A epidemia de doenças crônicas que agrava o impacto da covid

29.10.20


Nexo

A jornalista de saúde Mariana Varella, a economista Monica de Bolle e a socióloga Paula Johns discutiram o papel da incidência de doenças crônicas na população no contexto da pandemia do novo coronavírus em mesa realizada nesta quinta-feira (29) no “Festival Nexo + Nexo Políticas Públicas”.

As doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão e obesidade, são fatores de risco para a manifestação grave da covid-19. No Brasil, vive-se uma epidemia dessas doenças, com impacto principalmente para a população mais pobre, segundo as painelistas.

64,4%

dos mortos por covid-19 no Brasil tinham alguma comorbidade, segundo boletim epidemiológico de outubro do Ministério da Saúde

Editora-chefe do Portal Drauzio Varella, Mariana afirmou que a prevalência de mortes por covid-19 no SUS (Sistema Único de Saúde) na comparação com as mortes na rede privada não pode ser atribuída apenas a precariedades do sistema público. As doenças crônicas que acometem mais a população mais vulnerável também explicam a diferença. “Com comorbidades, pacientes chegam ao SUS já em estado grave”, disse.

A jornalista comentou que, no país, há uma tendência de se culpar o indivíduo por um quadro de obesidade, por exemplo. Mas outros fatores, como renda e acesso à saúde e à alimentação também têm papel no estado de saúde da população. “O caminho para enfrentar a epidemia de doenças crônicas passa por políticas públicas que modifiquem o ambiente”, disse.

Para De Bolle, pesquisadora-sênior no Peterson Institute for International Economics, nos EUA, o país vive um quadro de sindemia. A expressão, proposta recentemente para definir a crise da covid-19, define a sinergia entre a doença descoberta agora e a epidemia de doenças crônicas que já existia.

Para combater esse cenário, ela defende que o país adote políticas públicas em áreas que se relacionam com a saúde, como a educação e o meio ambiente. Entre os temas que a preocupam está o da segurança alimentar, que ficou evidente quando houve alta no preço de arroz e de outros alimentos in natura durante a pandemia.

Diretora-geral da ACT Promoção em Saúde, Johns afirmou que é preciso pensar nos chamados determinantes comerciais que contribuem para o desenvolvimento de doenças crônicas. “Hoje produtos de péssima qualidade que afetam a saúde são vendidos de forma artificialmente barata, como alimentos ultraprocessados e álcool”, disse. 

A socióloga citou uma decisão de outubro do governo federal de tornar permanente um benefício que subsidia a indústria de refrigerantes. “Por que o dinheiro público vai para esse setor e não para outros?”, questionou. Ela defendeu que o país reveja o sistema tributário, deixando de incentivar indústrias com impacto negativo para a saúde pública.

O debate foi mediado por João Peres, criador do projeto de jornalismo O Joio e O Trigo. Além de conduzir a conversa, ela leu perguntas do público que assistiu ao evento. A exibição ao vivo ocorreu das 17h às 18h30 no canal do Nexo no YouTube. Assista à íntegra:

 

O “Festival Nexo + Nexo Políticas Públicas: o Brasil em debate” é um evento realizado pelo Nexo e o Nexo Políticas Públicas para tratar de temas importantes da agenda pública do país por meio do debate qualificado e da boa disputa de ideias. Com atividades remotas, o evento é gratuito e dura todo o mês de outubro.

Nesta quinta-feira (29), o festival realiza a mesa “Desafios urbanos e os impactos da pandemia” com Eduardo Marques (USP), Henrique Silveira (Casa Fluminense) e Raquel Rolnik (USP) às 17h. 

Na sexta-feira (30), acontece a mesa “A primeira infância nas políticas municipais” com Daniel Becker (UFRJ), Fabiana da Silva (Apadrinhe Um Sorriso) e Mariana Luz (Maria Cecilia Souto Vidigal) às 11h e a mesa “Juventude que constrói o seu futuro” com Monique Evelle (Desabafo Social), Nina da Hora (MIT Technology Review Brasil) e Wellington Lopes (UNEafro Brasil) às 17h.

É possível conhecer o restante da programação e se inscrever no festival por meio do site do evento.

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/10/29/A-epidemia-de-doen%C3%A7as-cr%C3%B4nicas-que-agrava-o-impacto-da-covid




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