21% das calorias que brasileiros consomem vêm de alimentos industrializados

23.10.17 - Uol


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 A sua alimentação é feita de produtos industrializados? Se você é do time dos que detestam cozinhar, adora um salgadinho de pacote e não dispensa o refrigerante no dia a dia, você está mais predisposto a doenças crônicas.

O professor e pesquisador Carlos Augusto Monteiro, da USP (Universidade de São Paulo), apresentou dados sobre o consumo de alimentos ultraprocessados e suas implicações sobre a saúde, no 21º Congresso Internacional de Nutrição, em Buenos Aires, na Argentina. Segundo o professor, ⅕ das calorias ingeridas pelo brasileiro vem desses alimentos industrializados. Ou seja, 21%.

EUA e Reino Unido são campeões em consumo de processados

A pesquisa comparou oito países: Brasil, Reino Unido, Austrália, Estados Unidos, Canadá, Chile, Colômbia e México (neste caso, dados ainda preliminares). Estados Unidos e Reino Unido lideram com um número impressionante: quase 60% das calorias diárias ingeridas nesses países vêm desse tipo de alimento que é rico em gordura, açúcar e sal e pobre em nutrientes e fibras. Além disso, tem muitos aditivos alimentares, como corantes e aromatizantes, para melhorar seu sabor e aumentar a vida de prateleira.

Evidências científicas e relatórios da OMS (Organização Mundial de Saúde) estabelecem uma associação direta entre dietas desbalanceadas e um aumento no risco de desenvolver doenças crônicas, como hipertensão, obesidade, diabetes e cardiovasculares. “O que percebemos aqui é que o que colocamos no nosso prato importa”, diz Monteiro, pioneiro na proposta de uma classificação dos alimentos de acordo com o grau de processamento utilizado. Para ele, os ultraprocessados nem deveriam ser chamados de comida. "Eles são, na verdade, formulações feitas com ‘aditivos cosméticos’, substâncias para dar sabor, cor, aroma, textura e tornar o produto mais palatável”, afirma.

“Estamos mudando de um cenário que incluía dietas baseadas em comidas frescas preparadas na hora e pratos feitos com produtos não-processados ou minimamente processados para dietas baseadas em ultraprocessados”, analisa Jean-Claude Moubarac, que apresentou os dados comparativos de Estados Unidos e Canadá.

Impacto sobre a saúde

Todas as dietas analisadas nesses países são muito similares: os grupos que mais consumiam ultraprocessados, também ingeriam, por tabela, uma quantidade maior de açúcar livre e gorduras (trans e saturadas). Em contrapartida, tinham um consumo reduzido de fibras, proteína e micronutrientes, como potássio e vitamina A, considerados essenciais para uma boa saúde.

Não por acaso, os Estados Unidos apresentam as maiores taxas de obesidade do mundo, de acordo com a OECD (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Austrália, Reino Unido, Canadá e Chile também estão entre os 10 mais obesos. O Brasil já tem mais da metade da população acima do peso, sendo que 18,9% estão obesos. E as doenças acompanham: o Vigitel 2016 revelou que as doenças crônicas estão avançando, com aumento de 61,8% de diabetes e 14,2% de hipertensão em uma década.

Classificação dos alimentos segundo o processamento

Monteiro participou da elaboração da segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, de 2014, para orientar profissionais e consumidores a fazerem escolhas mais saudáveis no dia a dia --inclusive, deixando no passado as pirâmides alimentares.

De acordo com essa classificação proposta no Guia, batizada de NOVA, os alimentos podem ser divididos em quatro categoriais:

Não-processados ou minimamente processados (basicamente, os mais naturais e frescos, sem nenhuma substância adicionada para que dure mais);
Ingredientes culinários (substâncias extraídas de comidas ou da natureza e usadas para preparar, cozinhar, e temperar os alimentos do primeiro grupo, como sal, açúcar, óleos e gorduras);
Processados (aqueles alimentos provenientes do grupo um, que foram modificados pela adição de sal, açúcar, óleos e gorduras para preservar e melhorar suas qualidades sensoriais, como os pães frescos, queijos, iogurte natural, conservas, frutas em calda, etc.); e
Ultraprocessados (formulações ou substâncias derivadas de alimentos que recebem aditivos com a intenção de ser duráveis, convenientes e irresistíveis ao paladar).


Menos marketing, mais cozinha

Não se trata, porém, de uma guerra contra a indústria, como explicaram os pesquisadores. “O processamento de alimentos é uma prática antiga da humanidade, vital, que nos permitiu conservar os alimentos por mais tempo, uma prática que vinha se desenvolvendo gradualmente”, explica Moubarac. “Mas é que, quando a indústria passou a cuidar desse processamento, ocorreu uma mudança rápida e drástica nesse cenário”, afirma. Por isso, o que se propõe é que se possam fazer alterações nas formulações para deixá-las melhores do ponto de vista nutricional.

“Se você toma um suco de saquinho em que basta adicionar água, você não está tomando suco de laranja. Da mesma forma, se está comendo um biscoito recheado, não está comendo uma fatia de bolo caseiro”, completa. Assim, é importante não se render aos apelos das propagandas, especialmente no caso das crianças, cujos hábitos alimentares estão em formação. “Esses produtos são pensados para serem hiperpalatáveis por design, as pessoas não conseguem parar de comer”.

Para os especialistas, uma forma de trazer mais alimentos naturais para a dieta é voltar ao hábito de cozinhar com frequência. E, claro, com receitas que priorizem ingredientes frescos com uso moderado de açúcar, sal e gorduras.

Pesquisadores dão dicas para quem deseja promover trocas saudáveis na dieta:

Evite ao máximo o consumo de ultraprocessados --salgadinhos de pacote, pães industrializados (como os de forma, hot dog e hambúrguer), guloseimas, balas, biscoitos, refrigerantes e bebidas adoçadas, etc.-- em particular no caso das crianças. Como eles são hiperpalatáveis, é mais fácil comer além da conta.

Aos que consomem os ultraprocessados com regularidade, a dica dos pesquisadores é fazer as substituições aos poucos. Comece preferindo alimentos processados, como pães frescos da padaria em vez daqueles de pacote, e iogurte natural àqueles cheios de ingredientes artificiais.

Dê preferência a uma dieta baseada em produtos frescos e minimamente processados, como hortaliças, carnes, cereais, grãos, frutas, ovos. O arroz e feijão do brasileiro representa muito bem esse exemplo.

Use sal, óleos e açúcar com moderação no preparo dos pratos e procure explorar outros sabores na sua cozinha, como especiarias e temperos.

Se estiver fora de casa, prefira restaurantes que servem comida fresca (no caso do Brasil, os restaurantes por quilo são excelentes nesse aspecto).

Cozinhe mais em casa, principalmente receitas balanceadas e saudáveis, chame as crianças para ajudar, e se proponha a compartilhar informações com amigos e família.



Link: http://bit.ly/UltraprocessadosDCNT

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