As duas pandemias

08.07.20


O Tempo

Em 2020, a pandemia de Covid-19 colocou o mundo em alerta máximo. A comunidade científica global corre contra o tempo para identificar vacina e tratamento eficaz.

Já o tabagismo é considerado pandemia desde 1986 e anualmente mata 7 milhões de pessoas, o que pode piorar ante a Covid-19. Os fumantes apresentam risco duas vezes maior de internações em UTIs, de necessitar de ventilação mecânica e de evoluir para óbito, se comparados a não fumantes infectados.

Doenças associadas ao tabagismo como câncer, doenças cardiovasculares, enfisema e diabetes também oferecem maior risco para as complicações da Covid-19. Substâncias tóxicas do cigarro enfraquecem o sistema imunológico tornando os fumantes mais vulneráveis às infecções.

A Covid-19 pode evoluir com quadro intenso de hipóxia (má oxigenação do sangue), lesões nas paredes internas dos vasos sanguíneos, inflamação e formação generalizada de trombos. O fumante apresenta essas alterações de forma crônica, o que também o coloca em desvantagem.

Células

Os fumantes são mais vulneráveis à invasão do vírus nas células. A toxicidade do cigarro aumenta a expressão da enzima de conversão da angiotensina 2 (ACE-2) na membrana celular, especialmente dos pulmões. É exatamente na ACE2 onde o vírus se encaixa para invadir as células e se multiplicar. Ao deixar de fumar, a expressão da ACE2 tende a normalizar. Após oito horas desaparece a hipóxia, em cerca de 24 horas ocorre a recuperação das lesões dos vasos sanguíneos, e, após duas semanas, a coagulação sanguínea retorna ao normal.

Anualmente o Brasil enfrenta 157 mil mortes precoces e um custo de R$ 57 bilhões com doenças tabaco relacionadas. Ao aumentar a pressão por leitos de UTI e ampliar gastos com equipamentos e insumos necessários para o enfrentamento da Covid-19, o tabagismo ampliará mais ainda essa grave crise sanitária e econômica.

PL 3.199/2020

Na Câmara dos Deputados tramita o Projeto de Lei 3.199/2019, que majora a contribuição para PIS/Pasep e Cofins sobre cigarros, que se aprovado, poderá destinar parte da arrecadação para prevenção e mitigação dos danos do tabagismo inclusive na Covid-19.

Oxalá nossos parlamentares se conscientizem da importância dessa estratégia que muito contribuirá para a qualidade de vida da população brasileira.

Secretária executiva da Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro

** Diretora geral do Instituto Nacional de Câncer (Inca)

https://www.otempo.com.br/opiniao/artigos/as-duas-pandemias-1.2357421




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