nº 13
 
1. EDITORIAL
2. PERFIL
3. REDE TABACO ZERO EM AÇÃO
4. NOTÍCIAS - Fumantes custam R$ 12 milhões
5. Proposta garante plantio de fumo na região Sul
6. Restaurantes devem criar salas de fumo
7. Grupo pede que sejam mantidas sanções à indústria do fumo nos EUA
8. País perde sem acordo antifumo
9. Municípios de Goiás se aparelham para atender dependentes de cigarro
10. IRRESPONSABILIDADE SOCIAL
11. Ficha Técnica
 

EDITORIAL
Feliz 2005, embora votos de ano novo soem ultrapassados em meados de fevereiro. Como este é o primeiro boletim do ano, não poderíamos deixar de desejar a todos os(as) integrantes e simpatizantes da RTZ um ano cheio de realizações e muitas conquistas por um mundo com menos fumaça.

Embora este seja o primeiro boletim do ano isso não significa que o ano só começou agora para a RTZ. Muito pelo contrário, em função de várias atividades, já no mês de janeiro decidimos adiar a primeira edição do ano para o pós-carnaval.

Em janeiro, a RTZ foi para o Fórum Social Mundial coletar assinaturas para a campanha pela ratificação da Convenção-Quadro. Contamos com a participação de voluntários(as) que nos ajudaram na coleta de assinaturas e fizemos uma oficina em parceria com a Corporate Accountability International (Responsabilidade Corporativa Internacional), sobre a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco abordando o contexto global e a situação no Brasil.

Aproveitamos para fazer um agradecimento para nossa voluntária Gersira, que conseguiu mais de 500 assinaturas e passou por momentos difíceis, como quando cercada por um grupo de jovens que achavam essa história de controle do tabaco era uma grande repressão. Obrigada também para a Andrea, Ademir, Gabriela, Clarissa, Fábio ACM, Ana Flávia, Silvana e para a Lina, que organizou a coleta de assinaturas lá no Oeste do Paraná. No total temos aproximadamente 1300 assinaturas que serão entregues em mãos ao Senador Eduardo Suplicy e ao Senador Fernando Bezerra em Brasília, na semana que vem. Um super obrigado para todos e todas que participaram direta e indiretamente desta empreitada.

Além da participação no Fórum Social Mundial, a RTZ esteve representada na reunião de negociação das regras de implantação da Convenção-Quadro em Genebra. As discussões estiveram bastante centradas na questão do modelo de gestão das COPs (Conferências das Partes). A reivindicação da FCA (Aliança de ONGs da Convenção-Quadro), da qual a RTZ faz parte, é de que a secretaria da COP seja o mais autônoma possível para que o processo de implantação não seja pautado pelos países que não ratificaram a Convenção. Outra discussão crucial diz respeito à participação da sociedade civil no processo. As ONGs deram uma contribuição técnica grande durante as negociações, fato reiterado por vários países membros da OMS, inclusive o Brasil, que defendeu a participação da sociedade civil em plenária. Este tópico ainda não teve os resultados esperados, e da forma como está colocado, basicamente a única coisa que diferencia a forma de participação das ONGs credenciadas pela OMS e do público em geral (inclui-se aí a indústria do tabaco) é o direito de fazer um pronunciamento no final das sessões plenárias sujeito a aprovação do conteúdo pela Presidência. O que em termos práticos significa muito pouco, uma vez que, via de regra, o próprio processo de aprovação do conteúdo faz com que este esteja obsoleto no momento em que pode ser exposto para as delegações em plenária. Até a primeira COP cabe às organizações e redes nacionais trabalharem no sentido de fortalecer o posicionamento de suas delegações oficiais sobre o tema. A RTZ está pesquisando sobre modelos de participação em tratados internacionais em outras áreas para encontrar exemplos e apresentar para a delegação brasileira.

Já estamos na contagem regressiva para entrada em vigor da Convenção-Quadro. Faltam nove dias para que entre em vigor e menos de um ano para que o Brasil possa confirmar o seu compromisso com este importante tratado. O Brasil precisa ratificar e depositar o documento na ONU até final de outubro de 2005, senão ficará de fora. Precisamos intensificar nossa ação. Agora a contagem regressiva é para valer.

A campanha pela ratificação continua no ar e foi mais uma vez atualizada. Clique aqui para assinar a campanha e divulgue o link nas suas redes de relacionamento.

Relógio da morte: Em 25 de outubro de 1999, dia em que iniciaram as negociações sobre a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, em Genebra, foi inaugurado o Relógio Global da Morte, um lembrete de que, mesmo enquanto nossos governos negociam medidas para coibir a expansão da epidemia tabagista, mais de sete pessoas morrem, por minuto, no mundo, de doenças tabaco relacionadas. Até agora, dia 18/02/2005, às 14:55, são 21.420.588 pessoas em todo mundo.

Se quiser ver os números atualizados clique em: Tobaco Free Kids

Quem quiser enviar um release para a mídia de sua cidade, chamando a atenção para a entrada em vigor da Convenção-Quadro, pode usar o modelo que está disponível no site. Clique aqui e veja a seção Destaques.

Um abraço, até breve.

PERFIL
MÔNICA ANDREIS


A intensidade da dependência da nicotina e a iniciação um tanto quanto ardilosa motivaram a psicóloga Mônica Andreis a se engajar na luta pelo controle do tabagismo, tanto como profissional quanto como representante da sociedade civil. Mônica, 39 anos, especialista em Psicologia Hospitalar e mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo, é o perfil desta edição.

Ela passou a trabalhar diretamente com o tema há seis anos, quando assumiu a coordenação da Liga de Apoio ao Abandono do Cigarro da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Atualmente, Mônica atua na equipe de Saúde Ocupacional do Hospital Israelita Albert Einstein, onde um programa de apoio à cessação do tabagismo junto aos funcionários também está em desenvolvimento.

O interesse pelo tema se deu quando passou a atuar em Psicologia Hospitalar em uma unidade de cardiologia: “Nesse ambiente, é impossível não ter uma noção clara de que o tabagismo é um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares. Observávamos suas conseqüências em nossos pacientes e, ao mesmo tempo, a dificuldade que apresentavam em parar de fumar”, conta.

O envolvimento maior e a dedicação à causa se deram com a oportunidade de conviver com pessoas que eram muito dependentes do cigarro, física e psicologicamente, e que viviam um grande conflito e sofrimento no processo de abandono do tabagismo. Desejavam parar mas sentiam-se incapazes de fazê-lo. Foi por meio desses pacientes que Mônica passou a se engajar na causa, como explica: ”Pude constatar o quanto é intensa esta dependência, o quanto é ardilosa a iniciação, e percebi que é possível e necessário nosso engajamento para mudar este quadro, desenvolvendo a terapêutica, a prevenção e também a mobilização social para a questão”.

Entre as várias atividades que desenvolve, estão as palestras em empresas, escolas e universidades, onde aborda os males relacionados ao tabagismo. Segundo ela, não existe uma fórmula exata para chamar a atenção do público, mas é uma forma fundamental para a disseminação das informações. “Recordo-me especialmente da experiência de realizar palestras em escolas, junto a adolescentes, que pode ser um público às vezes resistente ao tema. Preparávamos os alunos da Faculdade de Medicina interessados em participar do projeto e eles mesmos, quase tão jovens quanto os ouvintes, ministravam a palestra e era um sucesso! A receptividade era ótima e isto facilitava muito as coisas. Compreendi que a cada situação devemos adequar nossas estratégias, adquirindo flexibilidade e aperfeiçoando a cada intervenção nosso trabalho”, diz.

Apesar de participar de outros projetos também muito interessantes, envolvendo atuação em empresas ou formação de multiplicadores, como agentes de saúde, Mônica acha o contato com o próprio fumante o mais gratificante e explica o porquê: “o abandono é um desafio e manter-se sem fumar, uma conquista. Certamente é um tema muito abrangente, requer diferentes tipos e níveis de ação, além de persistência e determinação”.

Com a experiência adquirida nesse trabalho, Mônica tem algumas dicas para o fumante que quer largar o cigarro: “Em primeiro lugar, deve encarar de frente o tabagismo e sua dependência do cigarro. É comum ouvirmos respostas evasivas, como aquela de que vou parar no ano que vem, tudo faz mal mesmo, vamos todos morrer um dia ou o cigarro é o prazer que me resta. Tenta-se adiar a decisão, minimizar o risco, mas é fato que o preço será cobrado e ele é alto. Se preciso do cigarro é porque há dependência, e ela pode ser compreendida e tratada. Ninguém decidirá por você e o primeiro passo deve ser seu. Mas é assim que começamos a andar, e neste caso, a primeira conquista é esta, levar a sério o tabagismo e dar-se a chance de tentar viver sem fumar.”

Para quem não fuma e tenta ajudar um conhecido a parar de fumar, a tentativa pode ser frustrante, Mônica reconhece. Por sua experiência, ela observa que o apoio e apelo de amigos ou familiares (especialmente filhos e netos) é reconhecido e valorizado pelo fumante, funcionando até como um poderoso estímulo à cessação em alguns casos. Mas a cobrança em excesso é temida e pode gerar resistência ou intensificar a insegurança. Assim, a psicóloga aconselha que o não-fumante manifeste sua preocupação, seu desejo de vê-lo sem fumar e esteja pronto para apoiá-lo quando decidir parar, mas lembrando que esta decisão é dele.
“É muitas vezes frustrante para o não-fumante sentir que não consegue ajudar um conhecido a parar de fumar. Sei de casos em que se tenta de tudo, do ombro amigo à ameaças diversas, sem sucesso. Insistência em geral é ineficaz e sabe-se que o fumante pode passar por diferentes estágios de motivação até tentar efetivamente largar o cigarro. É preciso compreender que o tabagismo é uma drogadição, cujo abandono depende da determinação do fumante mas nem sempre é suficiente, sendo às vezes recomendado um tratamento especializado”, conta.

Em tempo: Mônica adverte para que, caso um não fumante conviva com um fumante, mesmo que não possa fazê-lo parar, pode e deve discutir sobre o ato de fumar em casa ou local de trabalho, afinal fumo passivo é danoso e este sim pode implicá-lo diretamente.

REDE TABACO ZERO EM AÇÃO
• Em 12/01/2005, a Folha de S. Paulo publicou um artigo do colunista português J.P.Coutinho, onde criticava as campanhas de controle do tabagismo e comparava-as às políticas nazistas (“Lauren Bacall, por favor” - o texto está disponível em www.tabacozero.net). Diversos ativistas da RTZ, como Mônica Mulser, Paulo Correa e Mário Albanese, enviaram e-mails para o jornal. O colunista respondeu para Mônica, dizendo que recebeu mais de mil e-mails, e reproduzimos o texto abaixo, pelo teor da resposta.

“Obrigado por sua mensagem. A propósito do último texto, recebi mais de mil e-mails (não estou brincando). Mas poucos com seu grau de informação (e preocupação).

Primeiro, Robert Proctor. É um fato que Proctor é militante anti-fumo e que «The Nazi War on Cancer» pretende ser retrato das descobertas científicas nazistas na luta contra o fumo - e o câncer. Porém, meu texto pretendia denunciar a desumanização que as campanhas antitabagistas veiculam - uma tática iniciada pelo Terceiro Reich, como Proctor afirma, na década de 1930. Pessoalmente, não creio que seja legítimo desumanizar os fumantes, humilhando seus hábitos com referências chocantes. Sobretudo quando a origem moderna dessas campanhas está associada a Hitler e à Alemanha de 1933.

Segundo, não nego - e não neguei - os efeitos do tabaco. Disse apenas - e disse como fumante - que apesar do tabaco fazer mal (como dezenas e dezenas de outros hábitos nossos), quando fumo me sinto mais calmo, mais interessante e até mais inteligente. Existe aqui um misto de ironia e subjetividade, como em tudo.

De resto, não acredito que seja possível a criação de uma sociedade ideal, perfeita e higienicamente «limpa». Como português e europeu, e com um século 20 que me escuso a comentar, ideias utópicas de perfeição radical sempre me provocaram o maior horror. A primeira forma de amar os seres humanos é compreender e tolerar suas falhas.

Melhores cumprimentos e um abraço transatlântico.

JPC”

NOTÍCIAS - Fumantes custam R$ 12 milhões
Fonte: correio Braziliense, 16/01/2005

Os danos causados pelo tabaco não se limitam à saúde. Atingem também os cofres públicos. O fumo causa um prejuízo mensal de R$ 9 milhões para o Governo do Distrito Federal. Por mês, R$ 12 milhões são gastos no tratamento médico-hospitalar de fumantes. A arrecadação tributária para esta finalidade, entretanto, se restringe a R$ 3 milhões.

(...) Para orientar o combate ao fumo, a Secretaria de Saúde organiza um levantamento detalhado sobre os gastos com doenças tabaco-relacionadas. (...) ‘‘Podemos afirmar com toda certeza que o tabaco é a maior causa de mortes evitáveis não só em Brasília, mas no mundo’’, destaca o coordenador do Programa de Controle do Câncer e Tabagismo da Secretaria de Saúde, o médico pneumologista Celso Antônio Rodrigues da Silva.

Leia na íntegra em www.tabacozero.net

Proposta garante plantio de fumo na região Sul
Mattos quer garantir o plantio de fumo porque uma das medidas da Convenção do Tabaco é a substituição dessa cultura. Projeto de lei (PL 4621/04) do deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), em tramitação na Câmara, garante o livre plantio de fumo na região Sul, contrapondo-se às medidas propostas na Convenção do Tabaco. O projeto
decreta ainda que o cultivo do fumo é considerado, nessa região, atividade de relevante cunho econômico e social. A garantia de livre cultivo abrange todas as espécies de tabaco.

Leia na íntegra em www.tabacozero.net

comnetário da RTZ: Esse PL não passa de um caça votos ordinário, pois a Convenção-Quadro não propõe a proibição da produção ou do consumo do tabaco. Lastimável que se perca tempo e consequentemente, dinheiro público, fazendo leis absoultamente inócuas e inúteis.

Restaurantes devem criar salas de fumo
Fonte: Reuters / Globalink, 23/01/2005

O Ministério da Saúde de Portugal manteve a proposta de proibição de fumar nos restaurantes e bares, bem como nos locais de trabalho fechados, unidades de saúde, escolas e transportes públicos. Contudo, a versão definitiva desta proposta é mais flexível e permite o uso do tabaco nos bares e restaurantes, desde que dentro de cerca de seis meses todos tenham criado zona para fumantes, bem separadas e com ventilação própria.

O secretário-geral da Associação dos Restaurantes e Similares de Portugal (ARESP), José Manuel Esteves, considera a obrigação das salas de fumo “inexeqüível”, alegando a incapacidade financeira do setor para suportar o investimento. “Tendo em conta que existem 90 mil estabelecimentos, seriam necessários vários milhões de euros”, estima aquele responsável.

Leia na íntegra em www.tabacozero.net

Grupo pede que sejam mantidas sanções à indústria do fumo nos EUA
Fonte: EFE, 05/02/2005

Um grupo de defesa do consumidor pediu que o governo dos EUA lute contra a decisão de um tribunal de apelações de não sancionar as empresas do tabaco por causa dos lucros supostamente fraudulentos obtidos por esse setor.

Em uma decisão por 2 a 1, o tribunal rejeitou uma demanda do Departamento de Justiça para obrigar as empresas do tabaco a pagar 280 bilhões de dólares por ganhos conseguidos após uma suposta conspiração para estimular o vício do fumo na população e esconder os efeitos nocivos do hábito.

Essas companhias negaram ter participado de uma conspiração desse tipo e afirmaram que o governo não tem fundamentos para pressioná-las, principalmente depois que concordaram em reduzir suas práticas comerciais como parte de um acordo com as autoridades.

(...) Segundo William Corr, diretor da ong "Tobacco Free Kids", o juiz que preside o caso ainda pode ordenar medidas de proteção que obrigariam a indústria a pagar bilhões para financiar programas de prevenção e educação contra o fumo.

Leia na íntegra em www.tabacozero.net

País perde sem acordo antifumo
Afirmação é do diretor do Instituto do Câncer, José Gomes Temporão, que prevê prejuízos econômicos caso o Brasil não o ratifique
Fonte: O Estado de S. Paulo, 01/02/2005

O Brasil poderá ter prejuízos econômicos se ficar de fora da Convenção para o Controle do Tabaco, assinado em 2003, que aguarda uma ratificação do Senado. O acordo prevê o estabelecimento de um financiamento para que os países possam ajudar seus produtores de fumo a transferir seu plantio para outros produtos. Sem fazer parte do acordo, o Brasil não poderia participar da primeira conferência das partes que debateria a criação desse mecanismo de apoio financeiro. A avaliação é do diretor do Instituto Nacional do Câncer (Inca), José Gomes Temporão.

Leia na íntegra em www.tabacozero.net

Municípios de Goiás se aparelham para atender dependentes de cigarro
Fonte: Agência JB / Globalink – 20/01/2005

O suporte completo para o dependente de cigarros abandonar o vício já resulta em Goiás na capacitação de mais de 200 profissionais das áreas de medicina, enfermagem, psicologia e nutrição, em 70 municípios, para o atendimento a esses pacientes. Este é o resultado apresentado pela Secretaria da Saúde, à portaria publicada pelo Ministério da Saúde, em 31 de maio do ano passado, que inclui no Sistema Único de Saúde, o atendimento para quem quer abandonar o tabagismo.

Leia na íntegra em www.tabacozero.net

IRRESPONSABILIDADE SOCIAL
A coluna da irresponsabilidade social desta semana é um chamado para reflexão sobre o próprio conceito de responsabilidade social. Dê sua opinião sobre as ditas ações de responsabilidade social da indústia do tabaco? Responda a nova enquete no site www.tabacozero.net e mande seu recado para tabacozero@redeh.org.br

Ficha Técnica
Realização: Rede Tabaco Zero
Coordenação: Paula Johns
Secretaria Executiva: Mônica Andreis e Paulo César Corrêa
Edição: Anna Monteiro
Apoio: PATH Canada