nº 6
 
1. EDITORIAL
2. PERFIL
3. NOTÍCIAS: Começa reunião mundial sobre a Convenção-Quadro
4. Reino Unido: Londrinos Apóiam Proibição de Cigarro
5. Adesf tem Processos em Diversas Cidades contra a Indústria
6. Ash Pede Ação Contra o Fumo Passivo
7. Controle do Tabaco na XI UNCTAD
8. Empresários precisam adaptar locais de acordo com a lei
9. Vontade não Basta
10. Canadá: Legault honrou a promessa de realizar o Grande Prêmio Canadense, mesmo sem a publicidade do tabaco
11. Fumantes morrem dez anos mais cedo, diz megapesquisa
12. IRRESPONSABILIDADE SOCIAL
13. GlobaLink em Português
14. Ficha Técnica
 

EDITORIAL
A Convenção Quadro para o Controle do Tabaco continua esperando o parecer do relator Senador Fernando Bezerra para ser aprovada na CRE -Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, para depois ser encaminhada para votação no Senado. Não há prazo para limite para relatoria, tampouco previsão de data para a aprovação na CRE e votação no Senado. A pauta do Senado esteve trancada em função da votação da MP do salário mínimo e existem várias matérias em espera para tramitação. Hoje, várias comissões cancelaram suas agendas para prestar homenagens ao ex-governador Leonel Brizola, falecido na noite de ontem.

É preciso intensificar nossa atuação e continuar a divulgar e enviar as campanhas online no site www.tabacozero.net. Você também pode escrever sua mensagem direto para o Senador Fernando Bezerra através do site www.senado.gov.br ou ligar para a linha direta do Senado no 0800 61 22 11 para saber como está o processo e deixar o seu recado.

O status da Convenção-Quadro hoje é: 138 assinaturas e 22 ratificações, acompanhe as atualizações no destaque do TabacoZero.Net.

A Rede Tabaco Zero esteve no II Fórum da Sociedade Civil para o Controle do Tabaco e na Mobilização para o Controle do Tabaco - I Fórum Nacional, que comemoraram o Dia Mundial Sem Tabaco, em 31 de maio e 1º de junho, em Brasília. Os participantes do II Fórum da Sociedade Civil se reuniram em grupos de trabalho e criaram uma carta, com algumas recomendações, que foi entregue ao Presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, em solenidade no Dia 1º de junho. Também foi aprovada durante o Fórum, uma Moção de Apoio ao Congresso Nacional para Ratificação da Convenção Quadro e a implementação de suas medidas.

O Projeto Esperança Cooesperança foi premiado pela OMS pelo seu belíssimo trabalho de desenvolvimento de alternativas ao plantio do tabaco. Na próxima edição do boletim estaremos divulgando justamente o perfil da Irmã Lourdes Dill, uma das pioneiras nesta empreitada.

No I Fórum Nacional, representantes de instituições do Estado e da sociedade civil, em nome do controle do tabaco, se comprometeram a promover atualização permanente dos dispositivos legais específicos sobre o controle do tabaco; implementar a aplicação da legislação existente; buscar parcerias tanto na sociedade civil quanto em órgãos governamentais; dar instrumentos aos PROCONs para que contribuam para o controle do tabagismo, entre outros.

PERFIL
O perfil desta edição é de Maria da Conceição Baía, a Concita, socióloga que integra o Projeto Saúde & Alegria, PSA, na Amazônia. Trata-se de uma ong que atua na Amazônia desde 1987, em comunidades extrativistas dos rios Amazonas, Tapajós e Arapiuns, localizadas na zona rural dos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro - oeste do Estado do Pará.
O PSA nasceu de uma experiência prática do médico Eugenio Scannavino Netto e da arte-educadora Márcia Silveira Gama com comunidades ribeirinhas do município de Santarém, contratados, em 1984, pela prefeitura para realizar assistência em saúde junto às áreas rurais. Pela demanda encontrada, de caráter básico e primário, além do atendimento médico, passaram a incorporar ações de prevenção, treinando voluntários locais e organizando gincanas educativas que pudessem, entre outras coisas, melhorar as condições de higiene e reduzir os altos índices de mortalidade infantil e desnutrição. Depois de um ano de trabalho bem sucedido, as comunidades encontravam-se mobilizadas e os primeiros resultados de melhoria da saúde eram visíveis. No entanto, com o fim da gestão municipal, as ações tiveram que ser interrompidas. Para dar continuidade ao movimento desencadeado, foi fundado, em 1985, o CEAPS - Centro de Estudos Avançados de Promoção Social e Ambiental - permitindo a institucionalização da proposta e oficialização de convênios de cooperação.
A partir de então, foram delineadas as linhas gerais de um planejamento estratégico, baseado em etapas seqüenciais e complementares, com o intuito de consolidar gradualmente processos de desenvolvimento comunitário integrado, geridos pela própria população, que pudessem garantir benefícios práticos e continuados às comunidades e, ao mesmo tempo, contribuir de modo demonstrativo no aperfeiçoamento das políticas públicas para a Amazônia. Surge aí o Projeto Saúde & Alegria.
“Atualmente, o projeto conta com uma equipe interdisciplinar de médicos, enfermeiros, engenheiros florestais, agrônomos, comunicadores, artistas e educadores que viajam regularmente para as comunidades - distantes entre duas e vinte horas de barco do perímetro urbano de Santarém”, conta. Durante as visitas, a equipe promove ações de desenvolvimento comunitário global e sustentado a partir de programas integrados de organização comunitária; saúde; produção e manejo agroflorestal; geração de renda; educação, arte e cultura; gênero; infância e juventude; comunicação popular e pesquisa participativa. A área de atuação é de 143 comunidades - sobretudo as atividades de saúde - perfazendo uma cobertura aproximada de 29 mil pessoas.
O PSA aborda a questão do tabagismo por meio de oficinas de capacitação aos agentes de saúde comunitária - ACS Técnicos e auxiliares de enfermagem e parteiras tradicionais. “Falamos desde a questão da produção, passando pelos efeitos do cigarro no corpo humano, enfatizando a gravidez e o tabagismo entre as mulheres, família e conseqüências para as crianças, e o tratamento para a doença. O trabalho busca sensibilizar esses agentes de saúde de forma a tornarem-se replicadores das informações nas longínquas comunidades ribeirinhas dos rios Amazonas, Tapajós e Arapiuns”, explica Concita. O tratamento do fumante, com remédios, é uma reivindicação atual: “Não encontramos resistência, mas sentimos a necessidade de efetivação do tratamento, com uso de medicamento, chiclete ou adesivo para completar a eficácia da ação”, diz.
Quando não está envolvida no dia a dia do PSA, Concita gosta de ler um bom livro, namorar, viajar, ir ao cinema e teatro, estar com os amigos, as filhas Marina e Mariana e com a neta, Maria Eduarda, que moram em Belém. Apesar de viver em contato direto com a natureza, em Santarém, no coração da Amazônia, Concita sonha em morar em um lugar paradisíaco, sendo dona de uma pousada. “Atualmente vivo em Santarém, no Oeste do Pará, bem no meio da Amazônia, a vida aqui é simples e bem despojada diferente das grandes cidades, mas tem um tanto de coisas boas que eu gosto: baixo índice de violência, um trânsito tranqüilo, lugar para estacionar, peixe farto e fresquinho, frutas em abundância, ar puro, pôr de sol na beira do rio Tapajós, vendo o encontro das águas do rio Amazonas com o Tapajós, passeio de barco ou canoa visitando os belos lugares e praias dos rios da Amazônia”. A RTZ conclui que para o sonho estar completo só falta ter a pousada...

NOTÍCIAS: Começa reunião mundial sobre a Convenção-Quadro
Começou ontem em Genebra a Reunião do Grupo de Trabalho Intergovernamental da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) que acontece entre os dias 21 e 26 de junho. Esta é a segunda fase do processo de negociação da CQCT. A reunião foi convocada pela OMS para definir os procedimentos das Conferências das Partes (COPs), incluindo as regras de votação, a participação da sociedade civil, a designação de um secretariado permanente, elaboração de orçamento tentativo, regras de financiamento, entre outros temas críticos para as negociações que se seguirão nas Conferências das Partes. Esta reunião é aberta aos países que tenham ou não a intenção de assinar e ratificar a CQCT. A última palavra sobre os procedimentos acordados nesse primeiro momento é da COP. Para mais informações acesse a página da FCA, Aliança de ONGs da Convenção Quadro.

Reino Unido: Londrinos Apóiam Proibição de Cigarro
Fonte: Evening Standard, 10/06/2004

Uma votação realizada em Londres revelou que a população é a favor de medidas restritivas ao tabaco. A pesquisa da YouGov mostrou que até mesmo os fumantes apóiam novas leis para proibir o hábito de fumar em restaurantes e ambientes de trabalho.

Somente a restrição aos pubs não é aceita pelos fumantes. A votação chegou no momento de pressão da proibição de fumar em lugares públicos e das taxas crescentes de doenças relacionadas ao tabaco. Os ministros estão sob a pressão intensa da comunidade médica, mas temem que essa medida repercuta nos votos.

Cerca de 85% dos fumantes e não fumantes são a favor de proibir fumar em todos os ambientes de trabalho, 89% a favor de uma proibição nos escritórios, 80% a favor de uma proibição dos restaurantes, e 79% para uma proibição em áreas públicas como shoppings. Mais da metade dos fumantes, 56%, apóiam proibição de fumar nos restaurantes, quando 82% apóiam essa proibição nos escritórios. A maior diferença de opinião entre fumantes e não fumantes relaciona-se aos pubs, com apenas 16% dos fumantes favoráveis a uma proibição.

Peter Kellner, o presidente de YouGov, que analisou os resultados, disse que o mais impressionante é que os próprios fumantes parecem querer uma proibição. Mas acrescentou que quase todos consideram os pubs como um refúgio. A votação será importante para os militantes antitabagistas que fazem lobby junto às autoridades.

O Primeiro Ministro sugeriu que o governo possa dar poder de impor proibições às autoridades locais.

Adesf tem Processos em Diversas Cidades contra a Indústria
A Associação de Defesa da Saúde dos Fumantes – Adesf – tem algumas vitórias na Justiça contra a indústria do tabaco, que recorreu em todos eles. No entanto, quando as instâncias superiores julgarem os casos procedentes e mandar executar as sentenças, haverá jurisprudência para outros casos. E, a RTZ acredita, assim como a Adesf, que será o momento de surgirem vários processos de fumantes e ex-fumantes contra a indústria, como aconteceu nos Estados Unidos.

Os casos da Adesf à espera de decisão são:

COMARCA DE SANTOS
NORONHA CRUZ x SOUZA CRUZ S/A
Sentença de 27/12/2002 – Souza Cruz condenada ao pagamento de R$200.000,00, corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de mora mais custas processuais.

NEIDE LUZ GONÇALVES x SOUZA CRUZ S/A
Sentença de 27/12/2.002 – Souza Cruz condenada ao pagamento de R$200.000,00, corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de mora mais custas processuais.


COMARCA DE BELO HORIZONTE
MÁRIO SILÉSIO DE MORAIS AMORIM x SOUZA CRUZ S/A
Sentença de 19/03/2003 – Souza Cruz condenada ao pagamento de 1.500 salários mínimos e a custear todo o tratamento médico e despesas para restabelecer a saúde do autor mais custas processuais.

JOSÉ SALVARO PIM x SOUZA CRUZ S/A
Sentença de 11/08/03 – Souza Cruz condenada ao pagamento de R$ 50.000,00, por danos morais, acrescidos de 1% de juros ao mês mais correção monetária, contados do ajuizamento mais 80% das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 20% do total da condenação.

COMARCA DE S.PAULO
MARIA APARECIDA DA SILVA x SOUZA CRUZ S/A
Sentença de 28/05/2004 – Souza Cruz condenada ao pagamento de R$ 600.000,00, por danos morais, acrescidos de 1% de juros ao mês mais correção monetária, contados do ajuizamento mais despesas médicas, cirúrgicas, medicamentosas e com próteses e, ainda, lucros cessantes.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS
Acórdão em Apelação Cível 70000144626 – 9ª Câmara Cível – Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul –
Noelí Francisca da Silva e outros x Philip Morris e Souza Cruz S/A - j. de 29/10/2003 - provimento por maioria – condenada a Philip Morris a diversos danos materiais, despesas médicas, hospitalares e danos morais no valor de 3.200 salários mínimos.
Acórdão em Apelação Cível 70007090798– 9ª Câmara Cível – Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul –
Tânia Regina dos Santos e outros x Souza Cruz S/A - j. de 19/11/2003 - provimento por unanimidade - condenada a Souza Cruz S/A a danos morais no valor de 1.700 salários mínimos.

Acórdão em AGInst 70005892377 – Câmara Cível - Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul –
N.S.S. x Souza Cruz S/A - j. de 05/2004 - provimento por unanimidade - condenada a Souza Cruz S/A a custeio do tratamento da ex-fumante, em tutela antecipada.

Acórdão em Apelação Cível 70000840264 – 6ª Câmara Cível – Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
José da Silva Martins x Souza Cruz S/A - j. de 19/11/2003 - provimento por unanimidade - condenada a Souza Cruz S/A a R$500 mil de indenização por danos morais à família do ex-fumante, mais ressarcimento de despesas médicas e salários, em face de lucros cessantes, desde 2001 até sua morte.

Quem tiver interesse em saber mais detalhes, a home page da Adesf é www.adesf.com.br

Ash Pede Ação Contra o Fumo Passivo
Fonte: ASH News Release, 11/06/2003

Uma aliança sem precedentes de médicos, sindicatos, funcionários de órgãos governamentais de saúde e meio ambiente e ativistas pelo controle do tabagismo está pedindo ao governo inglês ação urgente contra o fumo passivo nos locais de trabalho. A aliança mostra que o fumo passivo e seus efeitos na saúde pública é agora uma questão política e não só “uma obsessão da classe média bem informada”, como sugeriu o Secretário de Saúde.

Líderes do Colégio Real de Médicos, da Associação Médica Britânica, das Uniões de Comércio do Congresso, o Instituto de Saúde Ambiental e a ong ASH escreveram ao secretário de saúde, John Reid, pedindo que siga o exemplo do ministro da saúde irlandês, Michael Martin, e imponha uma legislação para parar com o fumo passivo no trabalho.

A diretora da ASH, Deborah Arnott, disse que “não há qualquer dúvida de que o fumo passivo é uma questão séria de saúde e de segurança. A mais recente pesquisa sugere que a exposição ao fumo passivo no trabalho está matando mais pessoas que todos os danos e acidentes industriais”.

Controle do Tabaco na XI UNCTAD
Controle do Tabaco e Desenvolvimento foi um dos temas abordados pela XI UNCTAD - Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, realizada em São Paulo entre 13 e 18 de junho. O painel "A GLobalização da Epidemia do Tabagismo" foi uma iniciativa da Tobacco Free Initiative da OMS e teve como objetivo trazer para a pauta da Conferência a necessidade de inserir controle do tabaco na agenda de desenvolvimento dos governos e órgãos intergovernamentais. Entre os temas abordados destaca-se proposta de incluir controle do tabaco em vários itens das metas de desenvolvimento do milênio da ONU e excluir o tabaco de acordos de livre comércio. O painel contou com a presença do Embaixador Luiz Felipe Seixas Corrêa, presidente das negociações da CQCT em Genebra e com a visita do Secretario Geral da UNCTAD Rubens Ricupero. Heather Selin, da OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde, apresentou o escopo da epidemia tabagística mundial e suas respectivas soluções a partir da CQCT. Katharine Esson, da Universidade de Columbia (EUA), falou sobre as Metas de Desenvolvimento do Milênio e suas interfaces com controle do tabaco. Marco Antonio Vargas, do IE/UFRJ, falou sobre fumicultura e alternativas em andamento, além de problematizar o peso que a cultura do fumo tem sobre a dinâmica de desenvolvimento da região sul do país. Monica Mulser Parada, da VISA/DF, relatou a experiência de fiscalização em Brasília. O painel foi moderado pelo Diretor-Presidente da Anvisa Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, que falou sobre o papel e a atuação da Anvisa.
As apresentações foram excelentes e pertinentes em relação ao escopo da Conferência. Infelizmente, controle do tabaco ainda é um tema marginal nas pautas de desenvolvimento e economia. O painel representou um avanço pelo simples fato de acontecer na UNCTAD, por outro lado o número de ouvintes foi irrisório. O que nos demonstra que a busca por espaço em fóruns desta natureza deve ser continua e reforçada.

Empresários precisam adaptar locais de acordo com a lei
Fonte: O Povo – Fortaleza - 16 de junho de 2004, com comentário da RTZ

Depois da ação de fiscalização empreendida pela Vigilância Sanitária no Distrito Federal, agora é Fortaleza que quer isolar ambientes para não fumantes, para respeitar a Lei Federal nº 9.294 de 1996, que proíbe o uso de cigarro, cigarrilha, charuto, cachimbos derivados ou não do tabaco em recintos públicos ou privados fechados. Os empresários da capital cearense terão até o fim de agosto para entregar à Vigilância Sanitária do Município estudo técnico sobre como implementar as mudanças físicas nos ambientes, que precisam ser isolados e com arejamento conveniente.

O Ministério Público estadual já notificou 166 estabelecimentos comerciais com base na relação de associados às entidades que representam os setores hoteleiros, de restaurantes, bares e similares. A Promotoria de Justiça e Defesa da Saúde Pública Isabel alega que os restaurantes de Fortaleza mantêm placas indicando área destinada a fumantes, no mesmo espaço ocupado por quem não fuma.

No entanto, a lei é clara: exige área isolada, exclusivamente, para quem fuma. Não existe uma punição para o cliente que se recusa a cumprir, mas que caberá aos estabelecimentos fazer um trabalho educativo junto aos freqüentadores. Ano passado, o MPE trabalhou com os shoppings centers de Fortaleza. Onde não foi implantado espaço reservado, prevaleceu a proibição de fumar.

A ativista da RTZ Stella Aguinaga, que está satisfeita com essas noticias, tem uma preocupação que é também de toda a rede: precisa-se ter um cuidado com a definição, muito vaga, do que constitui “devidamente isoladas e com arejamento convenientes”. A falta de definição clara dá oportunidade à indústria do tabaco para promover suas estratégias de ventilação e filtração que, sob o ponto de vista tanto da saúde pública quanto da economia, são completamente ineficientes e ineficazes. Existem modelos de definição destes termos baseados em evidência científica, mas muito caros. Por exemplo, a área de fumantes tem que ser isoladas por paredes do chão ao teto, pressurização negativa, ventilação e sistemas de dutos e exaustão completamente separados, portas de correr, nenhuma pessoa que trabalha no estabelecimento deverá entrar nessas áreas, etc.

Vontade não Basta
A revista Veja, edição 1857, de 09/06/2004, trouxe uma entrevista, nas Páginas Amarelas, com a médica americana Nancy Rigotti, professora da Faculdade de Medicina de Harvard e diretora da Sociedade para Pesquisa de Nicotina e Tabaco. Ela faz parte da nova corrente na medicina que considera o tabagismo doença crônica. Ela defende que os médicos encarem o tabagismo como uma doença crônica “porque é muito difícil quebrar no organismo o vício da nicotina. Todos nós conhecemos a história de alguém que ficou um bom tempo sem fumar, mas acabou voltando – é o que chamamos muito apropriadamente de recaída. E a maior parte das recaídas ocorre depois de apenas três meses. É preciso ter em mente que é longo o processo que vai do momento em que o fumante resolve abandonar o vício até quando ele realmente se torna um não-fumante”. E, como é uma doença crônica, como a hipertensão e o colesterol alto, o fumo exige tratamento por toda a vida. “Um ex-fumante deve adotar e manter hábitos ainda mais saudáveis do que uma pessoa que jamais fumou. E, se necessário, deve voltar a recorrer a algum tratamento químico e a programas psicológicos para aprender a lidar com a falta do cigarro”, explica.

No trecho final, a Dra. Rigotti fala sobre o que ativistas de controle do tabagismo já abordam há anos: a eficácia da restrição da propaganda de tabaco para diminuir o uso. “do ponto de vista propagandístico, há um outro grande revés: o fumo passou a ser associado a classes menos abastadas. Embora as campanhas publicitárias ainda sejam dirigidas a públicos mais elitizados, os ricos fumam cada vez menos. Com isso, podem influenciar os mais pobres. As normas sociais estão mudando, a tolerância ao cigarro está cada vez menor, e eu acho que isso é bom”. E, como acontece com quem se aprofunda na questão do tabaco, a médica americana também não poupa a indústria como inimiga, ao responder à pergunta de Veja sobre o porque da Convenção Quadro ainda não ter saído do papel: ” Apesar da boa vontade de muitos países, o problema é que temos um poderoso inimigo: a indústria do tabaco, que movimenta centenas de bilhões de dólares e dá emprego a milhões de pessoas. Há dinheiro demais envolvido nessa questão. Além disso, muitos governos estão diretamente envolvidos com a produção do tabaco.”

Evidentemente, é uma resposta simplista, que poderia ter sido desdobrada em diversas outras. Mas é sempre bom ver a revista semanal de maior circulação no Brasil abordar o tema.

A entrevista da Dra. Nancy Rigotti foi uma das mais comentadas na seção de Cartas do Leitor, da edição seguinte. Para ter acesso à íntegra da entrevista, acesse a seção notícias do www.tabacozero.net

Canadá: Legault honrou a promessa de realizar o Grande Prêmio Canadense, mesmo sem a publicidade do tabaco
Fonte: Globalink, 09/06/2004

Montreal - Normand Legault tem toda a razão para celebrar o 26° Grande Prêmio Canadense. O promotor cumpriu sua promessa, feita em novembro do ano passado, de assegurar a realização da corrida sem publicidade de tabaco. O Grande Prêmio Canadense tinha sido retirado do calendário da Fórmula 1, em agosto último, por causa da lei canadense proibindo a publicidade de tabaco. "Simplesmente, a realização da corrida este ano é parte de um milagre," disse Legault.

Legault disse que nunca acreditou que o chefe da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, estivesse blefando sobre a retirada da corrida canadense. "Nós sabíamos que tínhamos uma batalha extremamente difícil, que durou vários meses," disse ele. "Nós tivemos que convencer muitas pessoas, fabricantes de carro, e Federação Internacional de Automobilismo. Mas a batalha valeu a pena."

Legault informou que a quantia pedida de U$29 milhões para compensar a falta de anúncios de tabaco, foi obtida. Legault disse ainda que o Grande Prêmio Canadense não enfrenta um problema a curto prazo. "No momento, o fim de semana está prometendo. E nosso contrato tem mais dois anos após a corrida de domingo." Os ingressos para a corrida estão esgotados, até para a geral. Recorde registrado pela última vez em 2002, quando 117 mil fãs assistiram a corrida, 326 mil pessoas por três dias.

Legault reagiu furiosamente sobre insinuações de que o ambiente não é o mesmo este ano. Ele disse que a ausência, este ano, de Jacques Villeneouve não terá um efeito negativo. "Felizmente um evento como o Grande Prêmio não se resume a presença de um piloto, caso contrário teria acabado com a trágica morte de seu pai Gilles”, disse ele. “A presença do Jacques ajudou as pessoas a conhecerem a Fórmula 1 e fez com que amadores apreciem o esporte, mesmo depois que o corredor se aposentou”. Legault disse crer que Villeneouve retornará.

Comentário da RTZ: Embora o avanço do Canadá nesta área seja inequívoco, a lição que traz para o resto do mundo é também muito importante. Afinal, a indústria conseguiu “manter” a publicidade a despeito da proibição. Segundo Stan Shatenstein, editor colaborador da revista Tobacco Control, o governo canadense foi chantageado pelo diretor da Federação Internacional de Automobilismo, Bernie Ecclestone, e terminou pagando 12 milhões de dólares canadenses para equipes da Fórmula 1. Infelizmente, o resultado foi que as marcas de cigarro passaram a ser exibidas com disfarces. Além da publicação de fotos de arquivo, mostrando marcas de cigarro, em todos os jornais do país, os carros mantiveram as cores e formato das marcas e foram feitas frases criativas. Veja as fotos de como a marca Benson & Hedges se transformou em “Be on Edge” clique aqui, que significa algo como “fique no limite” ou “seja de ponta”.

Como podemos perceber, a chantagem ocorre em todos os lugares. Aqui, ano passado, ouvimos o comentário de Bernie Ecclestone: “Aqui é Brasil”, ou seja, aqui tudo é possível. Seria bom ao governo brasileiro evitar comentários parecidos no futuro próximo, após 31 de julho de 2005, prazo previsto na Medida Provisória 118, que foi criada para ceder a pressão pelo patrocínio de cigarros na Fórmula I em 2003.

A Rede Tabaco Zero está atenta à questão da Fórmula I, embora o patrocínio de cigarros esteja liberado até julho de 2005, precisamos fazer ouvir a nossa voz durante o próximo GP de Formula I que acontecerá em São Paulo em setembro de 2004. Participe, envie sugestões de formas de mobilização para tabacozero@redeh.org.br

A boa notícia é que, à medida que mais e mais países adotarem a proibição de promoção e patrocínio, estaremos mais próximos de eliminar a publicidade de cigarros na Fórmula I globalmente.

Afinal, chegará um momento onde não haverão mais países com a publicidade liberada para o Sr. Bernie chantagear os países que proibem o patrocínio.

Fumantes morrem dez anos mais cedo, diz megapesquisa
Fonte: BBC Brasil - 22/06/2004
Ania Lichtarowicz

A mais longa pesquisa já feita sobre os efeitos do tabaco revela que, em média, os fumantes morrem dez anos antes dos não-fumantes.
O estudo também mostra que deixar de fumar em qualquer idade reduz o risco de morrer por causa de doenças ligadas ao tabagismo.

Os resultados estão sendo publicados no British Medical Journal, 50 anos depois que os resultados iniciais dessa mesma pesquisa confirmaram que fumar causa câncer de pulmão.

A pesquisa foi feita com 34.439 homens. Todos os pesquisados são médicos nascidos entre 1900 e 1930, que tiveram seus hábitos tabagistas monitorados desde 1951.

A pesquisa mostra que os riscos do tabagismo para a saúde são maiores do que se pensava inicialmente.

Desde que o estudo começou, o fumo matou 100 milhões de pessoas no mundo inteiro.

Entre metade e dois terços dos fumantes teriam morrido por causa desse hábito.

Essa foi a primeira vez que foi feita uma avaliação sobre os efeitos do cigarro durante a vida inteira das pessoas.

Uma das boas notícias da pesquisa é que deixar de fumar em qualquer idade pode aumentar a expectativa de vida. Deixar de fumar aos 30 anos, por exemplo, parece eliminar os danos provocados pelo hábito.

Há 50 anos, os resultados dessa pesquisa levaram muitas pessoas a deixar de fumar.

Os autores esperam que esses novos resultados tenham efeitos semelhantes, especialmente em países em desenvolvimento, onde o hábito de fumar vem aumentando.

Para ver o estudo completo acesse o site da BMJ clicando aqui e aqui.

IRRESPONSABILIDADE SOCIAL
Souza Cruz recebe Prêmio Empresa Cidadã

Fonte: Site Comunique-se, 25/05/2004

A Souza Cruz recebeu o troféu Empresa Cidadã, que foi conferido às companhias socialmente responsáveis durante o 10° Fórum Nacional Cidadania Empresarial, realizado de 12 a 14 de maio, no Rio de Janeiro. O fórum, que contou com o apoio do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Ministério do Planejamento e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), teve como objetivo promover espaço para a troca de experiências sobre os caminhos da responsabilidade social no processo de gestão corporativa. Além disso, o evento serviu como estímulo às demais empresas que ainda não se engajaram neste processo.

Tendo como tema central "Os caminhos para a construção de um novo Brasil", o fórum foi aberto pelo superintendente institucional da Caixa e membro do Conselho Empresarial de Responsabilidade Social do Sistema Firjan, José Domingo Vargas. A Souza Cruz também participou do seminário.

O gerente de Assuntos Corporativos, Fabiano Ribeiro, apresentou os projetos corporativos de responsabilidade social e do Instituto Souza Cruz e destacou a importância da iniciativa: "O evento reuniu um grande número de empresas. Este fato comprova que a responsabilidade corporativa está fazendo parte da agenda do mundo dos negócios.” Segundo Ribeiro, o seminário revelou que não existe uma forma única de se exercer a cidadania empresarial: “Todas as empresas passam por um processo de amadurecimento quanto ao tema”, afirmou.

COMENTÁRIO DA RTZ

Mais uma vez, a Souza Cruz ganha prêmio na área de Responsabilidade Social. Segundo diversos institutos, nacionais e internacionais, que regulam o que é responsabilidade social empresarial, alguns itens devem ser observados para se enquadrar uma empresa neste requisito, tais como:
• Atuação baseada em princípios éticos elevados e a busca da qualidade nas relações -- não se pode falar que uma indústria que durante tanto tempo se negou a assumir os riscos causados pelo tabagismo, que pagou cientistas para desmoralizar pesquisas sérias evidenciando tais riscos e que até hoje nega os riscos do tabagismo passivo tenha princípios éticos.
• Transparência nos negócios -- o que dizer de uma indústria que só abriu seus arquivos, com informações valiosas na área de saúde, depois de processos judiciais, e que negou até o último instante o perigo dos produtos que fabrica? Uma indústria assim não tem transparência nenhuma.
• Adoção de padrões de conduta ética que valorizem o ser humano, a sociedade e o meio ambiente -- uma indústria como a do tabaco não valoriza o ser humano, já que o vicia e desenvolve estratégias para burlar leis, justamente para vender seu produto, que causa dependência. Uma indústria como essa compromete toda sociedade, que paga seus impostos e vê dinheiro público de um orçamento já limitado, como é o caso da área de saúde, ser usado para pagar aposentadorias de pessoas produtivas por doenças tabaco-relacionadas e tratamentos de doenças causas pelo fumo. Isso sem contar com as perdas individuais e o sofrimento que poderia ser evitado por esta sociedade. O mesmo raciocínio se aplica ao meio ambiente, já que o plantio do tabaco utiliza enormes quantidades de agrotóxicos.
*Ir além da obrigação de respeitar leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores -- uma indústria de tabaco pode pagar todos os altos impostos, como os cobrados no Brasil, mas desde quando observa condições de segurança e saúde para seus trabalhadores, se estes têm acesso a seus produtos sem qualquer restrição? Se não há qualquer restrição ao fumo nos ambientes de trabalho – ou alguém acredita que empresas como as de tabaco impõem espaços livres de fumaça?

Também é preciso comentar que a premiação foi dada no 10o. Fórum Nacional Cidadania Empresarial, que teve apoio de instituições públicas como o Ministério do Planejamento e a UFRJ. Então, se existe uma Comissão Nacional de Controle do Tabaco, formada pela pluralidade de ministérios e órgãos públicos, como o Ministério do Planejamento e a UFRJ, que pertence ao Ministério da Educação, apóiam a concessão de prêmio à indústria do tabaco? É um discurso que não condiz com a prática,onde está o termo de parceria assinado entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação por ocasião do Dia Mundial Sem Tabaco em 2004.

GlobaLink em Português
A Rede Globalink está oferecendo agora seus serviços em português. Para quem não conhece, o Globalink é uma rede mundial, que divulga diariamente boletins com notícias, pesquisas e informações sobre tabaco. A Globalink cobre as áreas de saúde e ciência, legislação, processos jurídicos, política, tabagismo passivo e juventude. As informações, coletadas de jornais, revistas, publicações científicas e de releases de Ongs, são enviadas através de e-mail e, no site, há textos e documentos que podem ser acessados e guardados como arquivo de trabalho.

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A jornalista Virgínia Prado é a coordenadora regional responsável pelo Globalink em português. Qualquer informação, e-mails podem ser enviados para pradov@globalink.org

Ficha Técnica
Realização: Rede Tabaco Zero
Coordenação: Paula Johns
Secretaria Executiva: Monica Andreis e Paulo César Corrêa
Edição: Anna Monteiro