Como transformar nossos sistemas alimentares?
16.10.20
Folha de S. Paulo
Apesar de o direito humano à alimentação adequada estar contemplado no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a
fome no mundo —considerada a partir de uma estimativa do número de pessoas que não consomem calorias suficientes para viver uma vida ativa e saudável—
vem aumentando nos últimos anos.
Projeções indicam que, até 2030, quase
67 milhões de pessoas serão afetadas por essa situação, ou seja, cerca de 20 milhões a mais do que em 2019. Isso evidencia que precisamos unir ainda mais nossos esforços e fazer mais. Transformar os sistemas alimentares como um todo é fundamental para que possamos obter melhores resultados e reverter esse quadro.
Preservar o acesso a alimentos seguros e nutritivos é —e continuará a ser— uma parte essencial da resposta
à Covid-19, particularmente para as
comunidades mais pobres e vulneráveis, que são as mais afetadas pela pandemia e pela crise econômica. Agora, mais do que nunca, os sistemas das Nações Unidas e Interamericano pedem solidariedade internacional para os mais vulneráveis se recuperarem e que os sistemas alimentares sejam fortalecidos de forma mais sustentável e resiliente. A comida é a essência da vida e a base de nossas culturas e comunidades.
Em um momento como este, é importante reconhecer a importância daqueles heróis da alimentação que, todos os dias, trabalham para que os alimentos cheguem até o prato dos brasileiros e brasileiras, desde a produção até a distribuição e comercialização. Este é também o momento de repensarmos nossos sistemas e ampliarmos o uso de práticas agrícolas inteligentes e ecológicas que incorporem inovação e digitalização para a redução da destruição do habitat, que contribui para surtos de doenças. Portanto, a comunidade internacional precisa fechar a lacuna digital e garantir que a tecnologia flua para os países em desenvolvimento, incluindo também os agricultores familiares.
Para conter os efeitos da Covid-19 entre as populações mais vulneráveis, deve haver coordenação estratégica de políticas nas áreas de saúde, agricultura e proteção social.
A crise econômica, que se amplia em decorrência da pandemia, terá efeitos devastadores sobre as populações mais vulneráveis. É preciso agir rapidamente, pois uma resposta tardia pode criar efeitos colaterais globais. O melhor caminho para isso é praticar a solidariedade e a cooperação como mecanismos para reconstruir melhor, tornando os sistemas alimentares mais resistentes a impactos e mais sustentáveis por meio da natureza e de soluções baseadas na ciência. Isso significará o estabelecimento de medidas políticas e marcos legais que apoiem sistemas alimentares sustentáveis.
Precisamos começar a agir agora para garantir que esses avanços aconteçam no futuro. Mãos à obra!
Rafael Zavala
Representante da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil
Claus Reiner
Diretor de país do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) para o Brasil
Daniel Balaban
Diretor do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP) no Brasil
Christian Fischer
Representante do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Iica) no Brasil
TENDÊNCIAS / DEBATES
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https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/10/como-transformar-nossos-sistemas-alimentares.shtml
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