Boletim • Edição nº 105 • Setembro de 2014
ACTBR
 
EDITORIAL

Estamos em clima de preparação para a 6ª Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco. Em 16 de setembro, a Comissão Interministerial de Implementação da Convenção Quadro  (Conicq) realizou uma reunião aberta, no auditório da Organização Pan Americana de Saúde (Opas), para receber contribuições e comentários de todos os interessados sobre os temas que estão na pauta da COP6, inclusive da indústria do tabaco. Embora a pauta da COP6 seja bastante extensa,  o debate girou em torno dos artigos 17 & 18 da CQCT (sobre alternativas economicamente viáveis e questões de saúde e meio ambiente relativas a fumicultura). Isso aconteceu devido à forte presença da indústria do tabaco no evento, com os argumentos de sempre, dizendo que estavam ali para defender os interesses dos fumicultores e evitar qualquer medida que viesse a colocar qualquer tipo de restrição à produção de fumo no Brasil.

A questão central é que usam esse tema para fazer palanque na região sul e se posicionar como defensores da fumicultura. Para atingir seus objetivos, distorcem o que está sendo debatido e alegam, direta ou indiretamente, que, não fosse a incidência deles junto ao governo brasileiro, os fumicultores seriam proibidos de plantar fumo. Exemplo das inverdades promovidas pela indústria foi a fala do presidente da Afubra, Romeu Schneider em programa de rádio no dia 30, fazendo o terrorismo habitual, relatando um cenário de lavouras repletas de fumo que poderiam ser colocadas abaixo caso alguma decisão internacional fosse tomada durante a COP6. Leia-se nas entrelinhas que isso já é a preparação deles para irem a COP, ficarem do lado de fora da sala demandando a delegação do Brasil o tempo inteiro, para ficar reportando para “as bases” que, graças à presença deles lá, os fumicultores brasileiros foram salvos de um tragédia! Depois de dez anos acompanhando esse tipo de estratégia, o filme começa a ficar cansativo.

Passando da COP para as eleições 2014, encomendamos uma nova pesquisa ao Datafolha sobre financiamento eleitoral e vimos que a maioria dos brasileiros não quer votar em candidatos que aceitam financiamento das indústrias de fumo, álcool, armas e agrotóxicos. O percentual é mais baixo entre os que não votariam em candidatos financiados pelas indústrias de alimentos, o que mostra que temos que ampliar o debate sobre o consumo de alimentos ultraprocessados como fator de risco de doenças crônicas não transmissíveis. Os detalhes da pesquisa estão na seção Notícias.

Relacionamos esses resultados ao relatório encomendado à Transparência Brasil sobre financiamento eleitoral pela indústria do tabaco.  Chegamos à conclusão que as doações são, atualmente, dirigidas a diretórios e comitês e não aos candidatos. Parece que os candidatos não querem aparecer como recebedores de recursos da indústria do tabaco em função da imagem negativa que essas empresas têm na sociedade. A forma de doação mais recente dificulta o rastreamento do dinheiro, tornando muitas vezes impossível saber se a doação de determinada empresa contribuiu ou não para a campanha de candidatos individuais – o repasse via diretório ou comitê dilui a conexão direta entre os agentes.

Aproveitamos para divulgar uma relação de deputados e senadores candidatos a vagas nos Poderes Legislativo e Executivo que tiveram atuação em prol da saúde pública e outros que diretamente ou indiretamente frearam o avanço do controle do tabagismo. Vote Conscientemente!

Na entrevista do mês damos destaque para a experiência regional de monitoramento das estratégias da indústria conversando com a parceira Mariela Alderete da FIC-Argentina. Vale lembrar que, assim como em outros países, no Brasil, todas as políticas de controle do tabagismo eficazes são contestadas na Justiça, como as leis estaduais de ambientes livres de fumo, lei federal de restrição de publicidade, imagens de advertência e a resolução da Anvisa que proíbe os aditivos nos cigarros. No caso das primeiras, o impacto negativo na saúde pública não é relevante, uma vez que as leis continuam em vigor, mas em relação à proibição dos aditivos, há uma liminar que fez com que a resolução não entrasse em vigor, o que significa um enorme prejuízo para saúde pública.  No que tange aos exemplos dos países, seria bom se o Brasil adotasse medida como a do Chile, que obriga as empresas a declarar os gastos com lobby, relações públicas, marketing e responsabilidade social.

Boa leitura!

Paula Johns

 
 
PERFIL

MARIELA ALDERETE, vice-diretora executiva da Fundação Interamericana do Coração Argentina.

Vínculos com políticos, sindicatos, câmaras de comércio, financiamento de organizações e programas de governo e aproveitamento das brechas criadas em legislações. Essas são algumas das estratégias que a indústria do tabaco usa em todos os países latino-americanos para impedir leis de controle do tabagismo. A conclusão é da médica argentina Mariela Alderete, vice-diretora executiva da Fundação Interamericana do Coração, entrevistada neste mês.

Aqui, ela aborda o tema e como organizações da sociedade civil têm o papel de monitorar e denunciar as ações das empresas de tabaco.

ACT: Como a indústria do tabaco está interferindo nas políticas públicas de saúde na região da América Latina?

Mariela Alderete: Nos últimos anos, a indústria tabagista vem adotando estratégias cada vez mais agressivas para se opor à implementação de políticas de controle do tabaco na região da América Latina. Neste sentido, tem levado adiante uma multiplicidade de ações cujos objetivos são deter a sanção de leis e criar obstáculos para a implementação das políticas eficazes para lutar contra a epidemia do tabagismo.

Entre essas ações estão o estabelecimento de vínculos com políticos, sindicatos, câmaras de comércio e outros atores chave para que defendam seus interesses; o financiamento de organizações e programas governamentais para conseguir apoio e o aproveitamento máximo de exceções e vazios legais ou diretamente a violação de leis vigentes. Por último, uma estratégia que começou a usar recentemente são processos contra governos e organizações não governamentais a fim de intimidá-los e frear a implementação das políticas de saúde.

ACT: Quais são os países mais afetados? Quais são os dados mais preocupantes?
MA:  A indústria do tabaco atua tanto global quanto localmente e interfere nas políticas de controle do tabaco em todos os países. Entretanto, reparamos que nos países que mais avançaram em termos de legislação, a visibilidade e a agressividade das ações são maiores.

Um paradigma é o caso do Uruguai, cujo governo foi processado pela Philip Morris por um valor milionário, pela suposta violação de um tratado de comércio bilateral entre este país e a Suíça. É claro que, além de impedir o avanço das políticas, o objetivo da Philip Morris foi intimidar os países da região para que não avancem  no mesmo ritmo que o Uruguai. Do mesmo modo, no Brasil e no Peru, a indústria também entrou com medidas contra leis que buscavam proteger a saúde dos cidadãos. [NR: No caso do Brasil, trata-se de ação direta de inconstitucionalidade da Confederação Nacional da Indústria contra a resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária sobre os aditivos nos cigarros, que está para ser decidida no Supremo Tribunal Federal].

Outro fato preocupante é a evidência de que existem vínculos entre as empresas de tabaco e alguns partidos políticos. No Chile, por exemplo, algumas ONGs e os meios de comunicação tornaram público o escandaloso lobby da indústria no Congresso Nacional contra a discussão de uma lei abrangente de controle do tabaco.

ACT: E como são essas ações da indústria do tabaco?
MA: A ação  da indústria não se limita a impedir a implementação da legislação. Além dos fatos mencionados, em muitos países – como a Argentina, a Costa Rica, Colômbia e México, por exemplo – se verificaram violações às leis em vigor, como o caso das proibições ou restrições de publicidade, promoção e patrocínio de produtos de tabaco. Face ao avanço destas restrições, a indústria viola, ou age nas brechas da lei, para seguir com as promoções de seus produtos através de diversas estratégias, como promoções disfarçadas, festas privadas, incentivos a varejistas e displays atrativos nos pontos de venda. Muitas dessas ações estão destinadas a atrair novos consumidores, especialmente adolescentes e jovens.

ACT: O que as organizações da sociedade civil fazem ou devem fazer para contrapor essas interferências?
MA: A informação sobre os danos provocados pelo tabagismo são amplamente divulgadas e estão assimiladas pela maioria das pessoas. No entanto, a indústria tabagista ainda goza de boa reputação entre amplos setores da população. Neste contexto, as organizações da sociedade civil têm o dever de denunciar as ações da indústria que buscam deter o avanço das políticas de saúde e mostrar a contradição que existe entre os interesses econômicos da indústria do tabaco e os objetivos de saúde pública.

ACT: Fale um pouco do relatório que a FIC, ACT e outras organizações publicaram recentemente sobre esse tema.
MA: A publicação relata casos que expõem as estratégias concretas da indústria do tabaco e os esforços realizados pelas organizações da sociedade civil para contrapor e proteger o direto à saúde. Neste sentido, as organizações sociais demonstram ser um ator fundamental no monitoramento e identificação das estratégias usadas pela indústria, em sua documentação e no desenvolvimento de ações e campanhas para denunciá-la e desacreditá-la publicamente.
 

ACT:  Quais políticas são mais efetivas para evitar a interferência?
MA: Sem dúvida, todos os governos deveriam aplicar o artigo 5.3 da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco. Este artigo obriga os Estados Parte a proteger suas políticas de saúde pública dos interesses comerciais e outros interesses da indústria do tabaco, já que é um dever de Estado garantir a saúde como um direito humano acima de qualquer interesse privado. Neste tratado, os países devem estabelecer mecanismos de transparência para prevenir a interferência e, ao mesmo tempo, devem fiscalizar o cumprimento da legislação vigente, já que se não houver fiscalização não será possível atingir uma implementação eficaz.

Em termos de transparência, o Chile tem uma novidade que poderia ser replicada em outros países. O país incluiu em sua lei de controle do tabaco a obrigação de que as empresas de tabaco prestem contas e declarem todos os anos seus gastos em promoção, lobby e responsabilidade social. Esta medida é um exemplo a ser seguido para fortalecer a implementação do artigo 5.3.

As organizações da sociedade civil são chave para expor e denunciar publicamente a indústria do tabaco, mas não se pode perder de vista que são os governos os que têm responsabilidade primária de zelar pelo direito à saúde. Como sociedade civil, nosso compromisso é continuar investigando e denunciando as empresas de tabaco e, ao mesmo tempo, fortalecer a relação com as autoridades do governo, garantindo um avanço cada vez maior do controle do tabaco na América Latina.

 
ACT EM AÇÃO

A Saúde não é Negociável

Este é o título do relatório lançado pela ACT+ em conjunto com organizações da Argentina, Colômbia, Chile, México, Peru e Uruguai.  O estudo compila casos registrados nestes países, nos quais se refletem as táticas das empresas de tabaco para criar obstáculos para a promoção e implementação de políticas de controle do tabaco.

A análise destaca a criação de alianças da indústria do tabaco com diferentes grupos de interesse para impedir o aumento dos impostos dos produtos de tabaco; suas táticas inovadoras para violar as proibições de publicidade, promoção e patrocínio e sua explícita oposição à proibição de aditivos e flavorizantes nos cigarros.

Saiba mais:
http://www.actbr.org.br/uploads/conteudo/969_la_salud_no_se_negocia_2014_po_final.pdf

 

Projetado Para Viciar

Os cigarros feitos atualmente são mais viciantes do há 50 anos. Esta é a conclusão do relatório “Projetado para Viciar”, da Campaign for Tobacco Free Kids. Preparado pelos pesquisadores  David Burns, Eric Donny, Dorothy Hatsukami, Stephen Hecht e  Jack Henningfield, o documento é baseado no último relatório do Surgeon General, o órgão máximo de saúde americano, que constatou que os cigarros de hoje representam um risco ainda maior de doenças.  Os fumantes de hoje têm um risco muito maior de desenvolver câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) do que os fumantes em 1964, apesar de fumarem uma quantidade menor de cigarros. Segundo o relatório, “as mudanças no design e na composição dos cigarros desde 1950” são responsáveis pelo aumento do risco de os fumantes desenvolverem câncer de pulmão.

O relatório está disponível em: http://www.actbr.org.br/uploads/conteudo/967_cigarro_viciante.pdf

 

Advocacy e Políticas Públicas

A ACT+, em parceria com a Diálogo Social, promove curso sobre Advocacy e Políticas Públicas em 18 de novembro, em São Paulo.  Trata-se de um tema de interesse para organizações do terceiro setor, pesquisadores, ativistas e profissionais que atuam na área social e que visam provocar mudanças na sociedade a partir de políticas públicas nas áreas da saúde, meio ambiente, direitos humanos, crianças e adolescentes, educação, direito do consumidor, trabalho, entre outras.

Mais informações e inscrições: http://www.dialogosocial.com.br/advocacy-s351-1.html

Todos Juntos Contra o Câncer

A ACT+  participou, em 24 e 25 de setembro, do 1o Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), em São Paulo, que reuniu especialistas para discutir prevenção, diagnóstico e tratamento de câncer, além de pacientes.

A ACT+ organizou dois painéis. Um deles, intitulado Políticas Públicas e fatores de risco para doenças crônicas não-transmíssiveis, foi moderado pela editora da Folha de S. Paulo, Claudia Collucci. Estavam a consultora para política de álcool da Organização Pan Americana de Saúde (Opas), Maristela Monteiro, o professor da Universidade de Nova York e do Hunter College, Nicholas Freudenberg, especialista no monitoramento das indústrias de tabaco, álcool, automóveis e alimentos para prevenção de DCNTs, o professor do Departamento de Nutrição da Escola de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Carlos Monteiro, e a diretora-executiva da ACT+, Paula Johns.

O outro, Evidências, Alianças e Advocacy, foi moderado pela jornalista Johanna Nublat, da Folha de S. Paulo, e teve como objetivo criar uma oportunidade para as organizações da sociedade civil atuantes na área de combate ao câncer de debater as dificuldades nas diferentes esferas e a melhoria da qualidade e do acesso ao conhecimento. Também foi destacada a importância da atuação em rede pela sociedade civil organizada para acesso aos três Poderes do governo.  Participaram a vice-diretora da ACT+ Mônica Andreis,  o consultor da Opas para DCNTs, Lenildo de Moura, a gerente do  Serviço de Edição e Informação Técnico Científica do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Letícia Casado, o representante do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), e a vice-presidente da Rede de Controle do Câncer na Mulher em Santa Catarina (Recan Mulher), Ronilda Maria Vieira.

 

VII Seminário Alianças Estratégicas

Cerca de 80 pessoas, representantes de organizações da sociedade civil e de órgãos governamentais, participaram do VII Seminário Alianças Estratégicas para o Controle do Tabagismo, organizado pela ACT+, entre os dias 1o e 3 de setembro, em Brasília.

Foram discutidas diversas medidas de controle do tabagismo, sempre com base no tratado internacional do qual o Brasil é signatário, a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco. Entre as medidas, estão a regulamentação da lei 12.546/11, a chamada lei antifumo, a proibição de propagandas de produtos de tabaco em pontos de venda, a proibição de aditivos nos cigarros, que tornam o produto mais atrativo e palatável, especialmente para o fumante iniciante. Também foram discutidos temas como as embalagens de cigarros padronizadas, que não apresentam logomarcas ou cores, os cigarros eletrônicos, a adição de substâncias que tornam os cigarros mais viciantes atualmente do que eram há cinquenta anos, e a questão da fumicultura e a dependência que os plantadores de folha de fumo têm da indústria. 

No segundo dia do evento, foi feita uma visita ao Congresso Nacional e os participantes do evento visitaram alguns parlamentares, para pedir apoio às principais medidas. Houve uma audiência pública sobre tabagismo, com a presença dos deputados Darcísio Perondi e César Colnago, aliados na causa, entre outros. 

Os participantes prepararam uma carta aberta, intitulada “Carta de Brasília”, e uma outra, enviada à presidente da República e ao Ministro do Saúde, requerendo transparência na nomeação do futuro diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os documentos estão disponíveis em:

Carta de Brasília:
http://actbr.org.br/uploads/conteudo/971_CARTA_BRASILIA_VII_FINAL_3.pdf

Carta à Presidência:
http://actbr.org.br/uploads/conteudo/972_Carta_Dilma_3.pdf

 

 
 
NOTÍCIAS

Datafolha: população não votaria em candidatos financiados por indústrias de fumo, armas, álcool e agrotóxicos
ACT, 30/09/2014
A maioria dos brasileiros não quer votar em candidatos que aceitam financiamento das indústrias de fumo (89%), álcool (89%), armas (92%) e agrotóxicos (82%).  E 79% dos entrevistados acham importante saber quem são os doadores de campanhas.
http://www.actbr.org.br/uploads/conteudo/973_Apresentacao_743904_22_09.pptx

ANVISA MANTÉM REVOGADA LISTA COM 121 SUBSTÂNCIAS PARA DERIVADOS DO TABACO
Anvisa, 24/09/2014
A Anvisa decidiu  revogar a norma que autorizou o uso de 121 substâncias aromatizantes para produtos derivados do tabaco. A equipe que analisava as substâncias  não recomendou seu uso em cigarros e outros produtos.
http://www.actbr.org.br/comunicacao/noticias-conteudo.asp?cod=2537

COMO A SUÍÇA RETARDA O FIM DA INDÚSTRIA TABAGISTA
Swiss Info, 26/9/2014
Diante a queda nas vendas de cigarros tradicionais, a indústria do tabaco está investindo em produtos chamados de "poucos riscos".  A Philip Morris  está apostando dois bilhões de dólares para desenvolver e testar seu novo aparelho.
http://www.actbr.org.br/comunicacao/noticias-conteudo.asp?cod=2533

GOVERNO DA FRANÇA QUER RETIRAR LOGOTIPOS DOS MAÇOS DE CIGARRO
Folha de S. Paulo, 25/09/2014
O ministério da saúde francês apresentou uma proposta de medidas duras para erradicar o tabagismo entre jovens, com o lançamento de maços de cigarros sem marca e a restrição da publicidade de cigarros eletrônicos.
http://www.actbr.org.br/comunicacao/noticias-conteudo.asp?cod=2536

 
 

ARTIGO DO MÊS

OS FUMANTES E O TRABALHO
Dráuzio Varella / Carta Capital, 21/09/2014

Justificativas para deixar de contratar fumantes não faltam: em média, eles elevam os custos dos contratos com os planos de saúde, apresentam índices mais altos de absenteísmo e produtividade mais baixa.

Em 2008, a Organização Mundial da Saúde (OMS) introduziu a recomendação de contratar apenas não fumantes, como estratégia de constrangimento para abandonar o cigarro.
Grandes organizações de saúde americanas, como Cleveland Clinic e a Universidade da Pensilvânia, adotaram essa política com o argumento de que seus empregados devem servir de exemplo para a comunidade. Veladamente, resoluções semelhantes têm sido implantadas em outras companhias.

De início justificadas para proteger contra o fumo passivo, medidas como essas estigmatizaram o fumante. Embora haja desacordo sobre o emprego de estigmas em nome de “boas causas”, eles contribuíram de fato para reduzir a prevalência do fumo.

Leia o artigo na íntegra aqui: http://www.actbr.org.br/comunicacao/noticias-conteudo.asp?cod=2532

 
 

ACT LEGAL

Campanha Talvez Malboro: PROCON SP multa Phillip Morris em R$ 1,1 bilhão

Aproveitando-se da demora da regulamentação da lei que proibiu a propaganda comercial de cigarros, a Phillip Morris não só continuou a fazer a propaganda do Marlboro, como o fez de forma abusiva, o que é ilegal, conforme o Código de Defesa do Consumidor.

Esse é o entendimento do PROCON de São Paulo, que culminou na aplicação da multa de R$ 1,1 milhão de reais à Phillip Morris, em relação à mensagem “Talvez (riscado) Vou ser independente” em propaganda com imagem de um jovem empurrando um sofá com vários objetos sobre o mesmo, sugerindo mudança de residência.  Abusiva, dentre outras, é a publicidade que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

Com entendimento similar, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), em resposta a denúncia de consumidores sobre aquela mesma mensagem, considerou que o anúncio induz à relação entre o cigarro e a ideia de liberdade, a uma vida independente e autônoma, que é sonho de todo jovem adulto, recomendando sua sustação.

Na Alemanha, a Corte Administrativa de Munique decidiu pela proibição da campanha, porque estimula jovens com 14 anos a fumar, em violação à lei.

A campanha Talvez Marlboro, realizada globalmente em cerca de 50 países, invadiu padarias, lojas de conveniência e outros tantos locais de venda de cigarros ao longo deste ano em diversas cidades brasileiras. As propagandas trazem mensagens induzindo ao consumo de cigarros daquela marca, relacionando o produto com imagens e mensagens de autonomia, destaque, independência e liberdade: “Vou ser independente, “Vou criar o momento”, “Vou seguir meu instinto”, etc. A palavra “Talvez” aparece riscada com um “x”, dando novo sentido à frase, sugerindo o fim da dúvida e induzindo o consumo daqueles cigarros.

A ACT e outras entidades realizaram estudo sobre essa campanha, em que mostra que documentos internos da indústria do tabaco revelaram que as empresas têm visado historicamente os adolescentes a partir de 13 anos de idade, estudaram os hábitos de fumar de jovens e desenvolveram campanhas de marketing voltadas diretamente para eles.

Regina Blessa, especialista em Marketing, fez uma análise da campanha Talvez Marlboro, e concluiu que ela usa táticas de psicologia, semiótica e propaganda agressivas direcionadas para alcançar os jovens entre 12 e 15 anos, sendo altamente nociva a estes jovens, principalmente aqueles de baixa renda nesta faixa etária. A análise pode ser acessada aqui:

Vê-se que a estratégia de marketing da indústria do tabaco continua a mesma: focar principalmente nos jovens, recrutando assim fumantes substitutos. Para manter os lucros e garantir seu futuro econômico, as empresas devem atrair fumantes jovens para substituir aqueles que morrem de doenças tabaco-relacionadas. Ao atrair jovens consumidores, a indústria sabe isso que pode lhe render muitos anos de lucro pela dependência de uma nova geração.

 
TRANSPARÊNCIA NO STF

A ACT assinou carta junto com outras organizações, cobrando transparência e participação social nos processos de nomeações de ministros do Supremo Tribunal Federal – STF.

O documento, que foi enviado à Presidência da República, à Secretaria Geral da Presidência da República e ao Ministro da Justiça, pleiteia a regulamentação de um procedimento democrático para os processos de escolha e nomeação de novos ministros do STF.

Desde 2011, diversas organizações têm acompanhado e reivindicado maior transparência e participação social para os processos de nomeação de Ministros do STF.  

Assim, as organizações requerem a criação de chamadas públicas de candidaturas, combinada a etapas de divulgação das candidaturas, consulta pública e participação da sociedade nas sabatinas. Com isso, espera-se que o compromisso com os direitos humanos, as perspectivas de gênero e raça sejam critérios estruturantes para escolha de novos ministros.

A carta pode ser lida na íntegra aqui:
http://www.jusdh.org.br/2014/09/15/organizacoes-e-movimentos-cobram-participacao-e-transparencia-na-nomeacao-de-ministrosas-do-stf/

 
 
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