O uso do cigarro eletrônico: consequências para a saúde e aparelho respiratório

12.12.17


Folha de S. Paulo - Riccardo Polosa

O cigarro eletrônico (CE) vem ganhando rapidamente terreno mundo afora. Sua crescente popularidade mostra que muitos fumantes adultos estão dispostos a usar essa forma tecnológica e alternativa ao cigarro tradicional para reduzir o consumo. Conta a seu favor ainda o fato de que eles podem ser usados em áreas internas, têm preços competitivos e podem ser uma alternativa menos prejudicial à saúde.

A confirmação do potencial de redução de dano do CE ainda vai levar algumas décadas. Entretanto, já é possível detectar mudanças agudas na função das vias aéreas e dos sintomas respiratórios em fumantes que trocaram o cigarro convencional pelo vapor gerado através de dispositivos eletrônicos, também conhecidos como o e-vapor.

A toxicologia do e-vapor em condições normais de uso é de longe menos problemática do que a dos cigarros convencionais. Usuários exclusivos de CE têm níveis de substâncias químicas indesejáveis (tóxicas e carcinogênicas) presentes na fumaça dos cigarros, medidos na urina, significativamente menores quando comparados aos fumantes de cigarros.

Considerando-se que a inalação é o mecanismo de exposição para o uso do CE, o aparelho respiratório também é o alvo lógico para a investigação de quaisquer efeitos potenciais de substâncias químicas presentes no e-vapor. Sintomas de irritação podem ocorrer em usuários de CE hipersensíveis ao propileno glicol, presente no e-vapor.

A questão se a irritação pode ou não ser traduzida em doença pulmonar clinicamente significativa permanece sem resposta, mas certamente até hoje não há evidência de efeitos adversos para os pulmões, pelo menos de forma aguda.

Estudos clínicos com consumidores de CE bem caraterizados seriam mais informativos para uma investigação a respeito das consequências do uso desses dispositivos. No entanto, tais estudos são muito exigentes devido a diversos desafios metodológicos, logísticos, éticos e financeiros. Uma abordagem com um desafio menor seria a avaliação in vitro de células epiteliais do pulmão humano.

No entanto, da mesma forma, essas abordagens também apresentam falhas inerentes, pois os resultados não podem ser diretamente extrapolados para humanos.

Além disso, padrões para a produção do e-vapor e os protocolos de exposição ainda não foram claramente definidos, aumentando o risco de subestimar ou de superestimar a interpretação dos efeitos tóxicos nesses modelos investigativos. Assim sendo, não causa surpresa encontrar divergências na literatura, com autores informando resultados distintos sobre CE.

Na Universidade de Catânia, na Itália, estruturamos um programa de pesquisa clínica integrado caracterizado por uma abordagem minimalista. Usamos testes funcionais respiratórios altamente sensíveis para detectar possíveis mudanças do dano subclínico em fumantes 'saudáveis' que trocaram para o CE, ou investigações da função respiratória menos sensíveis, porém mais robustas, para explorar mudanças em consumidores de CE com doença pulmonar pré-existente.

Os resultados iniciais são promissores e, em linhas gerais, suportam os benefícios do uso do CE em relação a consequências respiratórias, tanto durante o período saudável, quanto durante a doença.

Em comparação com cigarros convencionais, os produtos de e-vapor são pelo menos 96% menos prejudiciais, podendo reduzir substancialmente o risco individual e danos populacionais.

Muito embora se justifiquem pesquisas futuras e estudos longitudinais para elucidar se os CE são ou não uma alternativa menos prejudicial aos cigarros convencionais, a crescente evidência de que o uso do CE pode reverter os danos do tabagismo deverá ser levada em consideração pelas autoridades regulatórias para a adoção de medidas proporcionais para a categoria e-vapor.

RICCARDO POLOSA é diretor do Instituto de Medicina Interna e de Emergência da Universidade de Catânia (Itália)




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