nº 21
 
1. EDITORIAL
2. PERFIL
3. RTZ EM AÇÃO
4. CAMPANHA – Por uma Copa do Mundo livre de fumo!
5. NOTÍCIAS
6. Bicicletas mais baratas e cigarros mais caros
7. OPAS lança estudo sobre a economia do tabaco no Brasil
8. Justiça nega ação a ex-fumante
9. Sem fumaça: Desembargador ex-fumante nega ação contra Souza Cruz
10. Garçons teriam direito a um adicional de insalubridade por servir fumantes
11. Agronegócio
12. FETRAF-Brasil denuncia Souza Cruz no Tribunal de Viena
13. Especialistas da Universidade do Sul da Florida afirmam que a nicotina pode comprometer a quimioterapia no tratamento de câncer
14. IRRESPONSABILIDADE SOCIAL
15. Ficha Técnica
 

EDITORIAL
Pode-se afirmar que 2006, o primeiro ano de implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, promete muitas frentes de trabalho e muita ação. A RTZ produziu um relatório comparando o tratado e a legislação de controle do tabagismo no Brasil com recomendações sobre quais os próximos passos na jornada para avançarmos ainda mais nas medidas de controle do tabagismo a nível nacional. Dentre as principais recomendações, vale enfatizar a necessidade do aumento de preços e impostos no Brasil, um dos desafios mais importantes e eficientes para a redução de consumo, assim como a regulamentação e fiscalização da Lei 9.294, sobre ambientes livres de fumo, que em 2006 completa 10 anos e ainda não é cumprida na íntegra. Nesse quesito, o Uruguai já ultrapassou a posição de liderança do Brasil na região e tornou-se o primeiro país livre de fumo das Américas a partir de 1º de março.

No tema cessação de tabagismo, apresentamos o perfil de Heloísa Caiuby, onde fala sobre sua experiência em tratamento, expectativas e dificuldades dos fumantes que desejam largar o cigarro.

Maio é o mês do Dia Mundial Sem Tabaco e divulgamos algumas atividades que vão acontecer para comemorar a data, e mais notícias sempre fresquinhas e atualizadas podem ser lidas em nossa página: www.tabacozero.net.

Boa leitura!

PERFIL
A edição deste mês apresenta o perfil de Heloísa Caiuby Coutinho, sócia da clínica Quit for Life, especializada em tratamentos de cessação do fumo, entre outras dependências químicas e questões de comportamento. Heloísa é psicóloga clínica que, após um longo período, decidiu ampliar o leque de interesses para a área de Recursos Humanos.

Ela foi fumante e, quando parou, teve a oportunidade de conhecer o trabalho feito no Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido. De volta ao Brasil, manteve o consultório como psicoterapeuta e montou a Quit for Life para trabalhar com tabagistas. Atualmente, a clínica tem um trabalho bastante minucioso quanto ao tabagismo no ambiente de trabalho, os custos para as empresas, o impacto no moral dos funcionários não-fumantes, etc. Há uma série de estudos e pesquisas que demonstram problemas de absenteísmo, custo de manutenção do espaço físico, perda de produtividade e danos causados aos fumantes involuntários, além dos problemas com a lei. As restrições ao fumo são cada vez maiores e, infelizmente, muitas vezes se traduzem por discriminação, em atitudes como o problema é dele, fuma quem quer, ela explica.

No entanto, a psicoterapeuta esclarece que o tabagismo é, além de um problema de saúde, um problema social: Acredito que deva ser encarado sob esse enfoque. Há algumas poucas empresas - comprometidas com o bem estar e a saúde de seus funcionários - que investem em qualidade de vida e adotam programas de prevenção e tratamento do tabagismo, mas ainda de uma forma bastante incipiente. Segundo Heloísa, algumas estabelecem programas internos, com muito boa vontade, mas graus variáveis de eficácia. A maioria, todavia, se limita a estabelecer fumódromos e a evitar fumantes no momento da contratação. Definitivamente a busca por trabalhadores não fumantes é uma tendência cada vez mais firme, mas que ainda é feita de uma forma disfarçada para não configurar discriminação, que é ilegal, explica, para completar em seguida: Mas sou otimista, acho que as coisas estão mudando pouco a pouco.
Sobre parar de fumar, Heloísa defende a teoria de que se deve mostrar ao fumante que não existe pílula mágica ou solução milagrosa: Parar de fumar não é um acontecimento, mas sim um processo, que exige motivação, determinação, conhecimento, resistência às frustrações e ajuda profissional.

A dificuldade maior é que o fumante precisa estar consciente de que a nicotina é uma droga poderosa que causa forte dependência, saber como ela age no organismo, como é o mecanismo de recompensa/alívio que ela proporciona, enfim, precisa conhecer o inimigo: Muitos chegam à clínica cheios de expectativas irreais, pedindo garantias e perguntando o que eu vou fazer para que eles parem de fumar. A maior dificuldade do fumante é o auto-engano, isto é, supor que é só tomar um remedinho, borrifar um spray qualquer e pronto, na manhã seguinte acorda não-fumante, diz. De acordo com ela, a partir do momento em que se derrubam os mitos e o fumante assume a responsabilidade por seu parar de fumar é que se pode dizer que o trabalho realmente começou, com os terapeutas atuando como co-participantes de um processo. É o que em linguagem empresarial chamamos de empowerment.

Para que o ex-fumante não volte à dependência, o importante é passar da fase de euforia, em que se sente todo-poderoso, pois isso não dura para sempre. Neste ponto, começa o segundo momento mais delicado de todo o processo, como a psicoterapeuta explica: Nosso trabalho enfoca os benefícios que a pessoa alcança por ser não-fumante, buscamos alternativas saudáveis e realistas no estilo de vida e, principalmente, trabalhamos novas formas de se relacionar com o mundo e consigo mesmo. No seu entender, é fundamental alertá-lo contra as armadilhas do gênero unzinho só não faz mal. A psicóloga alerta que é importante deixar claro que o universo não fica maravilhoso porque a pessoa deixou de fumar, pois os problemas da vida, o trânsito e o stress continuam existindo: O que é trabalhado são novas formas de lidar com isso, uma nova prática de vida em que o cigarro não tem mais lugar. É importante o ex-fumante saber que terá, sim, muitas vezes vontade de fumar, que possivelmente ganhará algum peso temporariamente e que o papel de herói tem prazo de validade. Mas que tudo isso é superável e que estamos disponíveis para ajudá-lo nos eventuais momentos difíceis, esclarece.

Heloísa alerta sobre o potencial de dependência da nicotina em relação a outras drogas, como o comprovado através da Pesquisa Nacional Domiciliar sobe o uso de Drogas nos EUA, de 2001. Este estudo mostrou que o potencial de adição da nicotina é de 80%, ou seja, oito em cada dez pessoas que experimentam a nicotina se viciam, contra 22% no caso da cocaína e 6%, do álcool. Segundo a pesquisa, não existe o fumante ocasional, como pode haver o que toma sua cervejinha ou seu whisky eventual durante 40 anos e nunca será um alcoólatra.

Atuar no controle do tabagismo, no entender de Heloísa, é um campo em que, quanto mais você faz, mais aparece para fazer: Parafraseando o que eu mesma disse, o universo não vai ficar maravilhoso porque você parou de fumar, mas com certeza muitas vidas serão mais longas e saudáveis e o ar ficará um tanto mais respirável. É o que me motiva e o que me gratifica, conclui.

RTZ EM AÇÃO
Relatório: A RTZ, em parceria enviou à Comissão Nacional para Implementação da Convenção Quadro para o Controle do Tabagismo – Conicq, em 24 de abril, um relatório da sociedade civil sobre os avanços da legislação brasileira na área de controle e o que ainda falta fazer. O objetivo foi comparar as medidas previstas na CQCT com a legislação nacional e tecer recomendações sobre as regras que ainda devem ser adotadas pelo Brasil de forma a cumprir com o objetivo da Convenção e de seus protocolos de proteger as gerações presentes e futuras das devastadoras conseqüências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas geradas pelo consumo e pela exposição à fumaça do tabaco.


Prêmio Luther L. Terry para FCA: A Framework Convention Alliance, da qual a RTZ faz parte, recebeu o prêmio Luther L. Terry na categoria Outstanding Organization, por suas atividades de controle do tabagismo. Este prêmio é dado a cada três anos e reconhece o trabalho desempenhado por cada membro da aliança tanto nos encontros da Convenção Quadro, em Genebra, quanto em cada país, na implementação do tratado.

Desta forma, por ser a representante brasileira junto à FCA, a RTZ se sente honrada pelo reconhecimento e, da mesma maneira, agradece a todos os seus membros pelas diferentes colaborações que têm recebido.

Fala Sério: Este é o nome do espaço para tratar os assuntos relacionados ao tabagismo, no site desenvolvido pela prefeitura do Rio de Janeiro, destinado ao público jovem. A edição atual traz entrevista com o pneumologista Alexandre Milagres. O endereço da página é http://www.rio.rj.gov.br/jovem

VISA DF: A Vigilância Sanitária de Brasília informa que ganhou a ação que um fumante, promotor aposentado, havia apresentado contra a VISA, para que pudesse fumar em público. A Justiça determinou que o promotor aposentado cumpra a lei que proíbe fumar em locais fechados.

2° Congresso Latino Americano de Câncer de Pulmão: A Presidente Executiva do LALCa 2006 (26-29 de abril), Dra. Nise Yamaguchi, inseriu na programação científica do Congresso um Fórum dedicado a prevenção e políticas públicas em controle do tabagismo. Sabe-se que o cigarro é o responsável por 85% das 1,2 milhões de mortes anuais provocadas pelo câncer de pulmão. A coordenadora da RTZ, Paula Johns, fez uma palestra sobre mobilização social e ativismo na América Latina.


Cardiologistas orientam gratuitamente pela Internet: Em 25 de maio, quinta-feira, das 15 às 17 horas, e nos dias 26 e 27, das 10 às 12 horas, através do site www.socesp.org.br, uma equipe de cardiologistas estará à disposição da população brasileira para orientar e tirar dúvidas sobre prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças do coração. Este serviço gratuito é oferecido pelo XXVII Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, que acontecerá nos mesmos dias, em Campos do Jordão (SP).

Cessação a partir de princípios do Judaísmo: O brasileiro Abraham Bohadana, pneumologista residente em Nancy, na França, ex-fumante, é autor de dezenas de artigos científicos e de cincos livros, incluindo dois sobre tabagismo. Bohadana recém publicou um livro para auxiliar pessoas que desejam parar de fumar embasado na religiosidade e ensinamentos do judaísmo. O livro aborda os altos e baixos de um casal e o faz utilizando-se de uma boa dose de humor. O original é em inglês, mas o autor pode ser contatado em português.

Mais informações:
http://jestonline.com/index.php

NAPACAN na Carta Capital: A Dra. Nise Yamaguchi, oncologista e presidente da ONG Núcleo de Apoio ao Paciente com câncer, deu entrevista para a Carta Capital, onde aborda o tema prevenção e as ações de apoio aos pacientes com câncer. Leia entrevista da íntegra
www.tabacozero.net

Recife adota ambientes livres de fumo: No Dia 31 de Maio, após um trabalho de capacitação e conscientização de mais de um ano, o prefeito de Recife assinará uma portaria determinando que todos os órgãos municipais, da administração direta e indireta, serão Ambientes Livre do Fumo.

30 de maio em São Paulo: Fórum anti-tabagismo em comemoração ao Dia Mundial Sem Tabaco, veja o local e a programação em nossa página web na próxima semana.

CAMPANHA – Por uma Copa do Mundo livre de fumo!
Continua acontecendo a campanha global para que a Alemanha cumpra com o acordo firmado entre a FIFA e a OMS em 2002, onde consta que ambas as entidades concordam que tabaco e esportes não se misturam e que qualquer forma de tabaco deve ser banida dos eventos futebolísticos associados a FIFA (...). Em 2002, a Copa no Japão e na Coréia do Sul foi livre de fumo. Este ano, na Alemanha, apesar do acordo, será permitido fumar nos estádios.

Falta um mês para a o início da Copa 2006. Estrelas do futebol na Alemanha, o jogador alemão Gerald Asamoah e o dinamarquês Ebbe Sand, embaixadores da Campanha, garantem que há tempo hábil para que a FIFA declare a Copa 2006 livre de fumo. Clips com os jogadores e outras informações podem ser acessados na página da campanha www.globalsmokefreepartnership.org Participe! acesse a página da campanha e envie um cartão postal.

NOTÍCIAS
Mundo de Marlboro faz 2.383.178 vítimas só nos Estados Unidos
Fonte: RTZ com agências


A Philip Morris promoveu, no final do ano passado, uma grande festa, somente para convidados, em 49 cidades dos EUA, celebrando o aniversário de 50 anos do Marlboro, uma das marcas mais vendidas e conhecidas em todo o mundo, e que nos EUA detém 40% do mercado.

Para aproveitar a ocasião, um grupo de pesquisadores dos EUA resolveu estimar quantas pessoas morreram, nos EUA, por fazerem parte do Mundo de Marlboro. Os pesquisadores concluíram que o Marlboro é o produto de consumo mais letal que já foi produzido na história da humanidade. Analisam o episódio lembrando que aniversários trazem consigo a reflexão sobre coisas boas e ruins que aconteceram, assim como perspectivas futuras e sugerem que a Philip Morris, ao invés de patrocinar um mega evento de comemoração do sucesso do Homem de Marlboro, deveria faça um velório em homenagem às 2.383.178 que morreram e enterrem de vez o homem de Marlboro.

Os resultados do estudo foram publicados na Revista Tobacco Control em abril de 2006. O artigo e imagens das publicidades de Marlboro desde os anos 50 podem ser encontrados no endereço: http://roswell.tobaccodocuments.org/downloads/50%20years%20of%20marlboro%20compiled%2020051121.pdf.

Bicicletas mais baratas e cigarros mais caros
Fonte: RTZ com Agências

A Aliança de ONGs pelo controle do tabaco em Bangladesh (BATA) lançou uma campanha criativa que aborda dois problemas de uma só vez. Pedem que o governo aumente os preços dos cigarros e diminua os preços das bicicletas. Bangladesh é um país com pequena área geográfica e uma população do tamanho do Brasil. A medida poderia não somente diminuir o consumo de tabaco no país como também melhorar a renda e a saúde da população. Os organizadores da campanha demonstram que há anos os preços dos cigarros se mantém os mesmos enquanto o preço das bicicletas aumentam ano após ano. E perguntam o que deve ser priorizado: o acesso a um meio de transporte saudável, gratuito e não poluente ou o acesso a uma droga que provoca danos a saúde da população e da economia do país?

Vale lembrar que Bangladesh é o país que desenvolveu estudos onde se concluiu que uma parte significativa da renda das famílias mais pobres é desviada da alimentação e educação para o consumo de cigarros, e que caso as pessoas não fumassem, haveria menos dez milhões de subnutridos no país. Em outros países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, o tabagismo também gera mais pobreza e desnutrição e afeta as populações mais carentes de forma desproporcional.

O imposto sobre bicicletas é de 69,5% e sobre cigarros varia entre 35-65%, mas no entanto o preço dos cigarros se mantém inalterado há anos. A campanha pede 100% de aumento nos impostos sobre tabaco e redução significativa dos impostos sobre bicicletas.

Para mais informações: www.bata.globalink.org.

OPAS lança estudo sobre a economia do tabaco no Brasil
A OPAS/OMS acaba de lançar cinco estudos nacionais sobre a economia do controle do tabaco (Argentina, Bolivia, Brasil, Chile e Uruguai). Os estudos foram publicados em espanhol nos países de língua espanhola e em português para o Brasil.

Os estudos estão disponíveis na página da OPAS.

O estudo sobre o Brasil também está disponível na seção
artigos da página da RTZ.

Justiça nega ação a ex-fumante
Fonte: RTZ e agências de notícia

A 35ª Vara Cível de São Paulo negou ação indenizatória a Raimunda Cantuária Ribeiro e seus filhos por causa da morte de seu marido, Aldo Ribeiro, de infarto relacionado ao fumo. Segundo a demandante, a propaganda veiculada pela Souza Cruz, fabricante dos cigarros fumados por Aldo, seria enganosa, ao não informar aos seus consumidores os malefícios causados à saúde em razão do tabagismo. No entanto, a Justiça paulista julgou improcedentes os pedidos formulados pelos autores, entendendo que inexiste defeito no produto, além da licitude da atividade desenvolvida pela Souza Cruz que afastaria qualquer obrigação de indenizar em decorrência do uso de seu produto, afirmando que condenar a ré pelos danos causados aos fumantes equivaleria a segregar a própria atividade, a qual é permitida por lei. Em outras palavras, haveria violação ao ordenamento jurídico, inclusive no plano constitucional.

São Paulo é o estado com o maior número de ações no país (104) e decisões (89 favoráveis à indústria e 5 desfavoráveis ainda pendentes de recurso). Por meio de sua assessoria de imprensa, a Souza Cruz informou que já foram ajuizadas 462 ações dessa natureza contra a empresa, tendo sido proferidas 245 decisões favoráveis e apenas 8 desfavoráveis, que estão pendentes de recurso. As 141 decisões definitivas foram favoráveis aos argumentos de defesa da Companhia.

Sem fumaça: Desembargador ex-fumante nega ação contra Souza Cruz
Fonte: Consultor Jurídico, 19/04/2006

Em que pese ter fumado por cerca de 38 anos e já ter sido surpreendido por um infarto neste período, o desembargador Mario dos Santos Paulo recusou-se a condenar a Souza Cruz, na semana passada, ao julgar pedido de indenização impetrado por Pedro de Alcântara Barboza. Por unanimidade, o processo foi arquivado 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
O relator lembrou em seu voto como é difícil obter testemunhos em casos do gênero. Não há prova de que nesses 52 anos o autor tenha utilizado só produtos fabricados pela ré, assinalou Mário Paulo, invocando sua própria situação. Não passei mal do coração apenas em função do tabagismo. Eu era portador de outros fatores de risco, como a vida sedentária e diabetes. Além disso, trata-se de vício que pode ser vencido com força de vontade.
Pedro Barboza não conseguiu os 80 salários mínimos de indenização por danos morais e materiais que pleiteava. Muito pelo contrário. Foi condenado a pagar custas e honorários advocatícios arbitrados em R$ 2 mil, com base no Artigo 12 da Lei 1.060/50. Na primeira instância o autor já havia sido derrotado.

Passado não condena

No que parece ser uma tendência, o TJ fluminense vem recusando cada vez mais reparar um viciado ou antigo fumante. Juízes e desembargadores vêm entendendo que uma pessoa não adquire tal hábito influenciado apenas por uma propaganda extensiva e que há vários anos já se fala publicamente sobre os malefícios do fumo.
(...)
Decisões favoráveis às empresas do setor, aliás, vem se multiplicando não só em território fluminense, mas também em diversos outros tribunais espalhados pelo país, que têm reconhecido a inexistência de defeito do produto; a autorização legislativa para a atividade empresarial correspondente ao tabaco; o atendimento às normas sobre divulgação do cigarro (com os alertas negativos) e, finalmente, a culpa exclusiva do fumante, por manter-se nessa condição, apesar dos insistentes e permanentes apelos em contrário.

Comentário RTZ:
Nessas notícias fica muito claro que as decisões judiciais sobre os processos contra a indústria do tabaco estão sendo pautadas pela indústria do tabaco. Vale salientar o parágrafo em que o desembargador inclusive defende a empresa dizendo que se antecipou na informação sobre os riscos ao consumidor. Obviamente esses desembargadores não conhecem, ou não enxergam, o lado da história que nós conhecemos, de propaganda enganosa, nível de droga, adicção, etc. etc.

Ao que tudo indica, é urgente elaborar uma campanha de informação que atinja o poder judiciário. Os processos que estão sendo julgados se baseiam nas informações que existem hoje e não consideram que os processos que estão sendo julgados vêm de um período onde não havia informação e onde a propaganda era completamente liberada.

Garçons teriam direito a um adicional de insalubridade por servir fumantes
Fonte: Tribuna do Brasil

A polêmica sobre a lei federal 9.294/96 – que proíbe o fumo em ambientes fechados privados ou públicos – pode voltar. Agora, o assunto gira em torno da saúde do trabalhador. A Vigilância Sanitária está tomando medidas em relação à proteção dos empregados. Estamos fazendo um estudo da legislação trabalhista para proteger esses funcionários. Além disso, os garçons que trabalham expostos ao fumo têm direito a requerer o adicional de insalubridade, explica a chefe do núcleo de inspeção da Vigilância Sanitária de Brasília, Mônica Mulser Parada.

No ano passado, o Sindicato de Bares, Hotéis, Restaurantes e Similares do Distrito Federal (Sindhobar) entrou com um mandado de segurança e ganhou a ação que permite aos estabelecimentos manter uma área para fumantes, desde que separada dos não-fumantes por qualquer meio eficiente. Além disso, o mandado ainda permite que dentro do fumódromo tenha atividades de restaurante, por exemplo. Entretanto, segundo Mônica, há presença de trabalhadores nesse ambiente. O funcionário é exposto à fumaça e sofre 20 vezes mais intoxicação do que o próprio fumante, que a aspira pelo filtro do cigarro, conta.

Mônica acrescenta que o empregado pode pedir um laudo do estabelecimento à Delegacia do Trabalhador. O adicional de insalubridade varia de 10% a 30% de acordo com a avaliação do grau de risco, enfatiza. Além disso, a chefe do núcleo de inspeção acrescenta que a fumaça produzida pelos fumantes contamina os alimentos expostos no ambiente com as 4.720 substâncias tóxicas existentes no cigarro.
(...)

Agronegócio
Afubra e Fetag constataram contradições entre os critérios adotados para avaliar o tabaco entregue nas indústrias, que provocariam prejuízos aos produtores
Fonte: Gazeta do Sul, 19/04/06
O terceiro acompanhamento da venda do fumo realizado em abril nas fumageiras de Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires serviu para confirmar as queixas dos produtores quanto ao rigor na classificação do produto. A conclusão é dos dirigentes da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Federação da Agricultura de Santa Catarina (Faesc) e Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag).
A divergência dos critérios, segundo o diretor secretário da Afubra, Romeu Schneider, estaria fazendo com que os fumicultores tivessem seus rendimentos reduzidos. Ele ressaltou que as diferenças de análise chegaram a ser observadas em esteiras da mesma empresa. (...) Os produtores nos procuram a todo momento para ressaltar sua insatisfação, diz o vice-presidente da Fetag, Sérgio de Miranda. Conforme ele, a aplicação de critérios diferenciados faz com que o retorno do tabaco seja prejudicado. A opinião é compartilhada pelo presidente da Afubra, Marcílio Drescher. Se olharmos para safras passadas, é visível a diferenciação, compara. Além da conferência junto às esteiras, os dirigentes buscaram discutir os problemas com representantes das empresas. Relatamos a preocupação dos produtores que, diante do alto custo de produção, temem pelo endividamento em face da remuneração menor, explica Drescher.
(...)
Fetag diz que é reflexo da Convenção-Quadro
Fonte: Gazeta do Sul, 25/04/06

Para o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul, Ezídio Pinheiro, o cenário que começa a ser observado no setor fumageiro é reflexo da ratificação da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, no final do ano passado. (...)
Embora tentem dizer que não seriam causados prejuízos imediatos, observamos que os problemas começaram a acontecer, disse. Dentre os argumentos estão as restrições que passam a ser apresentadas por países importadores, que começam a reduzir a compra de tabaco do Brasil. (...)

Comentário RTZ: Outras manchetes da edição de 25/04 Crise no fumo prejudica retorno de ICMS, Apoio político para evitar reflexos na economia. Mais uma vez, estamos diante de supostas análises econômicas e setoriais que se utilizam de oportunismo político para desinformar a população da região fumageira. Associar a crise do fumo à ratificação da Convenção-Quadro não tem consistência alguma, e o pior é que muitas pessoas na região acabam aceitando essa idéia. A indústria do tabaco alega que o fumo é a melhor (e única) possibilidade de renda na agricultura familiar. Com o aumento do custo de produção, a queda do dólar e a conseqüente queda da renda do produtor, nada melhor do que colocar a responsabilidade na Convenção-Quadro e isentar as práticas da indústria. No âmbito do setor fumo o destaque é para a denúncia da Fetraf-Brasil. Veja notícia abaixo.

FETRAF-Brasil denuncia Souza Cruz no Tribunal de Viena
O dirigente sindical da Fetraf-Brasil denunciará a British American Tobacco, controladora da Souza Cruz e as demais multinacionais do setor fumo, por praticar abuso corporativo no Tribubal de Viena, que acontece entre os dias 12 a 15 de maio de 2006.

Veja o documento enviado para o Tribunal de Viena CLIQUE AQUI.

Especialistas da Universidade do Sul da Florida afirmam que a nicotina pode comprometer a quimioterapia no tratamento de câncer
Fonte: BBC, 06/04/06
De acordo com pesquisadores, a nicotina – o princípio ativo do tabaco – pode proteger as células cancerígenas da ação da quimioterapia. O estudo foi apresentado à Associação Americana para Pesquisa do Câncer, em Washington, e será destaque na próxima edição on-line da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Os testes foram feitos em células no laboratório, mas estudiosos afirmam que o mesmo efeito acontece no organismo de fumantes e ex-fumantes que fazem uso de chicletes ou adesivos de nicotina.
Durante os experimentos, foi constatado que as drogas gemcitabina, cisplatina e paclitaxel — normalmente usadas para tratar o câncer de pulmão — não agiram com a mesma eficácia quando havia presença de nicotina nas células doentes. Nossa descoberta explica porque pacientes fumantes têm uma perspectiva de cura pior do que aqueles que desistem do cigarro antes do tratamento, disse um dos pesquisadores à agência de notícias Associated Press.
(...)

IRRESPONSABILIDADE SOCIAL
Fonte: http://www.folhablu.com.br/ler.noticia.asp?noticia=13970&menu=30

Souza Cruz e Empresa Junior Puc-Rio lançam portal universitário

Quem pratica o diálogo, pratica a democracia. A máxima sintetiza a filosofia do portal Diálogos Universitários (www.dialogosuniversitarios.com.br) que entrou no ar no dia 24/04/06. A iniciativa da Souza Cruz e da Empresa Junior Puc-Rio visa criar um espaço para que a juventude mostre sua cara e coloque na rede tudo o que produz, pensa e vivencia.

O portal Diálogos Universitários é um lugar feito por jovens e para jovens. Além das informações sobre o mundo acadêmico, instituições de ensino superior de todo o Brasil e oportunidades de estágios, nele é possível encontrar reportagens sobre os mais variados assuntos: educação, política, cultura, saúde e muito mais. Tudo com foco na vida universitária e nos interesses dos jovens. Os mais de 25 milhões de universitários de todo o País estão convidados a participar. A proposta do Diálogos Universitários é que o estudante envie textos, artigos, críticas, reportagens e divulgue seus eventos. Tudo pode ser publicado.

O diferencial do portal em relação aos poucos sites existentes com o mesmo perfil está, justamente, na participação do jovem para a construção de um espaço dinâmico e inteligente. O Diálogos Universitários propõe a democratização da internet e a interação direta com os usuários. Além de ser desenhado, estruturado e mantido por universitários, o diálogo é a palavra de ordem e deve ser constante.

Em sua barra de menu horizontal, o portal oferece informações detalhadas sobre o Projeto Diálogos Universitários, realizado em parceria com as empresas juniores das universidades e que pretende complementar a formação curricular dos universitários através de palestras de personalidades escolhidas pelos próprios estudantes.

No portal Diálogos Universitários, estudantes de todo o País podem acompanhar as notícias sobre os diálogos pelo Brasil, e ainda têm um Canal Souza Cruz, com informações sobre a companhia e dicas de seus profissionais. Um menu vertical oferece ainda uma lista completa de serviços úteis. Notícias gerais, informações sobre instituições de ensino superior (já são 434 instituições e 143 cursos cadastrados), oportunidades de estágios, de intercâmbios, de concursos, de trainees e de vagas de emprego.

Há ainda um espaço para falar de carreira com detalhamento sobre a atuação das mais diferentes profissões, dicas de elaboração de currículos e uma parceria com o Jornal do Commercio, com a publicação do conteúdo da seção Carreira do veículo. O internauta contará ainda com seções para pesquisa e informação: biblioteca, responsabilidade social e movimento estudantil. Não poderia faltar um espaço para a divulgação de eventos universitários e, por último, reforçando o conceito de diálogo permanente, a seção Fórum, que levanta, a cada 15 dias, o debate de temas que circundam a vida universitária.

Comentário RTZ: Já que a Souza Cruz não pode mais investir milhões em publicidade direta voltada para o público jovem, investe no seu público alvo favorito por outros canais. Afinal, nos tempos atuais, precisa não só de cativar novos consumidores, com a reputação do seu produto em baixa precisa garantir seu direito de existir como empresa.

Diálogos Universitários como sinônimo de democracia, sendo bancados por empresa cujo negócio principal é viciar pessoas para poder se manter no mercado... caro leitor, volte à notícia e leia nas entrelinhas, pois alguma coisa literalmente não cheira bem.

Para a indústria, qualquer tipo de associação com universidades a ajuda a proteger seus interesses. A publicação Doações da Indústria: Aceitar dinheiro da indústria de tabaco ajuda a vender mais cigarros e custa mais vidas, da Coalition Québécoise Pour le Controle du Tabac, traduzido pela RTZ, mostra que, em 1989, a indústria organizou o International Symposium na McGill University, encontro dito científico, no qual alugou espaço no campus da universidade e teve a responsabilidade de selecionar 82 participantes comprometidos com a questão do tabagismo passivo. As conclusões do evento apoiaram a posição da indústria. Oponentes do controle do tabaco continuam a citar este simpósio científico na McGill para sugerir que há uma controvérsia científica sobre os efeitos para a saúde do tabagismo passivo.

Ficha Técnica
Realização: Rede Tabaco Zero
Coordenação: Paula Johns
Secretaria Executiva: Paulo César Corrêa e Mônica Andreis
Edição: Anna Monteiro
Apoio: PATH Canada

A RTZ é uma Aliança de organizações de vários setores da sociedade civil organizada cuja Secretaria Executiva é a REDEH – Rede de Desenvolvimento Humano