Nuvem de fumaça: uso de cigarro eletrônico em MG é maior que no Brasil

02.06.23


O tempo

Apesar de ter apenas 22 anos e fazer exercícios pelo menos três vezes por semana, o universitário Roberto (nome fictício), morador de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, começou a sofrer com uma tosse seca, mais incessante no período noturno, por quase dois meses. Ele não havia mudado nada na rotina, com apenas uma exceção: influenciado pelos colegas da faculdade, tinha comprado um cigarro eletrônico na internet. “Eu usava pouco, só quando saía para algum bar ou algumas vezes após a aula, mas foi suficiente para eu ficar ruim. Só melhorei depois que joguei o vape fora”, contou.

O relato do jovem, infelizmente, é mais comum do que se imagina e se refere ao uso de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), chamados popularmente de “vape” e “pod”, que se tornaram febre entre jovens e adolescentes no Brasil. Em Minas Gerais, 8,8% do público entre 13 e 17 anos disse ser usuário de algum tipo de cigarro eletrônico, índice maior que a média nacional (6,8%), segundo a mais recente Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019. Embora a produção, a venda e a importação do equipamento sejam proibidas no Brasil desde 2009 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não é difícil encontrar o produto no comércio formal e informal.

“Nos causou muita estranheza um produto não registrado, proibido, com essa frequência tão alta de experimentação”, diz a pediatra e professora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Deborah Malta, que coordena estudos sobre o tema.

Combate. Na semana do Dia Mundial sem Tabaco, celebrado na quarta (31), a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) lançou uma campanha de prevenção à iniciação juvenil aos DEFs, focada no entorno de escolas. “O cigarro eletrônico está sendo utilizado amplamente por adolescentes e jovens. Ele preocupa porque é uma porta de entrada para outras drogas e para a dependência de cigarro, o que pode trazer danos irreversíveis ao pulmão”, ressalta Nayara Resende Pena, coordenadora de Programas de Promoção da Saúde e Controle do Tabagismo da secretaria.

Moderno, dispositivo seduz nativos digitais

O cigarro eletrônico tem design moderno, pluga no computador, tem luzes de LED e não libera fumaça fedida – ou seja, é um dispositivo estrategicamente pensado para os jovens. Mesmo o valor não sendo muito acessível – entre R$ 100 e R$ 1.000 –, o produto se consolidou como opção entre os fumantes. “Ele é feito por indústrias que produzem o cigarro tradicional. Arrumaram um dispositivo que conversa com os nativos digitais. E ele não é bonzinho, é até pior”, analisa o pneumologista Paulo Corrêa, coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
 
Mariana Pinho, coordenadora do projeto Tabaco da ACT Promoção da Saúde – entidade de defesa de políticas públicas de saúde –, explica que a febre do vape é forte porque, além de serem tecnológicos, eles são expostos frequentemente em redes sociais, sem nenhum aviso sobre os riscos à saúde. “É muito atrativo para quem está conectado, em especial os mais jovens. Ele alcança um público mais vulnerável ao apelo da tecnologia e é uma porta para o tabagismo”, disse.

Precocidade. Em Belo Horizonte, 15% dos estudantes fumaram cigarro eletrônico pela primeira vez com 13 anos ou menos, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense) de 2019.

Proibido. O uso de vapes é proibido em locais fechados no Brasil. “A Lei Antifumo veda a utilização de cigarros ou qualquer outro produto fumígeno em recinto coletivo fechado, privado ou público”, explica o advogado cível Phelipe Cardoso. Cabe multa de até R$ 490 ao usuário e R$ R$ 980 ao estabelecimento que descumprir.

https://www.otempo.com.br/cidades/nuvem-de-fumaca-uso-de-cigarro-eletronico-em-mg-e-maior-que-no-brasil-1.2880141




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