o tabagismo traz ao coração? Do ponto de vista dos médicos, os cardiologistas não abordam [o paciente] no consultório, eles não querem perder tempo, porque tratar o tabagista é demorado, tem que ter telefone, tem que estar acessível, então não sabem tratar, não tem expertise nisso, não se sentem confortáveis em dar bupropiona, vareniclina [remédios para tratar tabagismo], o adesivo, não sabem manipular, o que o paciente vai ter, o que não vai ter. Também não têm para quem encaminhar. A melhora na parte dos médicos seria isso. A melhora para os pacientes seria com informação. A educação continuada, tanto para médicos quanto para pacientes, e para sociedade de uma forma geral, tem que ser melhorada, tem que ser trabalhada junto com as sociedades médicas. A gente está tentando estimular isso. Muito se discute atualmente com relação aos novos produtos de tabaco, como os dispositivos eletrônicos de fumar, e se eles realmente seriam redutores de dano, como alega a indústria. Como o sr. vê essa questão e que evidências temos atualmente para analisar os efeitos desses produtos para a saúde cardiovascular (e geral) das pessoas? Por isso, eu estou completamente alinhado com a proibição desses dispositivos aqui no Brasil. Acho que a gente não deve liberar, porque a abordagem está clara: ele não é um aparelho novo, é um aparelho antigo que foi relançado para tentar atrair os jovens. Ele tem mais de oito mil sabores. Um detalhe interessante para contar é que um residente do ano passado é um usuário de cigarro eletrônico. Quando ele falou sobre isso, ficamos discutindo a respeito. Ele monta todo o cigarro eletrônico dele: pode colocar dois ou três “coils”, aumentar a temperatura do aparelho, enfim, pode customizar todo o dispositivo. Todos os estudos que nós temos hoje são de uma variabilidade muito grande. Existe uma enormidade de aparelhos, até sem qualidade de produção e montados pelo próprio usuário. Você compra as partes do aparelho e elas são entregues na sua casa. Os “juices”, líquidos usados no dispositivo, também vêm para sua casa, nas mais variadas qualidades. Nos Estados Unidos, tem até competição de cigarros eletrônicos: eles aumentam o aquecimento para fazer uma fumaça mais densa e competem pelo tamanho da baforada. E o que está sendo gerado com isso? Com o aumento do aquecimento, aumenta a produção de acetaldeídos e formaldeídos, compostos que vêm nesses “juices”. Então, é um balaio de gato, assim como o cigarro, com seus sete mil compostos. A gente não tem dados concretos a respeito disso. Existem estudos mostrando toxicidade e prejuízo à saúde com esses dispositivos? Além disso, a nicotina também está diretamente relacionada ao aumento de pressão e de frequência cardíaca, porque ela estimula diretamente o sistema nervoso simpático. Isso já é péssimo do ponto de vista cardiovascular. Os compostos também podem gerar taquiarritmias, e o cigarro resulta em alterações na frequência cardíaca. O batimento é rítmico, mas ele tem uma variabilidade fisiológica, que é afetada pelo cigarro. Um único cigarro já gera esse tipo de interferência e pode gerar taquiarritmias, palpitações, disparos no peito e aumento da pressão arterial. Para o cigarro eletrônico, não temos estudos específicos para avaliar isso. Como mencionado anteriormente, existe uma variabilidade muito grande na coleta de dados, devido aos diferentes tipos e formas do aparelho. Isso nos trará uma grande dificuldade de avaliação. A nossa sorte é que a Anvisa proibiu [o cigarro eletrônico]. Temos que continuar insistindo para que só se libere quando tivermos estudos concretos e robustos que demonstrem segurança no uso desse aparelho. Enquanto não sair um estudo que mostre a segurança, mas mostrando apenas redução de danos sem robustez de dados, é loucura. Em relação a doenças cardíacas, parece que há bastante evidências que os dispositivos eletrônicos de fumar seriam danosos. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal confirmou a proibição dos aditivos de sabor em cigarros, que ainda não entrou em vigor. Como essa medida poderá ajudar no combate à iniciação do tabagismo pelos jovens e no aumento no consumo de produtos como o narguilé? Nos Estados Unidos, já temos problema com o “juul”, um tipo de dispositivo eletrônico com os mais variados sabores. A nossa sorte é que aqui ele está proibido, mas sabemos que os jovens podem ter acesso mesmo assim. Então, com certeza a retirada de todo tipo de sabor vai ajudar a segurar, especialmente no narguilé. Minha sobrinha, de 20 anos de idade, fala que, quando os amigos se reúnem em casa, pedem para levar o narguilé. Minha irmã que tem que segurar e proibir. Então, a gente sabe que isso está sendo usado e que as pastas de nicotina com sabor estão sendo vendidas. Se conseguirmos coibir isso, vai ser extremamente importante. Em relação à cessação, quais seus conselhos para fumantes que queiram parar de fumar, e especialmente aqueles que já têm problemas cardíacos e não conseguem parar. Isso é o que eu vivo no Hospital Dante Pazzanese. Uma estatística de lá, ainda não oficial, é que 50% dos pacientes que chegaram com doença coronariana aguda em março tinham antecedente de tabagismo. Por mais que o paciente tenha parado de fumar, os efeitos continuam presentes. Só depois de 10 anos sem fumar você volta a ter a mesma chance [de ter um evento cardíaco do que um não fumante]. Por isso, no meu grupo de tabagismo, os pacientes só têm alta após passarem 10 anos sem fumar. É preciso entender que só 2 a 3% dos pacientes conseguem parar sozinhos. Se você não oferece tratamento e se ele não está no SUS, descentralizado e acessível à população, os pacientes deslizam. Não é fácil. O grupo em que trabalho tem uma eficácia muito grande - temos 33% de taxa de cessação em um ano, uma taxa excelente. Mas, ainda assim, 70% não seguem o tratamento, voltam a fumar, e muitos retornam um ano depois, querendo começar de novo. Então, parar de fumar é um processo. Nós temos que oferecer esse processo o quanto antes, para que o paciente consiga, no mínimo, reduzir o consumo. Ele vai receber informação, saber que, se está fumando 40 cigarros e diminuir para menos de 10, o risco já será reduzido. Óbvio que o ideal é zerar [o consumo de cigarros], para que o risco seja normalizado. A ideia é oferecer tratamento, principalmente para os pacientes que são cardíacos. A janela de oportunidade também é interessante, como para pacientes que infartaram ou têm algum conhecido que infartou, e aí percebem o risco que correm, mas o tratamento precisa estar acessível.
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ESPECIAL CONBRAN |
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Aliança movimenta Conbran, o congresso brasileiro de nutrição O estande da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, exposto no 25º Congresso Brasileiro de Nutrição (Conbran), contou com diversas atividades: talk shows transmitidos ao vivo pelas redes sociais, tenda da rotulagem, quizzes sobre publicidade infantil e taxação, além de outros assuntos. O evento foi realizado em Brasília, entre os dias 18 a 21 de abril. Uma das atividades que mais fizeram sucesso – e deixaram o estande lotado – foram os talk shows com convidados especiais, mediados pelos jornalistas investigativos João Peres e Moriti Neto, do blog O Joio e o Trigo. Em cada talk show realizado – que aconteciam paralelamente às palestras da programação oficial do evento – mais de 150 pessoas estiveram presentes e puderam fazer perguntas ao final. Um dos que mais movimentou o estande da Aliança foi “Você tem o direito de saber o que come: rotulagem adequada Já!”, com a nutricionista Ana Paula Bortoletto, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), e o professor Gastón Ares, da Universidad de la República, do Uruguai. “Tributação de Bebidas Açucaradas no Brasil, uma Jabuticaba Cheia de Açúcar!”, com Paula Johns, diretora da ACT Promoção da Saúde, e Rafael Claro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também chamou a atenção do público. Rita Lobo participou de talk-show e apoiou as pautas da Aliança Todos os temas debatidos nos talk shows são pautas da agenda da Aliança e foram transmitidos pelo Facebook com grande alcance: o da Rita Lobo, apresentadora do Panelinha, por exemplo, teve cerca de 8,5 mil visualizações. “Testemunhar o quanto a Aliança se consolidou desde o seu lançamento no Conbran 2016 é muito gratificante. O nível dos debates e o engajamento do público mostra o quanto nossa agenda estratégica amadureceu”, diz Paula Johns. Os quizzes, preparados pela equipe da Aliança especialmente para o Conbran, também foram outro ponto alto do estande. O público podia participar respondendo até quatro tipos diferentes de questionários, sobre publicidade infantil, conflito de interesses, taxação, rotulagem e alimentação adequada e saudável. Os “prêmios” para quem respondia corretamente à maioria das questões eram 12 tipos diferentes de ímãs que trazem, em suas imagens, a agenda da Aliança. Nos três dias de evento, a participação foi muito grande: mais de 900 quizzes foram respondidos. Quizzes movimentaram o estande da Aliança Entre outras atividades de interação, havia materiais disponíveis para fotos com os temas da rotulagem. Muitas foram postadas quase em tempo real nas redes sociais dos participantes. Uma peça inflável representando uma grande lata de refrigerante com a frase “CUIDADO: a diabetes mata 130 mil pessoas por ano no Brasil” também fez sucesso e chamou a atenção do público, formando, em muitos momentos, fila para fotos. “O estande da Aliança foi um espaço de diálogo com os profissionais da área de nutrição, aproximando mais as pessoas que já apoiam e apresentando a agenda da Aliança para um público ainda maior e interessado pelo tema”, diz Ana Paula Bortoletto. Outra visita importante foi a da nutricionista Sophie Deram, que fez um “story” em seu instagram ao lado de Paula Johns, da ACT, e da Laís Amaral, do Idec, e ficou muito interessada nas ações desenvolvidas pela Aliança. Atividades fora do estande também tiveram destaque Fora do estande, a Aliança também movimentou Brasília. No dia 20, cerca de 35 pessoas foram à Anvisa com faixas e cartazes pedindo urgência na abertura da consulta pública sobre o aprimoramento da rotulagem nutricional, que é quando a população pode dar a sua opinião a respeito dessas mudanças. O grupo conversou com funcionários da agência e frisou a importância da proposta. Dentro da programação do evento, a Aliança fez uma homenagem à Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) pelos avanços em sua política de financiamento para a realização dessa edição do Conbran. A associação se colocou como organização pioneira ao adotar pela segunda vez consecutiva – desde o último Conbran, em Porto Alegre – novas práticas para prevenir conflitos de interesses com a promoção da alimentação adequada e saudável, sem interferência de interesses mercadológicos em seu programa científico. “Um congresso que tem a audácia de fazer o evento de alimentação e nutrição do país escancarando a importância de estar livre de conflito de interesses é ainda mais significativo. Parabéns à Asbran e a todos que têm coragem para enfrentar o que precisa ser enfrentado sem medo do poder econômico dos atores que dominam os sistemas alimentares atuais”, destaca Johns. Ao fim do Conbran, na cerimônia de encerramento, mais manifestação: ao som do carimbó (o próximo Conbran será em Belém, em 2020), com muita música e animação, vários integrantes subiram no palco do auditório principal, com as faixas e cartazes usados na ida à Anvisa, para chamar a atenção para a necessidade da abertura da consulta pública. |
O JOIO E O TRIGO | ||||
Em abril, o Joio e o Trigo saíram das mídias virtuais diretamente para o Congresso Brasileiro de Nutrição (Conbran) 2018, onde fizeram sete talk shows, que podem ser assistidos online, com profissionais da área de alimentação sobre temas diversos, como publicidade infantil, rotulagem, conflitos de interesse, tributação e outros. Além disso, as reportagens também não pararam: logo no começo do mês, foi mostrado como um projeto da Danone orientou 300 mil crianças, de maneira controversa, a consumir três porções de lácteos, carro-chefe da empresa, por dia. Depois, o foco foi nas propostas de mudança de rotulagem que estão em análise na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com artigos sobre a falta de respaldo científico para um dos modelos propostos, o NutriScore, a necessidade de um debate e uma definição sobre qual será a principal meta do modelo de rotulagem adotado e uma entrevista com Fabio Gomes, assessor regional em Nutrição e Atividade Física da Organização Panamericana de Saúde (Opas). |
#QuitBigTobacco | ||||
A Vital Strategies, organização parceira da ACT Promoção da Saúde, acabou de lançar a campanha #QuitBigTobacco, pedindo que a comunidade de controle de tabagismo se comprometa a parar de trabalhar com a indústria do tabaco, da seguinte maneira:
Comprometa-se aqui: https://quitbigtobacco.org/pledge/ |
#AnvisaPerguntaPraMim | ||||
A Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, da qual a ACT Promoção da Saúde é membro, lançou a campanha #AnvisaPerguntaPraMim para pedir que a agência abra uma consulta pública sobre os novos modelos de rotulagem propostos, que incluem os selos de advertência frontais, apoiados pela Aliança e por vários especialistas, que manifestaram-se em uma carta à Anvisa. Uma rotulagem nutricional adequada beneficiará toda a população, e por isso todos temos o direito de opinar. A consulta pública é uma ótima maneira de garantir que a sociedade seja ouvida e participe do processo decisório. |
VISITA DE PARCEIROS INTERNACIONAIS | ||||
Representantes de organizações internacionais, como a Bloomberg Philanthropies, a Universidade Johns Hopkins, a Campaign for Tobacco-Free Kids e a The Union, visitaram o Brasil e se encontraram com a ACT Promoçao da Saúde e outras organizações da sociedade civil, governo e academia para apoiar medidas de controle do tabagismo. Foram realizadas diversas reuniões no Rio de Janeiro e em Brasília, onde foram discutidas as principais iniciativas de controle do tabagismo no país, como a proibição de aditivos em cigarros, as políticas de tributos e preços e a necessidade de ratificação e implementação do Protocolo para Eliminar o Comércio Ilícito de Produtos de Tabaco. Também foram feitas ações de advocacy no Congresso Nacional para acompanhar projetos de lei relacionados à prevenção do fumo e contribuições ao painel sobre dispositivos eletrônicos para fumar, realizado pela Anvisa e discutido em detalhe na seção ACT Legal. A agenda foi extensa e a visita foi considerada muito produtiva pois, além de ter permitido uma visão global pelos parceiros internacionais em relação às iniciativas em andamento no Brasil, tanto em termos das conquistas alcançadas quanto em relação aos inúmeros desafios ainda presentes. Pode-se destacar também a oportunidade de reunir os principais especialistas nacionais e internacionais e fortalecer as ações locais em defesa da saúde pública. Em seu twitter, a Dra. Kelly Henning enumerou as lições que aprendeu em sua viagem ao Brasil. Dentre elas, em tradução nossa, incluem-se os reconhecimentos de que “o controle do tabagismo funciona” e “o sistema legal pode ser um vetor de mudanças”. Para ler o relato completo, clique aqui. |
NOTÍCIAS | ||||
Anvisa quer criar alerta nos rótulos sobre alto índice de açúcar Brasil terá mais de 29 mil casos de câncer associados ao peso em 2025, diz estudo Entidades enviam a senadores carta contra projeto que limita rotulagem de transgênicos Mais de 60% dos rótulos de alimentos no Rio têm problemas de informação "Nenhum dispositivo substitui parar de fumar", afirma Tânia Cavalcante, médica do Inca |
Novos produtos de Tabaco – Painel Anvisa | ||||
É preciso cautela nesse debate A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) promoveu em Brasília, em 11 de abril, o Painel para Discussão sobre Dispositivos Eletrônicos para Fumar. Há mais de um ano a indústria do tabaco pressiona a agência para a autorização do comércio dos referidos produtos, sob o argumento de que seriam menos prejudiciais à saúde, com a função de redução de danos para quem não consegue parar de fumar. A indústria do tabaco, precisamente a Phillip Morris, a Souza Cruz e a Japan Tobacco International, participou do painel para promover o cigarro eletrônico e o tabaco aquecido, dois novos produtos de tabaco já à venda em alguns países, sob regulamentações diversas. O comércio dos dispositivos eletrônicos para fumar, categoria em que se enquadram esses dois novos produtos, é proibido no país pela RDC 46/2009, da Anvisa. As brasileiras Stella Bialous e Vera Luiza da Costa e Silva, da Universidade da Califórnia em São Francisco e do Secretariado da Convenção-Quadro, respectivamente, foram convidadas e falaram de forma enfática e clara sobre o histórico de atuação e as estratégias da indústria do tabaco. A participação da sociedade civil, governo, profissionais da área da saúde e da academia, inclusive internacional, como representantes da universidade Johns Hopkins, foi de suma importância para levar à Anvisa a mensagem de necessidade de cautela neste debate. São produtos que causam forte dependência, e apesar de não haver evidências conclusivas do argumento da indústria do tabaco, nos países em que são comercializados o cigarro eletrônico e o tabaco aquecido são usadas estratégias de marketing para atrair crianças e jovens. São produtos com sabor, portanto mais palatáveis e atraentes, e a própria tecnologia usada é fator de atração a este público. Há lojas e quiosques próprios das marcas, sem qualquer referência e advertência sobre os riscos do consumo, para dizer o mínimo. Ou seja, mais uma vez a indústria do tabaco se coloca numa falsa posição de preocupada com a saúde, mas, de fato, segue o seu negócio na promoção e comércio de produtos que causam forte dependência e diversos males à saúde. Não é a primeira vez que a indústria do tabaco coloca produtos no mercado alegando que são menos maléficos do que os cigarros convencionais. O caso dos cigarros light e de baixos teores é emblemático do engodo desse tipo de alegação, já reconhecido pela Justiça norte-americana. O consenso científico é de que não há cigarro seguro para consumo. O caminho para a redução e da iniciação ao tabagismo é a implementação das medidas previstas na Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Decreto 5.658/2006), como o tratamento para a cessação do tabagismo, política pública adotada no país com resultados exitosos, e que deve ser ampliado. O posicionamento da ACT sobre o tema, apoiado por outras organizações, está disponível no nosso site: http://www.actbr.org.br/uploads/arquivos/Posicionamento-ACT-novos-produtos-de-tabaco.doc.pdf |
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