Após decisão da Anvisa, como de fato controlar o cigarro eletrônico?
18.07.22Veja
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou recentemente um relatório onde mantém a proibição da venda dos dispositivos eletrônicos fumáveis (DEFs), os chamados cigarros eletrônicos ou vapes. A bem da verdade, eles já estavam vetados desde 2009, mas, à época, a decisão foi tomada de maneira preventiva.
Nos anos seguintes, a sociedade passou a debater o assunto e se aventava, inclusive, a possibilidade liberar o comércio.
Agora, com o uso disseminado no Brasil e os riscos para a saúde já bem conhecidos, a Anvisa revisou a resolução e aprimorou sua posição sobre o assunto. “A área técnica trouxe artigos científicos para contrapor argumentos usados para a venda e analisou em detalhes os produtos encontrados hoje”, comenta Mariana Pinho, coordenadora do Projeto Tabaco da ACT Promoção da Saúde.
O ponto principal foi a revisão da RDC 46/2009, a regra que proíbe o comércio. A entidade incluiu a fabricação na lista de proibições, e a exclusão de um trecho que dizia que empresas poderiam pedir o registro de DEFs, desde que comprovassem que o produto poderia ajudar na cessação do tabagismo e não tivesse impactos ambientais.
“Já temos evidências de que eles não ajudam a parar de fumar e trazem impactos ambientais relevantes”, comenta Mariana.
O cenário hoje
De acordo com os dados apresentados pela Anvisa, os cigarros eletrônicos são mais consumidos por jovens e moradores de cidades grandes. “Temos a impressão de que eles estão super disseminados, mas é uma visão enviesada, porque o produto é caro e não é facilmente encontrado no interior”, comenta Mariana.
A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 mostra que 2,3% das pessoas entre 15 e 24 anos fumam DEFs diariamente. Já o Vigitel, levantamento feito só em capitais, traz uma prevalência de 7,4% no mesmo público.
Levando em conta a população em geral, o percentual é de 0,64%. “E cerca de 70% dos usuários são jovens. É o equivalente a 700 mil usuários”, calcula Mariana. Segundo a Anvisa, esse é o momento de agir antes que esse número aumente.
A importância da conscientização
Outro destaque do relatório é que a Anvisa pede ações adicionais para conscientizar sobre o uso e de fato proibir a venda. Nesse aspecto, é fundamental a realização de campanhas educativas para jovens e adolescentes e a inclusão do tema nas grades curriculares das escolas.
Para Mariana, as campanhas devem focar na comunicação dos riscos do produto. “O sabor e o cheiro agradáveis não querem dizer que o produto não faz mal”, comenta a especialista.
Além da nicotina, os DEFS carregam solventes e outras substâncias tóxicas, algumas desconhecidas, uma vez que não há regulamentação. “Temos registros de transplantes de pulmão por conta do uso e de intoxicação pelo contato com os compostos”, diz.
E a própria nicotina é um problema. “Ela pode vir inclusive em forma de sais de nicotina, que são melhor absorvidos e possuem uma maior capacidade de gerar dependência”, explica Mariana. “É preciso mostrar que a liberdade que o DEF projeta é perdida no momento que o usuário se torna dependente”, completa.
Para isso, além da inclusão do tema nas escolas (por meio de aulas, informativos e rodas de conversa), o ideal é atingir as redes sociais, onde estão os adolescentes.
Entre as medidas para ampliar a conscientização, a Anvisa sugere:
- Capacitação de professores via Ministério da Educação
- Elaboração de material informativo para distribuição nas escolas
- Plano de comunicação sobre os riscos com influenciadores digitais e linguagem adequada a crianças e adolescentes
- Criação de espaço no site da Anvisa para divulgação de riscos do uso de DEFs
- Parceria com a Fiocruz para monitorar o tema nas redes sociais
A fiscalização tem que melhorar
Uma coisa é fato: os DEFs até podem ser proibidos, mas encontrá-los é fácil em grandes centros. Eles são vendidos pelo comércio de rua, em sites e até em aplicativos delivery. “Todo cigarro eletrônico que alguém fuma no país foi comprado ilegalmente”, estabelece Mariana.