Soluços persistentes podem ser causados por má alimentação
19.07.21Agora São Paulo
Soluço. Quem nunca teve um? De acordo com especialistas, ele é um processo involuntário provocado por uma irritação na área do diafragma, músculo que divide o tórax do abdômen.
Geralmente, é uma condição benigna, passageira e autolimitada.
Na maioria das vezes, o problema não é grave e pode ser apenas uma reação do sistema gastrointestinal a uma má alimentação ou a um consumo exagerado de bebida alcoólica, por exemplo. No caso dos bebês, acontece porque eles ainda não têm o sistema nervoso totalmente desenvolvido.
Em casos como o do presidente Jair Bolsonaro, que sofreu com o soluço nos últimos dias, o indicado é procurar um médico, diz o gastroenterologista Yves Turke.
O médico afirma que a crise de soluço do presidente foi provocada justamente pela obstrução intestinal, que levou Bolsonaro a ser internado em São Paulo.
Segundo turke, o soluço é um problema multifatorial. “O refluxo é uma das causas mais frequentes de soluço e é causado por algo que a pessoa ingeriu e que irritou o nervo frênico, isso enerva o diafragma que está ligado ao esôfago”, diz. “O intestino ficou dobrado e isso faz pressão no diafragma e na glote. Com isso, ocorre o refluxo e em seguida a crise de soluço”, afirma.
Se o soluço for persistente e vier acompanhado de outros sintomas, pode indicar doenças mais graves. Segundo o médico, problemas como obesidade, sobrepeso, consumo exagerado de bebidas alcoólicas, tabagismo, ansiedade, hérnia, depressão, esclerose múltipla e câncer no cérebro também podem causar esses espasmos e ser um indicativo de enfermidades.
O soluço ainda pode ter origem em alterações metabólicas causadas por alcoolismo ou diabetes não controlado. Pode também vir em decorrência de doenças do sistema nervoso central, como meningite ou tumores, de acordo com o especialista.
Nesses casos, Turke indicaria uma endoscopia ou um ultrassom no pescoço para ver se há algo mais sério com o paciente.
“Problemas gástricos também geram crises de soluços. Quanto mais forte for a irritação, mais forte será o soluço”, enfatiza.
Uma solução é evitar os fatores irritativos. É preciso observar também se a pessoa toma algum remédio que causa irritação.
A melhor forma de conter o soluço é beber água, principalmente gelada, pois a mudança abrupta da temperatura estimula a inervação torácica, regulando o funcionamento do diafragma, segundo indicação do Ministério da Saúde.
No caso de pessoas mais velhas, de acordo com o médico geriatra e professor de clínica geral do Hospital das Clínicas Paulo Camiz, os soluços persistentes e intratáveis podem causar desnutrição, emagrecimento, insônia, cansaço e estresse. Esses tipos de espasmo ocorrem principalmente em homens idosos.
Camiz explica que dificilmente o soluço passa de 48 horas. Se passar disso, é preciso investigar a causa. “Soluços estão relacionados ao sistema digestivo e se resolvem sozinhos. Mas as causas físicas são maioria nos homens e, nas mulheres, as causas são mais psicológicas”, enfatiza. “E os idosos são mais vulneráveis e suscetíveis.”
Segundo ele, o sinal de alerta acende quando a pessoa está ficando cansada por conta do soluço ou quando aumenta de frequência de casos que duram por mais 48 horas. “Para tratar, é preciso resolver a causa física relacionada à parte digestiva e aos problemas no esôfago. Com o passar dos anos, existe uma chance maior que a pessoa tenha mais problemas.”
- Causas gerais
- Obstrução intestinal
- Irritação no diafragma
- Refluxo
- Obesidade
- Sobrepeso
- Consumo exagerado de bebidas alcoólicas
- Entrada de ar nos pulmões a uma velocidade muito maior que o normal
- Mascar chicletes
- Uso de medicamentos (anestésicos, corticoides, ansiolíticos)
Em casos mais graves, pode indicar problemas como
- Depressão
- Hérnia
- Câncer no cérebro
- Esclerose múltipla
- Pneumonia
Solução
- O próprio organismo cuida
- A partir 24h, se não melhorar, procure médico
Medicação
- Somente um médico especialista pode indicar o remédio ideal para o problema
- Exames como endoscopia ou ultrassom no pescoço
Crendices populares: como funcionam
Prender a respiração
Prender a respiração eleva a quantidade de moléculas de gás carbônico (CO2) na corrente sanguínea, o que faz com que o cérebro atue no sentido de contrair o diafragma
Beber água gelada
A ingestão de água gelada atua no sentido de estimular, pela mudança de temperatura, um nervo que também age sobre o diafragma
Levar um susto
O susto provoca um alerta que libera, na corrente sanguínea, um composto químico chamado catecolamina, que é capaz de regular o funcionamento do nervo frênico (responsável pelo processo de inspiração do diafragma)
Prender a respiração
Prender a respiração por alguns segundos e soltar o ar aos poucos. Esta manobra pode acabar com soluços leves, pois ajuda a relaxar o diafragma e diminui os impulsos nervosos que desencadeiam os espasmos do músculo
Soprar contra resistência
Soprar contra a mão, por exemplo, faz crescer a pressão intra-abdominal, aumentando a resistência sobre o diafragma e organizando seu funcionamento. O mesmo acontece ao soprar um saco ou uma bola de aniversário
Fontes: Ministério da Saúde; Paulo Camiz, médico geriatra e professor de Clínica Geral do Hospital das Clínicas; e Yves Turke, médico gastroenterologista