Câncer de intestino vira preocupação entre jovens e adultos; conheça os sintomas

24.03.23


Folha de São Paulo

THE NEW YORK TIMES

Num estudo publicado em março pela American Cancer Association, pesquisadores estimaram que o número de diagnósticos de câncer colorretal nos Estados Unidos em 2023 chegará a 153 mil. Cerca de 13% desses casos serão de pessoas com menos de 50 anos, o que representa um aumento de 9% dos casos nessa faixa etária desde 2020.

Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), a expectativa é que o Brasil tenha cerca de 46 mil casos de câncer de cólon e reto no triênio 2023-2025. A expectativa do órgão é que o número de mortes precoces pela doença cresça cerca de 10% entre 2026 e 2030 no país em relação ao período entre 2011 e 2015. Um levantamento feito pelo A.C Camargo Cancer Center mostra que de 1.167 pacientes que receberam o diagnóstico entre 2008 e 2015, 20% tinham menos de 50 anos.

Câncer colorretal vira preocupação entre jovens e adultos, que podem desenvolver versão mais agressiva da doença - Adobe Stock

Desde que chegaram ao auge, em 1985, os novos diagnósticos de câncer colorretal vêm caindo em pessoas com mais de 50 anos, mas a tendência no caso dos mais jovens está indo na direção errada, diz Steven Itzkowitz, professor de medicina e ciências oncológicas na Icahn School of Medicine at Mount Sinai, em Nova York.

E não apenas isso, informaram os autores do novo estudo: os cânceres diagnosticados em pessoas com até 50 anos tendem a ser mais agressivos.

"Estamos vivendo numa época em que pessoas mais jovens, na fase áurea da vida, estão tendo câncer colorretal", aponta Itskowitz. "Se não discutirmos isso a fundo, talvez não tenhamos a oportunidade de causar o maior impacto possível nessa doença."

O QUE É O CÂNCER COLORRETAL E QUEM CORRE MAIS RISCO?

A doença é o terceiro câncer mais comum diagnosticado nos Estados Unidos [e no Brasil, se dispensados os tumores de pele não melanoma, segundo o Inca]. Ele começa com um pólipo, ou crescimento anormal, no intestino grosso, que com o tempo pode se tornar canceroso e potencialmente se espalhar para outras partes do corpo.

 

Homens e mulheres correm risco semelhante de apresentar a condição, e esses riscos aumentam com a idade. Apenas cinco em cada 100 mil pessoas de 30 a 34 anos nos Estados Unidos desenvolvem câncer colorretal, por exemplo, sendo que 61 em cada 100 mil pessoas de 50 a 54 anos o desenvolvem e 136 em cada 100 mil pessoas entre 70 e 74 anos. Negros, indígenas americanos e indígenas do Alasca correm risco mais alto, algo que muitos estudos atribuem a desigualdades sociais e barreiras à assistência à saúde.

Certas condições de saúde, como a obesidade, ou a incorporação de determinados alimentos e bebidas na dieta (como álcool e carnes processadas como linguiça, salame ou salsicha) sabidamente elevam o risco, além do sedentarismo ter o mesmo efeito.

DEVO ME PREOCUPAR SE TENHO MENOS DE 45 ANOS?

Para começar, aponta Nancy Baxter, cirurgiã colorretal e diretora da Escola Melbourne de População e Saúde Global, na Universidade de Melbourne, a incidência crescente de câncer colorretal de início precoce é preocupante, mas o risco de alguém de menos de 50 anos desenvolver esse câncer ainda é mínimo.

"Não quero que as pessoas entrem em pânico", diz Baxter. Entre 1998 e 2019, menos de 15 em cada 100 mil pessoas na faixa dos 20 aos 49 anos teve essa condição diagnosticada. "A idade ainda é o fator que mais influi sobre o risco de câncer colorretal", ela pondera.

Isto dito, você ainda deve ficar atento para os primeiros sinais de alerta, que podem incluir sangramento retal, anemia, alterações nos hábitos evacuatórios (como prisão de ventre nova e repentina) ou qualquer tipo de dor abdominal. As pessoas mais jovens geralmente desenvolvem o sangramento retal como o primeiro sintoma. Médicos acreditam que isso pode acontecer porque seus cânceres tendem a se apresentar próximo ao cólon.

Baxter diz que se você tem menos de 45 anos e tem sintomas preocupantes, procure um médico imediatamente.

POR QUE OS CASOS VÊM AUMENTANDO ENTRE PESSOAS MAIS JOVENS?

Os pesquisadores não sabem ao certo e estão buscando respostas, pontua Itzkowitz, mas algumas alterações nos fatores de risco sugerem pistas.

Segundo Itskowitz, os índices crescentes de obesidade em crianças e adultos podem ser um fator que contribui. Um estudo grande publicado em 2022 concluiu que a obesidade aos 20 ou 30 anos de idade pode mais que dobrar o risco de câncer colorretal de início precoce.

O consumo episódico excessivo de álcool –definido normalmente como cinco ou mais doses de bebida em duas horas no caso de homens, e quatro ou mais no caso de mulheres— também tem sido apontado como possível fator contribuinte. A prática vem aumentando constantemente há décadas entre adultos de até 30 anos.

Mas, segundo Baxter, é provável que haja muito mais que isso envolvido. Os pesquisadores ainda não entendem como fatores de risco na infância –como ter nascido por cesárea, o uso de antibióticos na infância ou a exposição a determinadas substâncias ambientais— podem influir sobre o risco de câncer colorretal de início precoce, nem qual o papel possivelmente exercido pelo microbioma.

O consumo de bebidas açucaradas, por exemplo, que aumentou entre os adolescentes nas décadas de 1980 e 1990, foi vinculado a um risco aumentado de ocorrências precoces de câncer colorretal. Mas não está claro se isso se deve às próprias bebidas açucaradas ou a fatores relacionados, como a diabetes, ou a quaisquer alterações que as bebidas açucaradas podem ter provocado nas bactérias intestinais.

Para Baxter, para entender por que o índice de câncer colorretal vem subindo entre pessoas mais jovens e impedir que essa tendência continue, precisamos responder a esses tipos de perguntas.

POR QUE A DOENÇA EM JOVENS COSTUMA SER MAIS AGRESSIVA?

Uma teoria predominante é que, pelo fato de pessoas jovens terem menos tendência a desenvolver o câncer colorretal que as pessoas mais velhas, para começo de conversa, elas e seus médicos podem deixar passar os sintomas iniciais, levando a diagnósticos mais tardios.

"Já vi pessoas jovens que foram de uma sala de emergência a outra, até que alguém finalmente disse ‘talvez isto seja algo mais preocupante’", falou Baxter.

Por exemplo, um estudo publicado em 2017 no periódico especializado Clinical Gastroenterology and Hepatology constatou que pessoas com menos de 50 anos tendem a esperar por dois meses mais tempo que as que têm mais de 50 para buscar atendimento médico, depois de notar seus sintomas pela primeira vez. Baxter acha que essa janela de tempo pode dar tempo para o câncer avançar. Mas ela destacou que quando os mais jovens buscam atenção médica, o tempo passado até receberem tratamento é comparável ao dos adultos mais velhos.

Mas, segundo Baxter, a razão de esses cânceres aparentemente crescerem mais rapidamente pode estar em sua biologia fundamental.

"Os cânceres que afetam pessoas mais jovens tendem a ser mais inerentemente agressivos", diz. Cientistas descobriram que os cânceres colorretais de início precoce têm características moleculares, epigenéticas e genéticas distintas daqueles que são diagnosticados mais tarde na vida. Essas diferenças podem contribuir para o fato da doença mais avançada quando são diagnosticada.

O QUE POSSO FAZER PARA REDUZIR O RISCO?

Para Itzkowitz, pessoas com menos de 45 anos devem conversar francamente com seus familiares sobre o histórico médico da família.

"As pessoas ou não se dão ao tempo de descobrir sobre seu histórico familiar, ou os familiares têm vergonha de falar do assunto, mas essa é uma coisa fácil que pode ser feita por qualquer pessoa, em qualquer idade."

Se você tiver um familiar de primeiro grau (por exemplo, pai mãe ou irmão) que teve câncer colorretal diagnosticado antes dos 60 anos, ou se você tem dois familiares de primeiro grau diagnosticados em qualquer idade, seu risco é mais alto.

Você não pode mudar seu histórico familiar, é claro, mas existem alguns hábitos que pode adotar em seu estilo de vida para reduzir seu risco.

Tenha uma alimentação saudável. Já foi demonstrado que dietas ricas em carnes processadas (como salsichas, bacon e alguns embutidos) ou carnes vermelhas (como carne bovina, suína ou ovina) elevam o risco de câncer colorretal. As dietas ricas em frutas, verduras e grãos integrais exercem efeito protetor. Mesmo alterações pequenas, como escolher frutas e legumes ricos em fibras como lanches, em lugar de batatinhas chips, ou incorporar "segundas sem carne" em seu plano alimentar semanal, podem fazer uma diferença.

Pare de fumar. Já se sabe que mais de 70 substâncias químicas presentes nos cigarros elevam o risco de câncer, uma vez que danificam o DNA em nossas células. Adesivos, chicletes e pastilhas de nicotina podem ajudar a reduzir o desejo de fumar, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. E há muitos aplicativos gratuitos para smartphone que oferecem dicas, motivação e desafios para ajudá-lo a parar de fumar.

Faça atividade física. Um estudo publicado em 2018 com quase 90 mil enfermeiras constatou que as sedentárias que passavam mais de 14 horas por semana assistindo à TV tinham probabilidade significativamente maior de desenvolver câncer colorretal de início precoce do que aquelas que assistiam TV por menos de sete horas semanais.

Diretrizes federais recomendam que a maioria dos adultos façam pelo menos 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada (como bicicleta, natação ou jardinagem) e façam atividades de musculação dois dias por semana (como flexões e levantamento de pesos).

Reduza o consumo de álcool. Beber álcool em excesso (14 bebidas ou mais por semana, segundo um estudo publicado em 2012) pode elevar o risco de desenvolver câncer colorretal de início precoce. Diretrizes federais recomendam que as mulheres não consumam mais de uma dose por dia e homens não bebam mais do que duas doses.

Mantenha um peso saudável. O índice de massa corporal é um critério imperfeito para medir a saúde, mas pesquisadores constataram que pessoas com IMC inferior a 25 têm risco mais baixo de apresentar câncer colorretal de início precoce. Se você tem dificuldades com seu peso, vale a pena conversar com seu médico. Vários medicamentos aprovados para a perda de peso, como a fentermina ou a liraglutida, são recomendados hoje para adultos com obesidade.

Faça exames preventivos. Especialistas recomendam que a maioria das pessoas comece aos 45 anos a fazer exames preventivos regulares –a colonoscopia ou um procedimento semelhante chamado sigmoidoscopia flexível.

Se você tem histórico familiar de câncer colorretal ou se tiver predisposição genética ao câncer, como se tiver a síndrome de Lynch, por exemplo, ou ainda se tiver uma doença intestinal inflamatória como a colite ulcerosa, seu médico pode recomendar que você comece a fazer exames preventivos antes dos 50 anos. Em tais casos, o convênio médico deve cobrir os exames precoces.

Segundo o estudo recente da American Cancer Association, em 2021, quatro em cada dez americanos com 45 anos ou mais não haviam feito os exames preventivos necessários, e entre as pessoas na faixa dos 45 aos 49 anos, apenas 20% tinham os exames em dia. "Algumas pessoas dizem que o câncer colorretal é o mais evitável mas o menos evitado com que trabalhamos", diz Itskowitz.

Em última análise, afirma, o melhor exame preventivo para pessoas mais jovens é aquele que chega a ser feito. Converse com o médico sobre os prós e contras de cada um para decidir qual é o mais apropriado para você.

Tradução de Clara Allain

 

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrio/2023/03/cancer-de-intestino-vira-preocupacao-entre-jovens-e-adultos-conheca-os-sintomas.shtml




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