Pelo direito de saber o que comemos

28.01.18


Ana Paula Bortoletto e Igor Britto, O Globo

Países caminham na direção de incluir na frente das embalagens dos alimentos industrializados advertência clara quanto ao excesso de nutrientes críticos

Cresce em diversas partes do mundo um movimento que visa a garantir ao consumidor o direito de saber o que está comendo.

Diferentes países — Canadá, Israel, Uruguai, África do Sul e Peru — caminham na direção de incluir na parte da frente das embalagens dos alimentos industrializados uma advertência que sinaliza de forma clara e objetiva o excesso de nutrientes considerados críticos, que são prejudiciais à saúde, mas que muitas vezes escondem-se em termos técnicos ou em cálculos complicados e inacessíveis ao cidadão.

Este movimento nasceu no Chile. Lá, desde 2016, todos os alimentos ultraprocessados (biscoitos, refrigerantes, comida congelada etc.) exibem um octógono preto no canto superior das embalagens, sinalizando o excesso de calorias, sódio, açúcar e gordura.

A medida é extremamente didática, por diferentes motivos. O principal deles é que se trata de uma sinalização simples, que não exige que o consumidor faça cálculos ou interprete cores. Além disso, por ser em preto e branco, não se confunde com o colorido característico das embalagens. E ainda permite uma rápida comparação entre dois ou mais produtos. Até as crianças são capazes de compreender a sinalização.

No Chile, a medida foi muito bem aceita. Em pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde do país no ano passado, 92,4% dos consumidores avaliaram como “boa” ou “muito boa” a medida, e 37% afirmaram que o octógono fez com que modificassem escolhas alimentares.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) conduz um processo para aperfeiçoar as regras de rotulagem nutricional e avalia um modelo similar ao chileno. Apresentada pelo InstitutoBrasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a proposta substitui o octógono por um triângulo preto.

Além de estar alinhada com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), ela está amparada em evidências colhidas com rigor e sem conflitos de interesse.

Estudo realizado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) sinaliza que o modelo apresentado pelo Idec é mais facilmente visualizado e compreendido pelo consumidor quando comparado ao modelo em cores, chamado de semáforo nutricional e defendido pela indústria de alimentos.

Em uma das etapas do estudo, os participantes foram questionados sobre quais nutrientes críticos presentes em determinados produtos estavam acima do recomendado para uma alimentação saudável. O número de acertos foi de 75,7% nas embalagens com as advertências em formato de triângulo. Quando avaliado o modelo de semáforo, o índice de acertos foi de apenas 35,4%.

A diferença apontada na pesquisa é extremamente relevante e não pode ser desconsiderada nesse debate. O modelo em formato de triângulo é, comprovadamente, o mais adequado para garantir o direito dos consumidores à informação e proporcionar escolhas por alimentos mais saudáveis.

Ana Paula Bortoletto é líder do programa de Alimentação Saudável do Instituto Brasileiro de Defesado Consumidor (Idec) e membro do comitê gestor da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, e Igor Britto é advogado do Idec




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