Boletim • Edição nº 103 • Julho de 2014
ACTBR
 
EDITORIAL

Para mês de Copa do Mundo - que está acontecendo apesar das manifestações contrárias que antecederam ao evento - até que, surpreendentemente, surgiram outras notícias para além do futebol. Embora as atenções estejam, pelo menos até o final dessa semana, voltadas para os jogos, temos boas novas e motivos para celebrar. No dia 20 de junho, conforme já disseminado na Rede, a Dra. Vera Luiza da Costa e Silva, membro do Conselho Consultivo da ACT, assumiu o cargo de chefe do Secretariado da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco.

Ainda na arena global, vale destacar que esta semana acontece na sede da ONU em Nova York a reunião para revisão do plano global de enfrentamento das DCNTs que entrou com força na agenda global de saúde a partir da reunião de cúpula realizada em 2011. Na ocasião, vários chefes de estado, inclusive a presidente Dilma Roussef, participaram da reunião e adotaram uma série de compromissos na área das DCNTs. Nos dias 10 e 11 de julho, os países membros da ONU, vão se debruçar novamente sobre o tema, para analisar os avanços e desafios e dar o tom político global de por onde seguir e o que fazer para alcançar a meta de 25% redução de mortes prematuras por DCNTs até 2025.
Na área de direito temos a satisfação de contar com mais uma parceira, a professora Renata Munhoz, que defendeu tese de doutorado intitulada “Cidadania e Dirigismo Estatal, o Paradigma do Tabaco” para ampliarmos e qualificarmos cada vez mais o debate sobre as ações indenizatórias que envolvem as vítimas do tabagismo no Brasil. Ainda nesse universo, temos o prazer de anunciar o lançamento da Revista “Direito e Tabaco” pela Escola Superior de Advocacia – ESA/OAB-SP no dia 11 de julho. Haverá transmissão on line pela web, basta acessar o link http://www.esaoabsp.edu.br/  no horário do evento. Aproveitamos para parabenizar todos os autores pela excelente contribuição.

Boa leitura.

Paula Johns

 
 
PERFIL

Renata Munhoz
A entrevistada deste mês da coluna Perfil é a professora de Direito Civil e Empresarial da Faculdade de Direito Mackenzie, Renata Munhoz. Em fevereiro deste ano, defendeu a tese de doutorado intitulada “Cidadania e Dirigismo Estatal. O Paradigma do Tabaco” aprovada com louvor e distinção. Renata é doutora e mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, coordenadora do grupo de estudo Direito e Tabaco, além de membro efetivo da Comissão de Assistência à Saúde da OAB/SP.

Na entrevista, a professora conta como surgiu o interesse pelo tema do tabaco, comenta quais os caminhos a saúde pública pode adotar para minimizar a interferência da indústria e judicialização das políticas e fala do grupo que está criando para tratar deste tema na faculdade. Para ler a entrevista na íntegra e conhecer mais sobre sua tese de doutorado, acesse: http://actbr.org.br/uploads/conteudo/939_Entrevista_ACT_completa.pdf

ACT: Como e quando surgiu o interesse pelo tema do tabagismo?
Em 2007, quando fundei como professora o grupo de estudo “Princípios de Direito Contratual”, na Faculdade de Direito Mackenzie, um dos temas abordados já era a responsabilidade civil decorrente do tabagismo. Tratava-se de um grupo que se valia de estudos doutrinários e jurisprudenciais a respeito de novos temas de direito privado, ainda não enfrentados na sua integralidade e importância pelo direito. No entanto, naquela época, ao analisarmos os casos julgados pelos Tribunais Brasileiros, constatamos que os argumentos trazidos pelos fumantes não eram acolhidos, prevalecendo a posição da indústria. Desde então, munida de um inconformismo, passei a me debruçar mais sobre o tema. Comecei o doutorado em 2010, apresentando um projeto de pesquisa voltado à questão do tabagismo como grave problema de saúde pública, responsável pela morte de milhões de pessoas no mundo.

Nesse projeto inicial, a novidade da abordagem não estava em reconhecer que o consumo de cigarro e a fumaça decorrente de seu uso causavam danos à saúde, o que já vinha sendo objeto de discussão e estudos pela área médica e de saúde pública mundial, mas sim reconhecer que o direito poderia servir de instrumento para atenuar as consequências da utilização do tabaco, responsabilizando a indústria fumígena pelos danos causados aos consumidores de seu produto.

Como você vê a interferência da indústria do tabaco nas questões que envolvem o direito fundamental à saúde do cidadão?
Para justificar a não adoção de medidas restritivas ao uso do cigarro, a indústria criou um mito de que o tabaco gera riquezas e vive desse mito. Embora o tabaco tenha papel de destaque na economia brasileira, já que o país é um dos maiores produtores e exportadores do produto e é um produto altamente tributado, há um grande equívoco nessa consideração – o tabaco não se constitui em fonte de riqueza para o ser humano, pelo contrário, seus custos para a saúde das pessoas são desastrosos e os custos para o Estado são reais.
Na tese de doutorado, abordei outras estratégias usadas pela indústria durante o século XX, como as conclusões apresentadas na obra “Merchants of Doubt – How a Handful of Scientists Obscured the Truth on Issues from Tobacco Smoke to Global Warming”, que demonstra que o objetivo da indústria do cigarro era patrocinar pesquisas científicas a seu favor para lançar a dúvida na ligação tabaco-câncer.

A liberdade de escolha da indústria do tabaco é bem sintetizada pelo cientista Robert Proctor, da Universidade de Stanford, na Califórnia, quando defende que seria errado colocar ênfase demais no conhecimento ou na sua ausência. A soberania do consumidor tão frequentemente santificada pelos economistas coloca toda a responsabilidade pela morte – ou o abandono do tabaco – na escolha do consumidor, dando a indústria um passe livre. Nós temos a tendência de esquecer que os fabricantes de cigarro também têm escolhas, que são as de manter a nicotina no tabaco fomentando o vício, tirando os fumantes a sua capacidade de fazer uma livre escolha.

Qual o caminho para a saúde pública avançar nos temas que envolvem a judicialização das políticas de controle do tabaco?
Como a informação é o pressuposto da escolha livre e consciente do consumidor, não basta informar, é preciso informar claramente, informar todas as características do produto e os efeitos decorrentes do consumo, bem como, ao informar, passar a confiança de que a informação corresponde à veracidade, ou seja, passar credibilidade. Isso é o que eu chamo de “tripé informacional”.

Para que a saúde pública possa avançar nesse tema há a necessidade de conscientização da população, em todas as esferas, pelo Executivo, pelo Legislativo, pelo Judiciário, mas também pelo próprio fabricante e pela sociedade civil. Essa conscientização deve passar pela ideia de que o consumo de tabaco é um assunto que exige conhecimento específico  e que não pode prevalecer o “senso comum” ou a mera crença de que “faz mal à saúde” e de que se trata de um assunto que todos nós já conhecemos! Gosto muito da frase de Robert Proctor, que diz: “A ignorância é a semente, a morte é a colheita”. Não deixemos mais que essa semente seja plantada pela indústria de cigarros!

Quais os objetivos do grupo de estudo que está sendo criado no Mackenzie para tratar do tema e quem pode participar?
O objetivo é promover pesquisas e debates no campo do Direito Político e Econômico e disciplinas afins, numa proposta de reflexão crítica a respeito dos instrumentos políticos e jurídicos de controle do tabagismo e dos direitos fundamentais dos cidadãos. A ideia é alcançar como resultado a publicação e concretização das pesquisas realizadas, seja sob a forma de artigos científicos, seja sob a forma de monografias ou livros, de forma interdisciplinar, estabelecendo parcerias com outras unidades da Mackenzie, além da organização de seminários e simpósios sobre o tema.

Podem participar alunos da Faculdade de Direito do Mackenzie, que estejam, no mínimo, no 4º semestre do curso, até alunos de 9ª etapa, ou seja, último ano. Além desses alunos, poderão participar alunos de outras unidades do Mackenzie, como alunos da área da psicologia e saúde. A Universidade é o espaço ideal para o crescimento das discussões e projetos a respeito de assuntos, que, como o tabagismo, demandam uma atuação conjunta da sociedade civil e do Estado.

 
ACT EM AÇÃO

Oficina para uso de evidências – Biblioteca Virtual em Saúde – RJ
A ACT participou, no dia 3 de junho, da capacitação para uso de evidências organizada pela Biblioteca Virtual em Saúde Prevenção e Controle do Câncer em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências e Saúde (Bireme) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). O objetivo da oficina foi sensibilizar gestores e trabalhadores da saúde para a incorporação de informações técnico-científicas relevantes na formulação de políticas, planejamento e gestão em saúde. A ACT faz parte do conselho consultivo da biblioteca ao lado de outras organizações, academia e órgãos do governo voltados à saúde e prevenção do câncer.

Reunião da Comissão Intersetorial de Pessoas com Patologias / CNS - RJ
No dia 4 de junho, Paula Johns participou da reunião da Comissão Intersetorial de Pessoas com Patologias do Conselho Nacional de Saúde (CNS) realizada no Rio de Janeiro. Durante o encontro da comissão, no qual está sendo inserido o tema das doenças crônicas não transmissíveis, Paula apresentou as novidades sobre a regulamentação da lei antifumo, publicada no Diário Oficial no início de junho, e os novos desafios que virão nas fases pré e durante a implementação.

Estratégias Legais para a Implementação de Leis do Controle do Tabagismo - EUA
A coordenadora jurídica da ACT, Adriana Carvalho, participou de 22 a 27 de junho, em Washington/DC, do Seminário Estratégias Legais para a Implementação de Leis do Controle do Tabagismo. Além do Brasil estiveram presentes advogados representando o Cazaquistão, Argentina, Uruguai, Colômbia, El Salvador, Kosovo, Mianmar, Indonésia, Filipinas, entre outros. Adriana apresentou o caso da proibição dos aditivos nos cigarros no Brasil, a ação que a Souza Cruz perdeu contra a ACT em relação ao filme Limite Tabaco e exibiu o documentário Dois Pesos e Duas Medidas legendado. O evento foi organizado pela Campaign for Tobacco Free Kids.

Encontro das Nações Unidas 2014 para Revisão das DCNTs - NY
A diretora executiva da ACT, Paula Johns, participará, entre os dias 9 e 11 de julho, do Encontro das Nações Unidas 2014 para Revisão das Doenças Crônicas Não Transmissíveis, em Nova York. Será a segunda vez que as DCNTs terão um evento exclusivo na Assembléia Geral das Nações Unidas. Paula também foi convidada a proferir palestra no evento paralelo que acontecerá antes da programação oficial, no painel sobre os desafios globais do controle do tabagismo ao lado da diretora de programas internacionais da Iniciativa Bloomberg, Kelly Henning.

 
 
NOTÍCIAS

TÂNIA CAVALVANTE E LUIZ ANTONIO SANTINI: BRASIL RESPIRA ALIVIADO
Folha de São Paulo, 9/06/2014
Às vésperas da Copa do Mundo, o Brasil faz seu primeiro gol. Um gol em benefício à saúde dos brasileiros. Trata-se do decreto 8.262, de 31 de maio de 2014 que proíbe o ato de fumar em recintos coletivos em todo o território nacional ao se restringir a possibilidade de se ter áreas reservadas para este fim.

IRLANDA SE TORNA PRIMEIRO PAÍS EUROPEU A PADRONIZAR EMBALAGENS DE CIGARRO 
MSN Notícias, 10/06/2014
O governo da Irlanda aprovou nesta terça-feira uma lei contra a publicidade do tabaco e o país se tornará o primeiro país europeu a padronizar as embalagens de cigarro.

É PROIBIDO COMPRAR
O Globo, 26/06/2014
Médicos na Inglaterra votaram por lei que proíbe cigarro para todas as pessoas nascidas após o ano 2000
RIO - Num momento em que vários países debatem a descriminalização da maconha, o Reino Unido pode proibir a venda de cigarros; inicialmente para as pessoas nascidas depois do ano 2000. A expectativa é, com isso, banir completamente o cigarro até o ano 2035, criminalizando a venda para toda uma nova geração.

 
 

ACT LEGAL

Prodecon ajuíza ação contra a Philip Morris
A 4ª Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor (Prodecon) ajuizou no dia 30 de maio, ação civil pública contra uma das maiores indústrias tabageiras do Brasil, a Philip Morris. A medida busca coibir a publicidade ilegal do cigarro, realizada por promotores de vendas jovens em bares e eventos festivos no Distrito Federal. O produto é vendido pessoalmente aos consumidores, em clara ofensa à Lei nº 9.294/96, que limita a divulgação do cigarro ao acondicionamento das embalagens em expositores afixados na parte interna dos locais de venda.
 O promotor de Justiça Guilherme Fernandes Neto explica que a estratégia da empresa é óbvia, mas efetiva. "Reforça-se a imagem do cigarro como algo proibido a fim de provocar o interesse de jovens e adolescentes, os quais, nessa faixa etária, querem se firmar como adultos e gostam de ultrapassar as fronteiras do permitido. Dessa forma, esse grupo é indiretamente desafiado a experimentar o produto", enfatiza. (Processo nº 2014.01.1.083185-5, em trâmite na 15ª Vara Cível de Brasília/DF)

 
Estande de venda de cigarros em festa na Faculdade Cásper Líbero.  

Venda e distribuição de cigarros em festas é ilegal
A ACT recebeu informações que algumas universidades do estado de São Paulo estão promovendo festas universitárias com estande de venda de cigarros e distribuição gratuita do produto. Normalmente essas festas são pequenas, com poucas horas de duração, voltadas para um público jovem de idade entre 17 e 18 anos e que acabou de entrar na faculdade.

A venda de cigarros fora de pontos de venda é ilegal conforme a Lei 12.546/11 e o Decreto 8262/14. É importante registrar e divulgar caso essas ações estejam ocorrendo em outros estados e universidades. Denúncias devem ser feitas à Vigilância Sanitária e ao Procon.

 

 
 
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