Cresce o cerco contra os alimentos de mentira

23.03.18


Ciência informa

A primeira notícia a ser comemorada: nosso vizinho Chile iniciou o necessário contra-ataque à indústria dos alimentos de mentira, estabelecendo regras que alteram rótulos e limitam a venda de alimentos açucarados a crianças. Não sobrou para ninguém: do carismático Tony, o tigre da Kellogg’s, ao atlético Chester Cheetah, o personagem dos salgadinhos Cheetos. Até o aparentemente inofensivo chocolate Kinder Ovo, que traz em seu interior um brinquedinho-surpresa, foi banido.  Essas são medidas que fazem parte de uma austera, ambiciosa e justificada ação de saúde pública do governo chileno a fim de atenuar os crescentes índices de obesidade que assolam este país, a exemplo do que ocorre com praticamente todos os outros do globo. Sobretaxação de produtos com alto teor de açúcar, como refrigerantes, proibição de propagandas de junk food das 6h às 22h e sinalizações de advertência (PARE!) nos rótulos de produtos que contêm alto teor de sal e açúcar, bem como excesso de calorias ou gordura satura são outras medidas que compõe o pioneiro plano chileno.     

Evidentemente, a indústria tem reagido, alegando, dentre outras coisas, que o governo comete abuso de poder. O diretor da associação setorial Chilealimentos, por exemplo, declarou que as restrições ao marketing desses produtos se baseiam em “correlações cientificamente inapropriadas entre a promoção de alimentos insalubres e o ganho de peso”.

Sabe aquela sensação de que já ouviu isso antes? Pois é...



A pressão da indústria para derrubar a lei atual será grande e não sabemos quanto tempo os governantes resistirão. Talvez, ajustes e refinamentos legais, desde que não descaracterizem a iniciativa de reduzir o consumo desses produtos sabidamente nocivos à saúde da população, possam ser necessários a fim de adequar a implementação dessas medidas em cada país. No entanto, como declarou à Folha o colega da USP Prof. Carlos Monteiro, expoente na busca por uma alimentação saudável para a população brasileira, “(...) nenhum país está obtendo sucesso em controlar (a epidemia de obesidade) sem regulamentar o ambiente da alimentação. Fazer nada deixou de ser opção”. Que a mensagem ressoe aos tomadores de decisão no Brasil.


Até a próxima!

Bruno Gualano - Blog Ciência InForma

www.cienciainforma.com.br

 

Para saber mais, ler:

Colluci, C. Brasil terá arrojo do Chile em rótulos de alimentos insalubres? Folha de S. Paulo. 13/02/2018.

Monteiro CA et al., Ultra-processed products are becoming dominant in the global food system. Obes Rev. 2013 Nov;14 Suppl 2:21-8. doi: 10.1111/obr.12107.




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