Especialistas divergem quanto ao impacto do cigarro eletrônico na saúde

24.08.17 - Folha de S. Paulo / seminários Folha


Folha de S. Paulo / seminários Folha

NOTA DA ACT:

A ACT foi convidada a participar do Seminários Folha, edição de 23 de agosto de 2017, patrocinado pela Philip Morris. Depois de consultas internas com membros de seu conselho, a ACT decidiu não participar e enviou um posicionamento à Folha, explicando seu motivo. O texto está abaixo e, em seguida, a matéria da Folha.

 

"Prezados (as), 

A ACT Promoção da Saúde, a partir de consulta junto a membros de sua rede e decisão da diretoria colegiada, optou por não participar do debate promovido pela Folha de S. Paulo, devido ao evento ser patrocinado pela Phillip Morris. 

Consideramos que o debate sobre o tema do tabagismo, políticas prioritárias para implementação e inclusive sobre os novos produtos de tabaco que têm sido introduzidos em outros países, é uma pauta importante, porém é necessário garantir que seja realizado de forma isenta, no caso sem o patrocínio de empresas diretamente interessadas na questão, como é o caso da Philip Morris. 

A indústria do tabaco historicamente atua no sentido de interferir com a política de controle do tabaco, no Brasil e no mundo, de modo que na Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), tratado internacional negociado sob os auspícios da Organização Mundial da Saúde, foi introduzido o Artigo 5.3, que trata justamente deste tema e fornece recomendações para proteger as políticas de saúde pública desta interferência. Apoiamos a implementação integral da CQCT e diretrizes, e endossamos que interesses comerciais não devem se sobrepor ao interesse coletivo e direito fundamental à saúde. 

A Phillip Morris vem difundindo a ideia de que busca a redução de danos a partir do desenvolvimento de um novo produto como o tabaco aquecido, porém ainda não existem estudos independentes que comprovem esta alegação. Convém lembrar que o mesmo discurso já foi utilizado no passado quando se introduziram no mercado os cigarros “light”, ou de baixos teores, que depois descobriu-se tratar-se de uma falsa afirmação. Estudos recentes têm mostrado que os cigarros “light” eram ainda mais prejudiciais à saúde dos fumantes do que os cigarros convencionais.  

É preciso muita cautela ao se acenar novamente à população com a promessa de um produto menos danoso sem as evidências científicas adequadas para tal. Ademais, ao mesmo tempo que alega buscar reduzir o impacto do tabagismo através de uma nova tecnologia, a indústria do fumo opõe-se de forma ativa e contundente, inclusive judicialmente, às medidas que são reconhecidamente eficazes para a prevenção da iniciação, redução ou cessação do consumo de tabaco.  

O debate sobre estes temas, de grande interesse da população, é salutar desde que realizado com autonomia, independência, transparência e credibilidade. Nestas condições teremos grande interesse em participar e contribuir para a discussão. Sugerimos que a Folha de S. Paulo considere a realização de eventos desta magnitude sem o patrocínio de empresas diretamente envolvidas na produção e comercialização destes produtos.

 

Atenciosamente, 

ACT Promoção da Saúde"

***

 

LUÍSA LEITE
DE SÃO PAULO

23/08/2017  13h29
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Dispositivos eletrônicos para fumar podem reduzir o dano à saúde causado pelo tabagismo se usados apenas entre fumantes que não querem ou não conseguem parar de fumar, mas podem ter um impacto negativo na redução da prevalência do fumo caso funcionem como uma "porta de entrada" para o hábito.

Essa foi a conclusão dos especialistas na primeira mesa-redonda do fórum "Mudança de Hábitos e Redução de Danos à Saúde", promovido pela Folha com patrocínio da Philip Morris nesta quarta-feira (23), no teatro Unibes Cultural, em São Paulo.

Participaram do debate a toxicologista Alice Chasin, professora da Faculdade Oswaldo Cruz, Nveed Chaudhary, coordenador de comunicação científica da Philip Morris, e Paulo Saldiva, médico patologista e diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP. Arthur Guerra, psiquiatra e presidente-executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), proferiu a palestra de abertura.

Reinaldo Canato / Folhapress   
SAO PAULO SP BRASIL - 23.08.2017 - FSP TREINAMENTO Forum Mudanca de Habitos e Reducao de Danos a Saude,realizado no Teatro Unibes Cultural,rua Oscar Freire 2500,no Sumare. PALESTRANTES ESQ P DIR Alice Chasin, professora de toxicologia na Faculdade Oswaldo Cruz Nveed Chaudhary, coordenador de comunicacao cientifica da Philip Morris International Sabine Riguetti Folha de Sao Paulo Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avancados da USP A Folha de Sao Paulo promove o forum Mudanca de Habitos e Reducao de Danos a Saude. O evento discute praticas e politicas para reduzir os riscos a saude de pessoas que nao conseguem ou nao desejam parar de fumar ou de beber. Sobre o tabaco, um dos principais temas a serem debatidos sera a troca do cigarro por dispositivos eletronicos para fumar e se eles podem ser considerados reducao de danos. No caso das bebidas alcoolicas, sera discutida a promocao do consumo consciente e medidas para evitar o consumo por criancas e adolescentes.
Alice Chasin, professora de toxicologia, Nveed Chaudhary, da Philip Morris, Sabine Righetti (moderadora) e o médico Paulo Saldiva, da USP, debateram sobre redução de danos no uso de tabaco
"O que me causa um estranhamento é que o discurso de redução de danos existe para o álcool e para drogas ilícitas. Mas para o tabaco, uma das drogas que mais mata no mundo, não há essa política", diz Chasin.

Para a toxicologista, a troca do cigarro convencional por dispositivos que aquecem o tabaco pode reduzir o risco de doenças relacionadas ao fumo. "Não há fumaça, então você reduz a exposição a uma série de substâncias tóxicas presentes no cigarro. Se você consegue eliminar esses compostos a gente vai ter redução de risco", afirmou.

Para Saldiva, apesar da potencial redução, a aprovação desses produtos no Brasil pode ter um efeito negativo, em termos de saúde coletiva. "O Brasil foi um dos países que mais teve eficiência na redução do tabagismo. Isso não aconteceu porque conseguimos que fumantes parassem de fumar", diz. "O que aconteceu foi que os fumantes morreram e foram substituídos por uma nova geração que não fuma"

Para ele, a entrada de um novo produto que alega redução de riscos no país pode mudar a percepção da população em relação ao consumo de nicotina e fazer com que mais jovens comecem a fumar.

"Nosso público-alvo são fumantes que não querem ou não conseguem parar de fumar", afirmou Chaudhary, representante da Philip Morris. A empresa, conhecida por produzir o Malboro, investiu US$ 3 bilhões no desenvolvimento do seu novo produto de redução de danos, que ainda não é comercializado no Brasil.

"Relatórios internacionais mostram que a nicotina, apesar de não ser inócua, não é a causa das doenças relacionadas ao fumo. Então se temos um produto capaz de fornecer a nicotina sem as outras substâncias que causam maior dano, precisamos trabalhar em medidas regulatórias que permitam que os fumantes que não desejam parar de fumar tenham acesso a essa alternativa", diz.



Link: http://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2017/08/1912287-cigarro-eletronico-pode-reduzir-dano-a-saude-dizem-especialistas.shtml

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