Diabéticos tipo 1 têm mais chances de morrer de Covid-19 do que diabéticos tipo 2, indica estudo britânico

21.05.20


O Globo

LONDRES — Uma pesquisa do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) indicou que pessoas com diabetes do tipo 1 têm mais chances de morrer de Covid-19 do que pessoas com diabetes do tipo 2.

O estudo, divulgado pelo jornal britânico "The Guardian", também reafirma que a diabetes aumenta muito o risco de morte pelo novo coronavírus: quase uma em cada três mortes pela doença entre pacientes internados na Inglaterra teve ligação com a diabetes.

Contudo, segundo a pesquisa, a idade é o maior fator de risco entre os diabéticos de qualquer tipo. Menores de 40 anos têm bem menos chances de morrer de Covid-19 do que os maiores de 40 anos, e menos ainda do que os idosos.

Comparado a uma pessoa não diabética, o portador de diabetes tipo 1, a variação autoimune da doença, tem 3,5 vezes mais risco de morrer de Covid-19, diz a pesquisa. Já o portador de diabetes tipo 2 — quadro que se associa fortemente com o excesso de peso — tem 2 vezes mais chances de morrer da doença do que uma pessoa não diabética.

Para Fábio Moura, diretor do departamento de Diabetes Mellitus da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, os resultados da pesquisa britânica são preocupantes para portadores seja do tipo que for a doença. E reforçam a necessidade de se monitorar o quadro e evitar a contaminação.

— Uma hipótese para explicar o maior risco para portadores de diabetes tipo 1 é a falta de controle. No Brasil, apenas 2% dos diabéticos deste tipo estão controlados. Entre os diabéticos tipo 2, esse índice é de cerca de 30%. Desse modo, os diabéticos tipo 1 estão mais expostos à hiperglicemia, fator de risco para doenças infecciosas — explica o especialista.

Moura explica que, uma vez que a quantidade de glicose no sangue ultrapassa o nível de 200 miligramas por decilitro (mg/dl), a resposta do sistema imune a infecções é comprometida.

Na diabetes tipo 1, categoria autoimune da doença, o corpo produz anticorpos que atacam o pâncreas. Por consequência, os diabéticos desse tipo praticamente não têm insulina endógena (ou seja, fabricada pelo próprio organismo). Isso, segundo Moura, faz com que eles tenham maior variabilidade glicêmica: mais chances de apresentar níveis de glicose muito altos ou muito baixos. O diabético do tipo 2 ainda produz alguma insulina por conta própria, o que torna seus níveis glicêmicos um pouco mais estáveis e leva seu organismo responder bem ao controle com medicamentos. Essa seria uma possível explicação para uma maior falta de controle entre diabéticos do tipo 1 do que entre os de tipo 2, explica Moura.

Segundo ele, o Brasil tem entre 14 e 15 milhões de diabéticos, dos quais cerca de 90% são do tipo 2 e 10% são do tipo 1. Apesar da conclusão do estudo britânico, o especialista alerta que a diabetes tipo 2 pode ser muito prejudicial ao organismo num contexto de pandemia, se não observados protocolos que previnem a infecção.

— A maior parte dos diabéticos tipo 2 tem sobrepeso e obesidade. Essas condições também são fatores de risco para a Covid-19. Por si só, elas trazem outras comorbidades, como doenças do coração e dos rins — finaliza o médico.

 

No Reino Unido, 90% dos diabéticos são do tipo 2, e obesos representam grande parte desse número.

Até o momento, 7.466 pessoas que morreram em hospitais na Inglaterra tinham diabetes tipo 2 e 365 tinham tipo 1, segundo a pesquisa.

Os pesquisadores descobriram que a taxa de mortalidade de diabéticos dobrou nos estágios iniciais da pandemia. Entre pacientes de ambos os tipos da doença, apresentavam maior risco homens; negros, asiáticos ou pertencentes a uma minoria étnica; moradores de regiões carentes; portadores de doença renal; e pessoas com problemas cardíacos.

Diferentes estudos recentes já indicavam que cerca de um quarto das mortes por Covid-19 tiveram relação com a diabetes. Os resultados ainda são preliminares.

— As infecções bacterianas são mais comuns e mais graves na  diabetes. Geralmente, não se pensa que esse seja um problema com infecções virais, como o coronavírus, mas qualquer infecção grave pode causar problemas no controle da insulina, portanto isso provavelmente também contribuirá para o aumento da taxa de mortalidade em pacientes do tipo 1 — diz Jon Cohen, professor emérito de doenças infecciosas da Escola de Medicina de Brighton e Sussex, ao "The Guardian".

https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/diabeticos-tipo-1-tem-mais-chances-de-morrer-de-covid-19-do-que-diabeticos-tipo-2-indica-estudo-britanico-24436716




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