Para diminuir a obesidade infantil não enfeite os fatos sobre bebidas doces

15.05.19


Sophie Deram, Viva bem, Uol

Um novo estudo da Universidade de Columbia, publicado na revista Academic Pediatrics, sugere que dar às mães fatos claros sobre os riscos à saúde de consumir bebidas açucaradas durante a gravidez e a primeira infância, pode oferecer uma nova estratégia para reduzir a obesidade infantil.

Esse estudo foi baseado na população dos EUA, mas pode nos fazer refletir sobre a situação crítica do Brasil frente ao excesso de açúcares ingeridos, cuja fonte é, muitas vezes, dos alimentos ultraprocessados e das bebidas doces.

Os últimos dados no Brasil mostram que a obesidade está crescendo na população infantil, e mais rapidamente entre crianças de 2 a 5 anos.

"Evidências recentes sugerem que o consumo regular de bebidas açucaradas, seja pela mãe durante a gravidez ou pela criança antes dos 2 anos, pode aumentar o risco de obesidade da criança mais tarde na infância", diz Jennifer Woo Baidal da Universidade de Columbia.

Ligação entre atitudes e comportamento

"Ficamos surpresos com a quantidade de pais e bebês consumindo regularmente bebidas com adição de açúcar. Para influenciar o comportamento, precisamos entender melhor os fatores que influenciam as atitudes dos pais", explica Woo Baidal.

Os pesquisadores observaram que quase 90% dos pais e 66% dos bebês entre 1 e 2 anos que estavam matriculados em um programa local de Mulheres, Bebês e Crianças (Women, Infants and Children WIC program), programa de suplementação nutricional para famílias de baixa renda, consumiam regularmente bebidas açucaradas. Famílias com atitudes mais negativas em relação às bebidas açucaradas eram menos propensas a ingeri-las ou entregá-las a seus bebês.

Esclarecendo Confusão sobre Bebidas "Saudáveis"

No estudo, os pesquisadores conduziram entrevistas e as famílias foram solicitadas a responder a uma variedade de materiais de campanhas de saúde pública e outras intervenções, incluindo mensagens escritas e recursos visuais, sobre o teor de açúcar e os riscos associados à saúde de bebidas açucaradas.

Muitas famílias ficaram confusas sobre quais bebidas eram mais saudáveis do que outras, descobriram os pesquisadores, e ficaram surpresas ao saber que muitos sucos e leites com sabor contém grandes quantidades de açúcar.

As famílias americanas eram mais receptivas aos materiais – especialmente imagens e avisos gráficos – explicando o teor de açúcar das diferentes bebidas e os riscos à saúde que representam para as crianças. Eles indicaram a necessidade de incluir informações sobre bebidas culturalmente relevantes e outras alternativas à água.

Em contraste, as famílias eram menos receptivas a materiais que simplesmente aconselhavam os pais a não consumir sem dar-lhes dados para que pudessem tomar suas próprias decisões informadas.

Apesar desse estudo ser pequeno, as conclusões podem fornecer estratégias mais amplas para combater as mensagens confusas que muitas famílias de baixa renda obtêm sobre o que é saudável e o que não é.

Precisamos explicar de maneira adequada, responsável e ética aos pais, o papel maior da alimentação desde a primeira infância e mesmo antes. Empoderar as populações com um discurso mais positivo e menos redutor frente a alimentos supostamente "vilões". A ciência da nutrição é complexa e sabe-se que não há uma verdade rígida, mas o discurso passado nas redes sociais e mídias é, muitas vezes, negativo e com as colocações de "sem", "sem", "sem". A maioria dos estudos da área de saúde se divulgam de forma negativa, ou seja, ressaltam efeitos prejudiciais ao invés de ressaltarem benefícios. Estudos mostram que dicas positivas, como incluir em vez de restringir, têm um impacto maior na mudança da pessoa. Um exemplo? Incluir mais água ajuda a diminuir o consumo de bebidas açucaradas, como por exemplo: refrigerantes, sucos de fruta ou bebidas com adoçantes que também é interessante diminuir o consumo. Lembrando que a melhor bebida para hidratar o bebê, depois da amamentação integral, é simplesmente água, como foi o posicionamento recente das sociedades americanas e brasileiras de pediatria.

Temos aqui no Brasil um documentário de 2013 bem interessante da Estela Renner, "Muito além do peso", que denuncia esse excesso de açúcares no meio ambiente alimentar das crianças em todas as regiões do Brasil, até mesmo as remotas, e em todas as classes sociais. Temos também um vídeo da IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor) que relata a dificuldade de conhecer a qualidade dos sucos e bebidas doces oferecidas.

É preciso atuar mais para o lado positivo e menos na advertência de um perigo no empoderamento da pessoa. Deve-se fazer com que ela acredite que ela é a melhor especialista do seu corpo e da sua habilidade a comer bem, dando a autonomia da escolha com as bases dos esclarecimentos sobre as opções. Buscar comer melhor e não menos, melhorando qualidade, ou seja, comida mais fresca e caseira e comportamento.

Bon appétit!




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