217 organizações sociais recomendam às autoridades ações emergenciais para frear mortes por Covid-19
23.03.21Folha de São Paulo
SÃO PAULO
Sob liderança do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, 217 organizações da sociedade civil assinam carta aberta recomendando ações emergenciais para o enfrentamento da Covid-19 no país. O documento, endereçado ao presidente Jair Bolsonaro, Ministério da Saúde, Congresso Nacional, Ministério Público Federal e à Organização Pan-Americana da Saúde, propõe a criação de um grupo de trabalho de especialistas para assessorar o governo na tomada de decisões contra o coronavírus.
A carta aponta para um aumento exponencial de casos de cânceres e outras doenças não diagnosticadas durante a crise sanitária. Só em 2020, o diagnóstico de novos casos de câncer caiu até 50% no país, segundo o Instituto Oncoguia.
A paulistana Daniela Fernandes, 42, procurou o posto de saúde após desconfiar de câncer de mama, mas sua consulta com mastologista foi agendada para dali a três meses; com ajuda de uma assistente social, conseguiu uma antes e agora aguarda uma biópsia para saber se a lesão que achou é maligna Gabriel Cabral/Folhapress/
“Desde o início da pandemia, várias pesquisas realizadas pelas organizações do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer comprovam grandes alterações no diagnóstico e tratamento oncológico, incluindo o cancelamento de consultas, exames, sessões de quimioterapia, radioterapia, cirurgias oncológicas e outras dificuldades”, diz a carta.
As signatárias sugerem um grupo de trabalho formado por médicos, cientistas, pesquisadores, infectologistas, cientistas de dados, executivos do segmento de logística, comunicação, administradores, economistas e sociedade civil organizada.
“O objetivo é assessorar de perto o plano de medidas do Ministério da Saúde e o Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19”, afirmam.
Organizações sociais foram fundamentais no socorro a comunidades vulneráveis nas fases mais agudas da pandemia, desde a garantia de segurança alimentar até a destinação de recursos para hospitais de todo o país. No final de 2020, com a instabilidade econômica que reduziu o poder de compra do brasileiro e o esgotamento das doações, organizações têm enfrentado dificuldades para lidar com o repique da Covid-19.
A carta enumera nove ações emergenciais para conter a disseminação do coronavírus e reduzir o impacto no SUS. Entre elas, aumento dos investimentos no programa de vacinação, com inclusão de pacientes oncológicos e de doenças crônicas nos grupos prioritários, e orientações de conforto e dignidade a pacientes com doença avançada.
Reforça ainda medidas amplamente indicadas por infectologistas: isolamento social, uso de máscaras, higienização das mãos e recusa de tratamentos precoces e remédios preventivos para a Covid-19 sem comprovação científica.
“Ao testemunharmos o caos instalado na saúde, não poderíamos ficar anestesiados e decidimos nos unir e oferecer nossa recomendação e ajuda para combate a esta assustadora pandemia", afima Merula Steagall, presidente da Abrale - Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia e líder do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer.