Efeito pior que cigarro comum: ambos causam malefícios irreversíveis

02.06.23


O Tempo

O residente em clínica médica Augusto (nome fictício), de 27 anos, virou tabagista ainda na faculdade, em 2016. “Experimentei o cigarro de palha, gostei e criei o hábito”, lembra. Quatro anos depois, querendo reduzir danos do fumo artesanal e interessado pelas essências do eletrônico, aderiu ao vape. Ele conseguiu parar com a palha no fim de 2020, mas seguiu com o eletrônico até o fim do ano passado. “Parei por peso na consciência. Por ser da área da saúde, entendo um pouco sobre como o processo de doença ocorre. Hoje não uso nenhum e não penso em voltar”, relatou.

O uso de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) foi erroneamente associado como alternativa para quem quer cessar o tabagismo. “O DEF é ainda pior do que o outro. O convencional, de certa forma, já se sabe tudo o que esperar dele. São décadas de pesquisas”, declarou o pneumologista Paulo Corrêa, coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

Segundo ele, ainda há muito o que entender sobre o cigarro eletrônico, mas já se sabe que ele causa doenças gravíssimas e específicas, como a Evali (sigla em inglês para lesão pulmonar induzida pelo cigarro eletrônico). “É uma enfermidade aguda, que pode matar de um dia para o outro. Quando não mata, causa deformação. A pessoa só sobrevive se fizer transplante”, completa.

Outra enfermidade comum relacionada aos DEFs é a perfuração do pulmão. Chamada de pneumotórax, ela é caracterizada pela presença de ar entre as duas camadas da pleura (membrana que reveste os pulmões), o que resulta em colapso parcial ou total do pulmão. Há riscos também de vazamento e inalação de metais pesados da bateria do dispositivo e de pneumonia química, que é pouco comum em usuários de cigarro convencional.

Além disso, o dispositivo traz todos os problemas do cigarro convencional. “Ele tem nicotina, causa dependência, tem substâncias cancerígenas, causa doenças cardiovasculares, redução no crescimento intrauterino e ainda pode explodir”, aponta a pesquisadora e professora de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Deborah Malta.

O Brasil reduziu em 40% o número de fumantes entre 2006 e 2018, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). A baixa, porém, é ameaçada pelos vapes. Para barrar essa ascensão é preciso comunicar melhor os riscos do eletrônico, segundo Mariana Pinho, coordenadora do projeto Tabaco da ACT Promoção da Saúde, entidade de saúde pública. “É importante parar de dizer ‘vaporar’, pois passa uma ideia de água. O vape produz aerossol, que são micropartículas potencialmente cancerígenas”.

Para Deborah Malta, pesquisadora de tabagismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), outro ponto é a falta de fiscalização: “São várias fake news relacionadas ao cigarro eletrônico. Em função da falta de regulação das redes sociais, ele acaba sendo divulgado por subcelebridades na internet como saudável ou sem nicotina. Há falha do poder público, mas destaco também a nossa incapacidade de enfrentar adequadamente as fake news”.

Explodiu! Além dos malefícios causados pelas substâncias, o cigarro eletrônico pode ainda explodir e machucar o usuário. Em 2012, um dispositivo estourou no rosto de um homem na Flórida (EUA). Ele perdeu dentes e parte da língua. Já no mês passado, a explosão ocorreu em um voo na Suíça.

Entenda. A nicotina é uma droga psicoativa, presente nos cigarros convencionais e também na maioria dos cigarros eletrônicos. Ela é o princípio ativo do tabaco e pode provocar dependência em nível semelhante à cocaína, à heroína ou ao álcool, segundo o Ministério da Saúde.

https://www.otempo.com.br/cidades/efeito-pior-que-cigarro-comum-ambos-causam-maleficios-irreversiveis-1.2880150




VOLTAR



Campanhas



Faça parte

REDE PROMOÇÃO DA SAÚDE

Um dos objetivos da ACT é consolidar uma rede formada por representantes da sociedade civil interessados em políticas públicas de promoção da saúde a fim de multiplicar a causa.


CADASTRE-SE