Cigarro eletrônico, de palha ou narguilé? Não há níveis seguros para nenhum deles, alertam especialistas

24.11.20


O Globo

RIO — Podem até tentar provar o contrário, mas a verdade científica é que todo tipo de fumo faz mal à saúde. Ao longo da história, a indústria do tabaco tentou desenvolver uma série de produtos almejando diminuir a toxicidade da inalação da fumaça, mas sem êxito. Do cachimbo ao narguilé, passando pelo cigarro eletrônico, médicos alertam: nenhum deles reduz efetivamente os danos.

 

— Tudo que não for ar puro é prejudicial ao pulmão. Mesmo a poluição das cidades grandes é prejudicial. Nenhuma forma de combustão de tabaco, cigarro, narguilé, cachimbo ou charuto, é menos nociva. Todas são cancerígenas e podem levar à doença obstrutiva crônica (DPOC), que se traduz por enfisema — destaca o pneumologista Clystenes Odyr Silva, professor da UNIFESP-EPM.

 

O médico acrescenta que, para quem já tem doença respiratória, como asma, fumar prejudica ainda mais o prognóstico. Para se ter uma ideia dos danos, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), homens que fumam têm 23 vezes mais chances de ter câncer de pulmão do que os que não fumam. Para as mulheres, a proporção diminui, mas ainda é alta: 13 vezes mais.

Entre as principais doenças associadas ao tabagismo, que são cerca de 50, estão, além do câncer de pulmão, diversos outros tipos da doença, bronquite crônica, asma, enfisema pulmonar, infecções respiratórias e doenças cardiovasculares.

Diante disso, o conselho unânime entre os médicos é, claro, não fumar. Nada. Preservar a saúde pulmonar, além de evitar doenças, é necessário para que o órgão esteja bem preparado caso se depare com alguma doença, como a Covid-19, que o ataca principalmente.

— Podemos passar dias sem comer, mas nem um minuto sem respirar. Então, por que colocar lixo no pulmão? Todos esses produtos (à base de tabaco) geram lixo tóxico e ainda fazem com que as pessoas que não fumam inalem essas substâncias — diz Tânia Cavalcante, médica do INCA. — Quem fuma está bombardeando suas células o dia todo com substâncias altamente tóxicas e cancerígenas.

Os mitos

A mais recente novidade na indústria é o cigarro eletrônico. Apesar de ter pouco tempo no mercado — e ser proibido no Brasil, com Anvisa programada para rediscutir o tema no ano que vem —, há indícios de que pode não ser seguro e causar dependência. No ano passado, diversos jovens foram internados e morreram nos Estados Unidos por conta de uma síndrome respiratória grave associada ao dispositivo. Algumas substâncias utilizadas nesses produtos estão sob suspeita, mas não há estudos definitivos.

 

Os dispositivos, diz o pneumologista Paulo Corrêa, professor da Universidade Federal de Ouro Preto, não são uma opção segura. Mas, argumenta, passaram a ser compreendidos equivocadamente dessa forma.

 

— Há pessoas que pensam em parar de fumar e acham que o cigarro eletrônico é uma alternativa segura. Esse é mais um mito que a indústria vai alimentando — destaca, criticando a divulgação em redes sociais em favor destes dispositivos. — Não existe propaganda direta, mas há a indireta. E isso é um problema porque a adição é muito mais rápida nos eletrônicos.

Outra alternativa popular são os cigarros de palha, vistos como menos danosos. Mas os especialistas asseguram que não é bem assim. Corrêa explica que eles são muito mais fortes do que os industrializados. A equivalência é de um para três. Alguns motivos explicam isso, como o fato de a palha ser impermeável, fazendo com que a fumaça inalada seja mais concentrada.

Artesanais não estão isentos

Já os enrolados artesanalmente apresentam outra promessa. Segundo Cavalcante, muitos se apresentam como feitos de tabaco orgânico, “sem química”, e, por isso, não fariam mal.

— Qualquer coisa que queima e se inala é um coquetel molotov para o pulmão por conta do alcatrão, a substância proveniente da queima. É um conglomerado de substâncias altamente tóxicas e cancerígenas que serão colocadas em um órgão vital, o pulmão — alerta a médica.

Os narguilés também têm o mesmo malefício, de forma ainda mais intensa. Estudos mostram que uma sessão do cachimbo oriental equivale a inalar a fumaça de cem cigarros industrializados. Isso porque o volume de alcatrão é maior.

 

— Outro risco é em relação à intoxicação pela inalação de monóxido de carbono, o mesmo gás tóxico que sai dos automóveis, o que diminui a oxigenação no sangue e de níveis de consciência — afirma Cavalcante.

Além dos efeitos para o pulmão por conta da tragada, os narguilés são fonte de transmissão de doenças por conta do compartilhamento. O alerta é redobrado em tempos de Covid-19.

Os malefícios do cigarro industrializado já são mais conhecidos e alvo de campanhas governamentais bem sucedidas há tempos.

— A diminuição do tabagismo no Brasil é uma conquista fantástica. Nos anos 1970, um terço da população fumava. Hoje, isso está em torno de 8% a 9%, mas muita gente ainda fuma e sofre com as sequelas — comenta o professor Clystenes Silva.




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