Banquetaço dá comida de graça na rua e pede a volta do Consea

22.02.19


Folha de S. Paulo - Mara Gama

Mobilização atinge mais de 40 cidades e promove refeição gratuita feita por chefes no dia 27

Na próxima quarta, dia 27, a partir das 12h, mesões coletivos devem servir cerca de 15 mil refeições de graça em pontos centrais de mais 40 cidades brasileiras.

A comida será preparada por chefes conhecidos, estudantes, colaboradores e ativistas da gastronomia social. Alimentos orgânicos, da agricultura familiar e agroecológica e plantas alimentícias não convencionais —as pancs— são os ingredientes.

Será um novo Banquetaço, movimento político apartidário que une organizações, coletivos e profissionais em defesa do direito humano à alimentação adequada.

“Um coletivo mobilizador de redes que por meio de banquetes públicos visibiliza questões políticas ealimentares urgentes e pressiona por tomadas de decisões em prol do bem comum”, como o grupo se define em sua comunicação.

A pauta do dia 27 é a defesa do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), um órgão com participação de especialistas e representantes da sociedade, com ligação direta com a Presidência da República.

O Conselho foi extinto pela Medida Provisória 870- 2019, que estabelece a organização dos órgãos da Presidência e dos ministérios e que retirou da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan), criada em 2006, os mecanismos de participação social, que faziam parte de seu artigo 11.

 

Banquetaço preparado por 20 chefs, em 10 duplas, que serviu 2 mil refeições e 2.200 sorvetes nesta quinta (16) no Centro de São Paulo / Heloisa Bio


O ato pede a revogação do inciso III do artigo 85 da MP que trata justamente da Losan e do Consea.

“Em um cenário em que aumenta a fome no país, pretendemos chamar a atenção da população e dos políticos para a importância da permanência do Consea e das demais instâncias e programas da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que vêm sendo rapidamente desmontadas”, escreve o grupo, na convocatória dos banquetes do dia 27.

“O Consea era um fórum importante de participação da sociedade civil junto à Presidência nas questões de alimentação e saúde. Em torno de uma mesa coletiva feita de doações e repartida com a população, faremos um ato de repúdio à sua extinção”, diz o sociólogo Carlos Alberto Dória, um dos organizadores do Banquetaço.

“O Conselho tem uma tradição de debater e formular políticas públicas do combate à fome. Essa ideia que era cara a todo mundo que é ativista da cadeia de alimentação.
 É herança de Betinho e Dom Mauro Morelli, com uma história de muitas conquistas”, observa.

“O Banquetaço é para tomar o pulso dessa luta pela alimentação e a saúde”, diz Dória. “Está virando um modelo de protesto. É baseado em voluntarismo e na adesão à uma ideologia solidarista, com doações espontâneas das pessoas e onde nada se vende também. Não tem patrocínio de empresa. É um congraçamento”, afirma Dória.

“O movimento galvanizou quem é contra a extinção. A ideia se espalhou entre as pessoas que estudam e atuam na gastronomia e chegou a várias cidades do Brasil. Já temos mais de mil pessoas na organização.”

Entre os organizadores do Banquetaço vem se fortalecendo a ideia de constituir conselhos populares, sem a participação do governo. “Já que o governo prescinde de aconselhamentos, as pessoas podem tocar suas lutas de costas para o governo”, diz Dória.

O primeiro Banquetaço aconteceu em 2017, em São Paulo, em um ato diante do teatro municipal de São Paulo. Foram servidas 2.000 refeições gratuitas, com alimentos produzidos por agricultores orgânicos da cidade e da Horta da USP.

Foi um ato político para sensibilizar para o problema da alimentação das populações em situação de risco e em idade escolar e contra a ideia de implantar ultraprocessados como o granulado seco, a farinata, na merenda, proposta pela Prefeitura de São Paulo naquela ocasião.

Em 2018, após o incêndio no Largo Paissandu no centro de São Paulo, ativistas do Banquetaço se organizaram em duas cozinhas cedidas por donos de restaurantes locais e serviram alimentos para os desabrigados.

Agora o Banquetaço virou nacional e batalha pela participação social na tomada de decisão em políticas alimentares, na defesa da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e do Manifesto Comida de Verdade.

Para saber os locais onde haverá o Banquetaço em cada cidade, veja a página do grupo no Facebook.

Mara Gama

Jornalista e consultora de qualidade de texto.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/maragama/2019/02/banquetaco-da-comida-de-graca-na-rua-e-pede-a-volta-do-consea.shtml




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