Interferência da Indústria do Tabaco

Para continuar no mercado e poder vender seus produtos e conquistar novos usuários, a indústria do tabaco usa várias estratégias para confundir, enganar, dissimular, espalhar boatos e criar mitos sobre alguns temas de controle do tabagismo. Na tabela abaixo, listamos como responder a algumas estratégias da indústria.

 

O que a indústria e seus aliados fazem

Como os profissionais de promoção da saúde podem reagir

A indústria financia ou cria grupos de frente

  • Indústria da hospitalidade

  • Direitos dos fumantes

  • Contra intromissão governamental

  • Pela liberdade empresarial

  • Pela liberdade de expressão

Princípio de promoção da saúde para a coletividade
Direito ao ar limpo
Negócios e empresas já são regulamentados: você gostaria de encontrar uma barata na sua comida ou benzênico no sistema de ar-condicionado?
Questione as motivações e as fontes de financiamento desses grupos – prática recorrente da indústria.

Argumentos sobre perda de empregos e retrações nos lucros

As únicas pesquisas que indicam perdas econômicas são financiadas pela indústria do fumo.

As pessoas gostam de ter liberdade de escolha, porque não chegar num acordo?

As toxinas do ar não ficam restritas às áreas para fumantes 
A maior parte da população apóia ambientes livres de fumo

Porque não instalar equipamentos de ventilação, espaços para fumantes e mecanismos de limpeza do ar?

Mecanismos de ventilação e limpeza do ar não funcionam
Sistemas de ventilação e exaustão que possam ser eficientes custam caro na sua fabricação e manutenção e sua eficácia precisa ser fiscalizada, o que significa um número maior de técnicos pagos com dinheiro público. De qualquer forma, é impossível um total isolamento das partículas no ar, e os trabalhadores que são obrigados a servir e limpar essas áreas estarão expostos. Não é justo com os pequenos empresários. Ambientes 100% livres de fumo beneficiam a todos igualmente.

Tentativas de criar exceções baseadas no tamanho do ambiente, tipo de negócio, clientela, etc.

Recuse exceções – quanto mais exceções mais difícil implementar a lei. Fica confuso interpretar as exceções corretamente.

A freqüência de turistas vai diminuir

Não há evidência que sustente esse argumento.  As pessoas fazem turismo atraídas pelas atrações e beleza dos lugares escolhidos e não por poderem ou não fumar num bar ou restaurante.

Legislação de ambientes livres de fumo “não pega” no Brasil

No Brasil as leis acompanhadas de um sistema de fiscalização e multa, a exemplo do que aconteceu com a Lei do cinto de segurança pegam. Também é necessário uma campanha de educação para que o público entenda o porque da Lei. Os proprietários dos estabelecimentos que não cumprem a lei devem ser multados. 

O país terá que criar um “policiamento para o tabagismo”, muito dispendioso 

Não há necessidade disto e nunca foi esta a intenção – se necessário, podem ser utilizados inspetores de segurança e saúde já atuantes.

Funcionários não querem um ambiente de trabalho livre de fumo

A maioria apóia estas políticas e não fuma. Aqueles que fumam podem acessar programas para interromper o tabagismo e serão informados sobre disponibilidade destes Programas de Cessação

Trabalhadores têm direito de fumar

Trabalhadores têm direito de um ambiente de trabalho seguro e saudável

Tabagismo agora, o que vem depois? Chocolate?  Parem de tirar os direitos das pessoas

A fumaça ambiental de tabaco (FAT) é um conhecido poluente do ar, prejudicial à saúde. O único modo de controlar a exposição é através da eliminação da fonte: os cigarros acesos. Trata-se de um direito de todos à saúde – mantenha a estrutura de saúde como prioridade

Por que precisamos de uma lei? Políticas voluntárias têm funcionado bem

O único modo de assegurar uma base justa e um ambiente de trabalho seguro e saudável é através da legislação – mesmo “boas” políticas voluntárias, aquelas que visam 100%, atingem apenas pequena porcentagem do público e trabalhadores.

Não há prova conclusiva de que a FAT é danosa

As únicas pessoas que acreditam nisto são as que foram pagas pela indústria de tabaco. Mostre os milhares de estudos científicos, em contrapartida aos poucos relatórios patrocinados pela indústria

Estudos econômicos que dizem que os negócios não serão prejudicados são tendenciosos

Os únicos estudos tendenciosos são os patrocinados pela indústria de tabaco mostrando que há perdas nos negócios. Esteja alerta sobre a metodologia adequada e o tempo de seguimento nos estudos da indústria. (Observe que estudos legítimos mostram mudanças de curto prazo que não duram muito)

Depois que a lei é aprovada, a atenção da mídia focaliza poucos incidentes negativos

Analise estes incidentes isolados – certifique-se de trabalhar com a mídia sobre histórias bem-sucedidas para contrapor táticas de medo da indústria. Negócios de entretenimento têm muita rotatividade, mas após a lei, eles irão culpá-la pelo fracasso deles. Prepare-se sabendo qual a taxa usual de abertura/fechamento de bares, restaurantes e cafés.  

Ameaças de ações legais serão feitas para tentar obter um referendo

A legislação de segurança e saúde pública existente pode geralmente garantir a lei. Um referendo é um desperdício de dinheiro, se ele acontecer, certifique-se de contar com o apoio público. Uso da estrutura existente permanece como um trabalho do governo (e não intrusão ou remoção de direitos) p/ proteger a saúde pública.

Fonte: Stella Aguinaga Bialous, Presidente do Tobacco Policy International, San Francisco, EUA

Para mais detalhes, acesse (em inglês):

 

Interferência no Poder Judiciário

A ACT Promoção de Saúde é uma das entidades que integra a Rede JusDh, que atua pelo questionamento da adequação democrática da estrutura, organização e cultura das instituições e agentes do sistema de justiça, em especial do Poder Judiciário. Por meio dessa rede, a ACT denuncia a presença e a influência da indústria tabagista nesse processo de “captura” do Poder Judiciário, para garantir decisões a seu favor.

A Rede JusDh relatou as estratégias usadas pela indústria tabagista ao Relator Especial das Nações Unidas, sendo a principal delas o patrocínio de eventos da magistratura, o que compromete seriamente a independência judicial dos magistrados e advogados em favor de uma das grandes litigantes do Poder Judiciário. A despeito de serem denominados pelas fabricantes de cigarro como exercício de responsabilidade social empresarial, esses patrocínios servem na realidade para dar publicidade aos seus produtos e garantir decisões favoráveis ao setor.

Para saber mais, confira os seguintes links:

 

 

Relatório elaborado pela STOP: Vício a Qualquer Custo – Phillip Morris International revelada

O STOP é uma parceria entre o Grupo de Pesquisa sobre Controle do Tabaco da Universidade de Bath, o Centro Global de Boa Governança no Controle do Tabaco, The Union e Vital Estrategies, com financiamento por meio de parceria com a Bloomberg Philanthropies.

O relatório intitulado Vício a Qualquer Custo – Phillip Morris International revelada, divulgado em março de 2020, mostra que:

  • Em janeiro/2018, a fabricante de cigarros Philip Morris International (PMI) anunciou seu objetivo de criar um "mundo sem fumaça" e parar de vender cigarros com combustão, contudo, a empresa continua a perpetuar a epidemia de tabaco que já causou. 
  • Longe de incentivar as pessoas a deixarem de fumar, a PMI investiu em novas marcas de cigarros, comprou novas parcelas do negócio de cigarros, contestou judicialmente regulamentações nacionais eficazes e deliberadamente combateu medidas de controle do tabagismo.
  • A Phillip Morris International lançou o IQOS – produto de tabaco aquecido - não em países onde o aumento do tabagismo é crescente, e que poderiam se beneficiar de uma eventual política de redução de danos, mas em mercados onde as pessoas já fumam menos.
  • Produtos como o IQOS estão sendo utilizados para proteger as vendas em um quadro de queda mundial da prevalência do tabagismo e posicionam a PMI como parte da solução, de maneira com que possa se reconectar com os tomares de decisão.
  • A estratégia de marketing e preços da PMI para o IQOS parece ter como objetivo mais estabelecer uma marca aspiracional do que incentivar os fumantes a deixar de fumar.
  • A Fundação para um Mundo Livre de Fumaça (“Smoke Free Foundation”) se apresenta como uma entidade científica independente, transparente e sem conflito de interesses, quando, na realidade, depende totalmente do financiamento da PMI. 

Resumo do relatório:

Em janeiro de 2018, a fabricante de cigarros Philip Morris International anunciou seu objetivo de criar um "mundo sem fumaça" e parar de vender cigarros com combustão. Dali em diante, seu foco passaria a ser a venda dos produtos de tabaco aquecido (em inglês, heated tobacco products – HTPs), que alega serem menos danosos (produtos de "risco reduzido") em comparação aos cigarros convencionais, com destaque para o IQOS.

A empresa lançou uma campanha internacional de relações públicas, procurando ganhar acesso aos espaços de discussão com tomadores de decisão para introduzir o IQOS nos mercados, além de reabilitar a imagem da empresa, que se apresenta agora como parte da solução da epidemia do tabagismo.

Uma empresa ameaçada cria nova epidemia para garantir a manutenção dos seus lucros e a sustentabilidade do negócio

As vendas globais de cigarros caíram cerca de 20% na última década, graças principalmente a políticas efetivas de controle do tabaco, como o aumento dos impostos e a proibição de publicidade, propaganda e patrocínio. Essa queda na prevalência foi puxada pela redução nas vendas de cigarros de 26 a 30% em países desenvolvidos, que são os maiores consumidores em números absolutos. 

Esse relatório mostra que a PMI não lançou o IQOS em países onde o aumento do tabagismo é crescente e que poderiam se beneficiar de uma eventual política de redução de danos, mas em mercados onde as pessoas já fumam menos (principalmente em países europeus), onde a regulamentação de controle do tabagismo já é sólida, e com preço similar à principal marca de cigarros da fabricante, o Marlboro. 

A estratégia de marketing e preços da PMI para o IQOS parece ter como objetivo mais estabelecer uma marca aspiracional do que incentivar os fumantes a deixarem de fumar. Como bem admitiu o gerente da PMI de engajamento científico, “[o] IQOS não é um produto de cessação. É um produto de consumo para fumantes que optam por continuar fumando”. De fato, em 2018 a PMI vendeu 740 bilhões de cigarros em todo o mundo e garantiu aos investidores que continua "comprometido em manter uma participação líder na categoria internacional de cigarros". 

Os documentos vazados da PMI de 2014 revelam a verdade sobre a visão livre de fumo da PMI: "Produtos de risco reduzido" são vistos como essenciais para "impulsionar o crescimento futuro" e atrair novos consumidores, "normalizar" a imagem da empresa e permitir que ela modele a regulamentação em seu próprio interesse. Esse discurso de risco reduzido já foi utilizado no passado com os cigarros light e os snus (tabaco moído, úmido, que o usuário coloca entre a bochecha e a gengiva, que foi divulgado pela PMI como alternativa menos nociva ao cigarro convencional nas décadas de 1980 aos anos 2000).

O discurso da PMI de perseguir um mundo sem fumaça é ilógico, pois implica na destruição de seu próprio negócio, que envolve um produto causador de dependência. Tudo indica que para a empresa sobreviver, é necessário atrair não fumantes para ambos os mercados - de cigarros e de tabaco aquecido, em particular os jovens. Um documento interno da Philip Morris 1981 declarou: "O adolescente de hoje é o cliente em potencial de amanhã". Essa atitude persiste. As evidências apresentadas no relatório comprovam que a PMI continua a atingir jovens com seus cigarros, por exemplo, comercializando-os em eventos voltados para jovens, como festivais de música, além de recrutar jovens adultos a partir dos 19 anos para serem embaixadores da marca IQOS. Ao fazer isso, a PMI está tentando construir uma forte associação entre o produto IQOS e artigos da moda, artistas e designers. 

A PMI também se utilizou de plataformas globais respeitadas para reabilitar sua imagem e assegurar um futuro de influência, a exemplo do Fórum Econômico Mundial em Davos (janeiro/2019), G-20 (junho/2019), festival de Cannes (junho/2019) e a Assembleia Geral da ONU (outubro/2019).

Enquanto isso, a PMI continua a perpetuar a epidemia de tabaco que já causou. Longe de incentivar as pessoas a deixarem de fumar, a PMI investiu em novas marcas de cigarros, comprou novas parcelas do negócio de cigarros, contestou judicialmente regulamentações nacionais eficazes, e deliberadamente combateu medidas de controle do tabagismo previstas no primeiro tratado global de saúde do mundo, a Convenção-Quadro da OMS para o Controle do Tabaco.

A indústria do tabaco usa “redução de danos” para aumentar as vendas e melhorar sua imagem

Sempre que as empresas de tabaco enfrentaram uma grande ameaça, elas introduziram novos produtos no mercado com a promessa de que seriam menos prejudiciais para os consumidores. Com o IQOS, não é diferente: esses produtos estão sendo utilizados para proteger as vendas em um quadro de queda mundial da prevalência do tabagismo, e posicionam a PMI como parte da solução, de maneira com que possam se reconectar com os tomadores de decisão. Em última análise, o que os novos produtos para fumar fizeram foi prejudicar o progresso que as políticas públicas de controle do tabagismo tinham alcançando até então, proporcionando ao setor uma nova maneira de garantirem seus lucros.

Grupo de frente da PMI para confundir consumidores e formuladores de políticas

A Fundação para um Mundo Livre de Fumaça (“Smoke Free Foundation”) se apresenta como uma entidade científica independente, transparente e sem conflito de interesses, quando, na realidade, a Fundação depende totalmente do financiamento da PMI. 

O relatório da STOP também apresenta indícios de coordenação entre as atividades da Fundação e a PMI, que opera efetivamente como um braço de lobby e relações públicas em prol das atividades da empresa de tabaco. A título de exemplo, a Fundação gastou aproximadamente 6,46 bilhões de dólares em contribuições em 2018. Esse número - que incluem todos os gastos em produção científica – se comparados aos $ 7,59 milhões de dólares gastos em comunicação, corroboram o consenso crescente de que a Fundação cumpre a função de relações públicas para a PMI.

Em um artigo de 2021 publicado no periódico britânico BMJ, um conjunto de pesquisadores da Virginia Commonwealth University, da Universidade de Bath e da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health defendem que as comunidades científica e de saúde pública rejeitem o financiamento e qualquer relacionamento com a Fundação Para Um Mundo Livre de Fumaça, já que não é possível impedir que uma empresa de tabaco crie uma fundação de suposta pesquisa científica.

A análise da STOP é que a Fundação falhou em sua busca por legitimidade e influência, pois:

  • A PMI continua sendo seu único financiador.
  • Muitos pesquisadores com credibilidade em controle do tabagismo recusaram financiamento.
  • Revistas e jornais com credibilidade se recusaram a publicar sua pesquisa.
  • A rotatividade de funcionários é alta.
  • Eventos foram cancelados por falta de interesse.
  • Apesar de investir milhões de dólares em relações públicas, a cobertura da mídia é amplamente cética.
  • A OMS e centenas de especialistas globais em saúde pública declararam que não trabalharão com a Fundação.

A conclusão do relatório é de que a PMI está perseguindo o vício a qualquer custo, e que seu único movente de perseguir lucro é incompatível com a saúde pública.

Para ver o relatório, acesse:

 





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