nº 37
 
1. Editorial
2. Perfil
3. ACT Em Ação
4. Oportunidades
5. Notícias - Nova lei contra o tabagismo da Cidade do México é um exemplo para a América Latina e o mundo
6. Lula condiciona aumento de verbas para a saúde a nova fonte de financiamento
7. Fabricante do cigarro Marlboro tem queda de 10,8% em lucro trimestral
8. Irresponsabilidade Social
9. Ficha Técnica
 

Editorial
Uma notícia importante este mês veio da Cidade do México, que já é 100% livre de fumo em todos os ambientes fechados. Lamentamos que São Paulo tenha perdido uma bela oportunidade de ser a primeira entre as grandes cidades do mundo em implementar legislação semelhante. Mas nem tudo está perdido. A Vigilância Sanitária do município de São Paulo (COVISA) treinou sua equipe técnica e inseriu no protocolo de inspeção a fiscalização de fumo em ambientes fechados e já começou a fiscalizar e autuar locais que não estão cumprindo a lei. Só podemos comemorar e cumprir nosso papel denunciando os locais que não cumprem a lei, na cidade de São Paulo basta ligar para o 156 da Prefeitura.

Na seção perfil, abordamos um empresário e chef de cozinha que convenceu o sócio, fumante, a ter um ambiente saudável de trabalho e para os freqüentadores. Não perca!

Há tempos criticamos que instituições de ensino se associem à indústria do tabaco, como no caso da série Diálogos Universitários, promovida pela Souza Cruz em parceria com universidades e Empresas Jr, que está em nossa seção Irresponsabilidade Social. Em abril, enviamos uma carta a várias Empresas Jr. do país, alertando-as sobre a questão de se associarem a uma empresa socialmente irresponsável, com objetivos implícitos de induzir o consumo de cigarros, através da manutenção de uma suposta “normalidade” dessa empresa, estimular o vício, causar doenças e mortes. Sugerimos, ainda, que avaliassem seu posicionamento institucional perante esta questão e cogitassem a busca de outros patrocinadores que não trouxessem risco à saúde da população.

Tivemos uma grata surpresa quando recebemos a resposta de uma dessas Empresas Jr, ligada a uma importante universidade pública, cujo nome o diretor pediu para omitirmos. Depois de apoiar algumas edições do programa Diálogos Universitários, a direção repensou a parceria e optou por não mais aceitar patrocínio da Souza Cruz. O diretor fez questão de esclarecer que a decisão não se deveu ao conteúdo das palestras, que sempre foram enriquecedoras, mas pela empresa a qual estava associando sua marca. A Empresa Jr., em sua carta à ACT, reiterou seu repúdio a qualquer forma de comunicação ou incentivo que estimule o uso de tabaco e reafirmou seu interesse para a construção de uma sociedade com uma qualidade de vida melhor.

Para a ACT, ter respostas como essa é o sinal de que estamos no caminho certo, de conscientização da sociedade sobre as estratégias da indústria para aumentar suas vendas, ao custo de muitas vidas.

E aguarde: em maio a ACT estará lançando uma pesquisa nacional, feita pelo Instituto Datafolha, sobre a opinião do brasileiro a respeito de espaços 100% livres de fumo. Pela prévia que vimos, os resultados são animadores.

Boa Leitura!

Perfil
Caco Monteiro – empresário e chef de cozinha
Restaurante em Salvador se destaca por ser um ambiente livre de fumo
Um cardápio variado, boa música e eleito pela revista Veja Salvador como o local onde tem o melhor chope da cidade. Assim é o Doc, um restaurante que alia a cozinha de alta gastronomia à informalidade do casual dinning e onde o cigarro não tem vez. De frente para a porta de entrada uma plaquinha em vermelho avisa: PROIBIDO FUMAR. O que poderia espantar muitos clientes chama a atenção para o comportamento que se percebe no lugar.
São casais de namorados, famílias, e como não podia deixar de ter... a galera da paquera...tem espaço para todos. E mesmo abrigando públicos diferentes, o local vem se destacando na escolha dos clientes que optam pelos restaurantes mais badalados da cidade. Na vizinhança as opções vão desde cozinhas internacionais às de estilo japonês.
Mas essa seleção de concorrentes não assustou os sócios do Doc - Caco Marinho e Gustavo Moreira -, quando resolveram deixar o lugar longe da fumaça do tabaco. Caco conta que a mudança veio depois de três meses de funcionamento. “Ficou claro que não dava para ter um restaurante onde o cigarro estivesse presente. Além de incomodar os clientes não fumantes, também percebi que fazia muito mal à saúde da minha equipe”, diz.
A cena decisiva para essa transformação surgiu quando Caco viu a famosa Poluição Tabagística Ambiental (PTA) circular em volta de uma criança adormecida no colo do pai. “Ali percebi que o cigarro definitivamente não era bem-vindo”, lembra. È bom ressaltar que a PTA prejudica drasticamente a qualidade de vida de todas as pessoas expostas, principalmente aquelas que trabalham nos locais onde é permitido fumar.
Apesar de já ter um nome reconhecido no ramo da gastronomia, Caco precisava convencer o seu sócio Gustavo. E o que parecia difícil, revelou-se uma forte adesão. Gustavo é fumante, mas de imediato topou a idéia. Uma postura que confirma o que foi constatado pela pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pela ACT, em São Paulo. O estudo revelou que entre os próprios fumantes, 85% concordam que os ambientes fechados sejam livres de fumo.
O Doc tem uma área de espera ao ar livre que permite fumar, mas sem atendimento de funcionários. Para os proprietários foi a forma encontrada para tornar a decisão democrática sem esquecer a preocupação com a saúde, principalmente dos garçons. Esse também é um dos focos da campanha lançada pela ACT em vários estados do país para proteger a saúde dos fumantes passivos. A intenção é fazer com que o setor de entretenimento dissemine essas informações para ajudar no entendimento e na conscientização da população.
Caco relata que o número de pessoas que reclamam é muito baixo. Alguns chegam a dizer que não é justo não ter um espaço para o fumante, mas acabam sendo convencidos por respirar um ar mais saudável. Outros, mais insistentes, lembram a existência de exaustores para solucionar o problema da fumaça. Mas de acordo com estudos científicos da Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Condicionamento de Ar (ASHRAE) nenhum equipamento de ventilação é capaz de controlar os riscos impostos pela exposição à fumaça do tabaco.
Caco não se preocupa com as estratégias utilizadas por setores da indústria tabagística para fazê-los mudar de idéia. Segundo ele, a decisão de ter um restaurante sem a fumaça do tabaco foi espontânea, natural e de bom senso. “Não esperei nenhuma obrigatoriedade de lei nem quis seguir uma tendência mundial. Assim como me dedico a reciclar a gordura, a fazer a coleta seletiva, a usar produtos orgânicos, quis também ter uma restaurante com qualidade de atendimento, boa comida e um espaço receptivo e sem cigarro”. Para esse chef, o que importa é saber que o público do Doc está consciente e que apóia essa atitude de freqüentar um ambiente fechado livre de fumo.

ACT Em Ação
• I Seminário de Educação Agroecológica em Comunidades Quilombolas: A Agendha, integrante da ACT, em parceria com várias instituições, promoveu o seminário em 17 e 18 de abril, em Jeremoabo, BA, com comunidades que se identificam como Quilombolas ou que foram indicadas como tal. Como o próprio título do seminário indicou, o objetivo foi a educação agroecológica e a melhoria da eficiência energética e alimentar.

• Palestras sobre ambientes livres de fumo: A ACT tem feito palestras em restaurantes e bares, para sensibilização para cumprimento da lei 9294/96, visando a adoção de ambientes 100% livres de fumo. Os donos dos empreendimentos que se interessarem podem entrar em contato pelo email act@actbr.org.br

• Smokefree Fellowships Program da American Cancer Society: A representante da ACT em Porto Alegre, Marina Seelig, passou uma semana no treinamento realizado em Tucson, Arizona, EUA. O local escolhido se deveu ao fato de o estado ter um forte programa de controle do tabaco, que inicia com campanhas de prevenção, passa por uma rede de cessação – com distribuição de remédios e acompanhamento psicológico – e fecha com a lei de ambientes 100% livres de fumo.

• Audiência pública em Salvador: A representante da ACT, Daniela Guedes, e a jornalista Brenda Medeiros participaram de audiência pública na Câmara Municipal para debater o projeto de lei que proíbe o fumo em ambientes fechados. O evento contou com a presença do presidente da ABRASEL BA, que afirmou que a saúde está acima da discussão sobre perdas econômicas, mas que há de se preservar a liberdade de cada um e a convivência em harmonia. Médicos pneumologista e oncologista reforçaram a questão dos males do fumo passivo e deram exemplos dramáticos de fumantes passivos que contraíram doenças graves.

• ACT visita Brasilcon: A diretora executiva da ACT, Paula Johns, e a coordenadora da área jurídica, Clarissa Menezes Homsi, visitaram o Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor – Brasilcon – em Brasília.

Oportunidades
• Dia Mundial Sem Tabaco: Juventude Livre de Tabaco
Este é o tema escolhido pela Organização Mundial da Saúde para o 31 de maio deste ano. A OMS faz um alerta para legisladores, ONGs, público e para os próprios jovens de todo o mundo, para que os países tenham leis mais fortes e abrangentes para proteger os jovens da epidemia tabagística. Segundo a OMS, há aproximadamente 1.8 bilhão de jovens (com idades entre 10-24 anos) no mundo, sendo que mais de 85% estão em países em desenvolvimento. Entretanto, com os esforços da indústria do tabaco para conquistar usuários novos, com potencial de fumar por longo período, a saúde de uma porcentagem significante da juventude em todo o mundo está seriamente ameaçada. A OMS disponibiliza em seu site material para quem quiser trabalhar a data: http://www.who.int/tobacco/wntd/2008/en/index.html

• 14ª Conferência Mundial Tabaco ou Saúde – Índia
Estão abertas as inscrições para bolsistas para o evento, que será realizado de 8 a 12 de março de 2009, em Mumbai, na Índia. Este ano, a organização da conferência dará bolsas apenas para estudantes. Até 16 de maio, os candidatos podem fazer a inscrição on line, enviando os trabalhos. Esta será a primeira vez, depois de 12 anos, que a conferência será em um país em desenvolvimento, que lida com um espectro amplo de temas relativos ao controle do tabaco, desde a produção ate o consumo.
Mais informações na página: htt://www.14wctoh.org

• Campanha pela alteração da lei 9294/96
A ACT continua recebendo assinaturas relativas à petição de apoio à mudança da Lei 9294/96. Gostaríamos de atingir a meta de 50.000 assinaturas, no mínimo, e para tal renovamos o pedido de participação de vocês. Clique aqui:

• Curso de Capacitação em Abordagem e Tratamento do Fumante
A Coordenação Estadual do Programa de Controle do Tabagismo do Rio Grande do Sul está promovendo este curso, em 5 e 6 de maio, no Ritter Hotel, em Porto Alegre. O objetivo é capacitar coordenadores municipais e profissionais de saúde de nível superior de unidades municipais de saúde do estado. Desde 2003 foram capacitados 959 profissionais de saúde de nível superior de 462 unidades de saúde em 241 municípios do estado. Atualmente o programa conta com 170 unidades de saúde cadastradas para tratamento do fumante em 123 municípios gaúchos.

• 3º Congresso Argentino Tabaco ou Saúde
A Associação Argentina de Tabacologia e a União Anti-Tabáquica Argentina estão organizando, de 2 a 4 de outubro, em Buenos Aires, o 3º Congresso Argentino Tabaco ou Saúde. O evento terá atividades em grupo e vai discutir políticas públicas, tratamento para cessação e novas drogas, entre outros temas.

• Nova Enquete
A ACT está com nova enquete no ar sobre quem deve fiscalizar a lei que proíbe o fumo em ambientes fechados. Participe!

A última, sobre de quanto deveria ser o preço do cigarro, teve o seguinte resultado:
• R$ 2,00 - 13,99%
• R$ 5,00 - 5,59%
• R$ 10,00 - 25,87%
• R$ 15,00 - 54,55%

Notícias - Nova lei contra o tabagismo da Cidade do México é um exemplo para a América Latina e o mundo
Fonte: Revista on line, 18/04/08
A Assembléia Legislativa da Cidade do México aprovou legislação histórica requerendo que todos os locais de trabalho fechados e estabelecimentos públicos, incluindo restaurantes e bares, sejam 100% livres de tabaco. A legislação da Cidade do México é um grande passo que foi dado para proteger a saúde dos 15 milhões de residentes e trabalhadores da cidade e dá grande impulso ao movimento de livre tabaco global que cresce rapidamente. Esperamos que a Cidade do México, como uma das maiores cidades do mundo, sirva como um incentivo para medidas contra o tabagismo similares na América Latina e em todo o mundo.
Na América Latina, a Cidade do México se une ao Uruguai, Panamá (nova lei a ser implementada em abril de 2008) e três províncias argentinas que possuem leis abrangentes de livre tabaco. O Brasil deverá considerar tal legislação no final deste ano.
Em todo o mundo, a França, Tailândia, Turquia e 11 Estados alemães já adotaram ou implementaram leis de livre tabaco em 2008. Outros países que já implementaram fortes leis contra o tabagismo incluem: Bermudas, Butão, Islândia, Irlanda, Itália, Lituânia, Nova Zelândia, Noruega, Suécia e o Reino Unido. Onze das 13 províncias canadenses, sete dos oito Estados australianos e 23 dos 50 Estados dos Estados Unidos (juntamente com o Distrito de Columbia) também já adotaram tais leis.
(...) Além da legislação da Cidade do México, o Senado mexicano se uniu à Câmara dos Deputados para aprovar a legislação nacional de controle do tabagismo que estabelecerá restrições ao fumo em todo o país, requer avisos maiores sobre a saúde nos produtos relacionados com tabaco e restringe o seu comércio. Esta legislação é um passo importante para o México, mas não são suficientes quando comparadas às fortes medidas necessárias estabelecidas pelos tratados de controle do tabagismo da Organização Mundial de Saúde, Framework Convention on Tobacco Control (Tratado Internacional de Controle do Tabaco), que o México foi o primeiro país da América Latina a ratificar em 2004. (...)

Lula condiciona aumento de verbas para a saúde a nova fonte de financiamento
Fonte: Folha de S. Paulo, 25/04/08
Em reunião com ministros e aliados no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condicionou o aumento de recursos para a saúde -definidos pela emenda 29- a uma nova fonte de financiamento. A Folha apurou que, se não houver essa definição, Lula deverá vetar a medida.
O aumento de recursos para a área entrou na pauta da reunião do conselho político do governo depois que o Senado aprovou, há duas semanas, um projeto de lei complementar que dá ao setor R$ 5,5 bilhões adicionais ainda neste ano e R$ 23 bilhões até 2010 -a emenda 29. O texto ainda tem que ser aprovado na Câmara.
(...) A solução para o financiamento, segundo aliados que estiveram na reunião pela manhã no Palácio do Planalto, deverá ser a criação de um novo tributo ou a elevação da alíquota de impostos que já existem. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, defendeu aumentar a taxação de cigarros e bebidas. Deputados sugeriram -e o ministro disse que iria estudar- aumentar impostos cobrados de loterias e destinar a fatia adicional à saúde.
A elevação do preço do cigarro já é rechaçada por integrantes da Receita, que afirmam que ela poderá aumentar o contrabando do produto. Entre ministros e aliados do governo há defensores também da criação de um tributo exclusivo, parecido com a CPMF. Temporão e o ministro José Múcio (Relações Institucionais) deverão se reunir na semana que vem com aliados para tentar encontrar uma proposta de consenso. O ministro da Saúde diz que sua pasta precisa de R$ 6 bilhões ainda neste ano -R$ 4 bilhões para implementar o "PAC da Saúde", anunciado no ano passado, e R$ 2 bilhões para manter o aumento de verbas para os Estados do Nordeste.

COMENTÁRIO
Até quando o Exmo. Sr. Presidente vai continuar postergando o aumento de impostos de cigarros? No meio de uma discussão importantíssima sobre recursos para saúde, o governo federal, excluindo o Ministro da Saúde, que aproveita todas as oportunidades para levantar o debate, ainda não teve coragem de tomar uma atitude contundente com relação a aumentar a taxação de cigarros e bebidas. Não seria o mais óbvio? Afinal, o que será que acontece que faz com que aumentar tributos de produtos supérfluos, que causam milhares de mortes e danos à sociedade para gerar recursos para saúde seja tão difícil? A hipótese que salta aos olhos é o poderoso lobby de interesses comercias das indústrias que fabricam esses produtos.

Fabricante do cigarro Marlboro tem queda de 10,8% em lucro trimestral
Fonte: EFE, 24/04/08
A fabricante de cigarros Altria anunciou que seu lucro entre janeiro e março deste ano caiu 10,8%, para US$ 2,454 bilhões (US$ 1,16). No mesmo período de 2007, a empresa, que foi desmembrada da Philip Morris International e completou seu primeiro trimestre como companhia independente, registrou ganhos de US$ 2,750 bilhões (US$ 1,31).
Em comunicado, a Altria também informou que sua receita entre e janeiro e março deste ano subiu 2,8%, para US$ 4,410 bilhões, graças às vendas do cigarro Marlboro, cuja fatia no mercado americano aumentou 0,7%, para 41,5%.
Segundo a companhia, os resultados do primeiro trimestre foram influenciados pelos custos e encargos relacionados ao desmembramento da Philip Morris International, pela reestruturação da companhia, pelo fechamento da sede da Altria em Nova York e pela mudança de sua sede corporativa para Richmond (Virgínia).

Irresponsabilidade Social
DIÁLOGOS UNIVERSITÁRIOS, PATROCÍNIO DE EVENTOS JURÍDICOS E ENTREVISTAS COM AUTORIDADES GOVERNAMENTAIS: FORMAS LAMENTÁVEIS DE SE DIZER SOCIALMENTE RESPONSÁVEL

Fonte: ACT, abril de 2008

A série Diálogos Universitários, promovida pela Souza Cruz em parceria com empresas Jr. de universidades brasileiras, levou o jornalista Caco Barcellos ao Rio de Janeiro, Recife e Brasília, e a ACT esteve em cada uma dessas cidades.

A participação dos estudantes é livre e quem preenche um cadastro ganha uma mochila. As perguntas 6 e 7 do cadastro, no entanto, são as que valem o ingresso: “Você conhecia as ações de Responsabilidade Social da Souza Cruz?” Sim ou Não; e “Como você avalia a imagem da Souza Cruz?” – Muito Positiva – Positiva – Negativa – Muito Negativa. Com as respostas, a empresa avalia sua imagem entre seu público-alvo: jovem, formador de opinião, bom poder aquisitivo e futuras lideranças, como ela mesma o define na abertura do evento. Essa avaliação deve ser um grande balizador de suas ações, pois ela consegue um resultado de pesquisa de opinião qualitativa.

No Rio, o Diálogos aconteceu no ginásio da PUC. No palco, uma apresentação em Power Point mostrava o site da empresa, chamando os estudantes a visitá-lo e se cadastrar nas vagas para estágio/emprego. O diretor de Relações Institucionais, José Roberto Cosmo, falou do compromisso da Souza Cruz com responsabilidade social e que através de diálogos se consolida a democracia. Essa é uma frase ouvida e lida em todos os lugares no material promocional da fumageira. Em seguida, um vídeo conta a história de Albino Souza Cruz, fundador, e mostra a evolução da empresa. O que fica na lembrança, quando o vídeo termina, é que “a Souza Cruz respeita a diversidade de opiniões, por isso valoriza os diálogos”.

Apresentam-se no vídeo a diretora do Departamento Jurídico, que mostra que a empresa paga muitos impostos e gera muitos postos de trabalho. Depois, a diretora de Responsabilidade Social, incentivando os diálogos por ser uma empresa que aposta na democracia.

Em seguida, o jornalista Caco Barcellos apresentou sua palestra, falando sobre a cultura da violência, que segundo ele atinge e criminaliza mais pobres, negros, periferia, causando cerca de 40 mil mortes por ano.

No final, os estudantes fazem perguntas. No Rio, não houve nenhuma referente às mortes e doenças causadas pelo fumo, que são bem mais de 40 mil por ano. No Brasil, como se sabe, estima-se em 200 mil.

Já na PUC do Recife, cidade que há dois meses vem passando por uma intensa campanha de conscientização sobre ambientes 100% livres de fumo, o jogo virou um pouco. A primeira pergunta feita pelos estudantes foi sobre esse tema, e a platéia aplaudiu durante alguns minutos. Pego de surpresa, Caco respondeu que não conhecia o assunto profundamente e que, portanto, não se sentia à vontade para responder. O diretor de Relações Institucionais, por sua vez, ficou atônito, pois até então nunca haviam perguntado nada sobre essa questão nas edições passadas do evento.

Uma semana depois, em Brasília, na UnB, uma pergunta parecida, questionando se o jornalista não se sentia mal por aceitar participar de evento patrocinado pela indústria. Caco respondeu que se sentia bem, pois ele próprio havia escolhido o tema e a Souza Cruz não teria passado “nada por baixo do tapete”. Nessa ocasião, Cosmo, o diretor de Relações Institucionais, já havia feito seu dever de casa e explicou: “Primeiro ponto: a Souza Cruz não subestima a capacidade de pessoas bem informadas de escolher. Se vocês acessarem o site da SC verão que ela fabrica cigarros de qualidade, que isso oferece riscos e aqueles que não quiserem nenhum risco não devem fumar. Segundo ponto: Não queremos limpar a nossa imagem, existimos há 105 anos e, como falamos no início desse evento, esses diálogos surgiram a partir de uma demanda da própria sociedade através do nosso ciclo de diálogos corporativos.”

A ACT também esteve no encontro O Direito no Século XXI: Novos Desafios, promovido pelo Instituto de Direito Civil e pelo Centro de Estudos, Pesquisa e Atualização em Direito, e financiado pela Souza Cruz e pela Vale, no Rio de Janeiro. Nos intervalos dos painéis, era apresentado um vídeo institucional da Souza Cruz, inclusive mostrando as marcas dos cigarros, o que é proibido pela legislação. Além disso, vários dos palestrantes convidados são juristas que já deram pareceres favoráveis à Souza Cruz em processos movidos contra ela.

A Souza Cruz também vai patrocinar a XX Conferência Nacional dos Advogados, em novembro.


COMENTÁRIO:
Se a cultura da violência faz 40 mil mortos por ano, no Brasil, como disse Caco Barcellos, o fato é indiscutivelmente terrível, mas é importante lembrar que o tabagismo provoca cinco vezes mais. E outra triste vantagem que a indústria do tabaco tem sobre a cultura da violência é que é muito mais democrática: pobres, ricos, brancos, negros, homens, mulheres, todos são atingidos pelo tabagismo e começaram a fumar numa época em que cigarro era sinônimo de glamour e os riscos, escondidos.
Outras frases ditas no contexto da palestra de Caco sobre a violência também chamaram atenção da ACT: “enganar a sociedade", "a vítima é o culpado", "só os juízes acreditam nisso", "qualquer profissional poderia usar da sua função para impedir que isso ocorra", "esses crimes atingem sempre as pessoas pobres", "a gente tem que contar a história sempre", "conhecer o contexto de cada história", "se a gente tivesse uma outra postura". Todas podem ser aplicadas à história do tabagismo na humanidade e o papel que a indústria do tabaco, advogados, imprensa e qualquer profissional têm e tiveram para perpetuar a maior fraude já cometida contra a saúde pública.
Como já escrito em outras ocasiões, a ACT lamenta profundamente que instituições de ensino e jurídicas aceitem financiamento da indústria para qualquer tipo de evento. Essas instituições acabam por dar legitimidade a ações da indústria do tabaco. Sem perceber, essas instituições não estão se beneficiando somente da venda do tabaco, mas sim ajudando a vender mais cigarros – e por conseqüência causando mais doenças passíveis de prevenção, sofrimento e mortes. No caso de instituições jurídicas, é uma interferência inadmissível, já que a indústria do tabaco é alvo de inúmeros processos de ex-fumantes e suas famílias.

No âmbito governamental, temos visto rotineiramente entrevistas de ministros de Estado e integrantes do governo a jornais internos da Souza Cruz. Invariavelmente, elogiam ações auto-proclamadas de responsabilidade social.

A própria Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco prepara um código de conduta para nortear a relação entre indústria do cigarro e governantes. A idéia é blindar representantes de governos do assédio comum e crescente da indústria para tentar dificultar a adoção das diretrizes firmadas na convenção.

Por meio desse código, autoridades ficam proibidas de ter suas campanhas financiadas pelos fabricantes de cigarros. Não serão permitidos presentes e ofertas de viagens. Também ficariam proibidos convênios ou acordos com as indústrias, assim como ações sob o selo de "responsabilidade social".

É um grande passo para acabar com essa “festa” de eventos patrocinados e entrevistas elogiosas.

Ficha Técnica
Realização: ACTbr - Aliança para o Controle do Tabagismo
Apoio: HealthBridge - CIDA - IUATLD – TFK
Jornalista responsável: Anna Monteiro - anna.monteiro@actbr.org.br