A fome não espera: veja como participar de campanhas para ajudar quem sofre com a insegurança alimentar

03.05.21


O Globo

RIO — Quem tem fome tem pressa. E o flagelo é muito maior do que se pode imaginar. Um levantamento feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, entre outubro e dezembro do ano passado, identificou que cerca de 19 milhões de pessoas passaram fome durante a pandemia no país. E que mais de 116 milhões conviveram com algum grau de insegurança alimentar no período, o que significa que mais da metade (55,2%) dos lares brasileiros sofreu algum tipo de privação. E a pandemia não acabou. Nem a fome.

Bruno de Paula, diretor artístico do programa Samba Social Clube, da Rádio Tupi, percebeu isso de perto: de repente, seu telefone começou a tocar mais do que de costume, com pedidos de ajuda de técnicos, produtores e músicos do mundo do samba que, sem trabalho, vinham passando necessidade. Resolveu criar a campanha “A hora é essa”, para arrecadar fundos e oferecer alimentos a quem estava precisando. Até agora, levantou R$ 8.515, de uma meta de R$ 50 mil, e conseguiu doar 123 cestas básicas.

— Machuca muito saber que as pessoas estão passando fome, e poder ajudar essas famílias é gratificante — diz Bruno, que mora na Glória.

Alimentos não perecíveis podem ser doados no quiosque do Samba Social Clube no Posto 2, em Copacabana, e contribuições de qualquer valor podem ser feitas pelo site http://vaka.me/1932388. A campanha ganhou apoio de artistas como Zeca Pagodinho, Xande de Pilares, Roberta Sá e Carlinhos de Jesus, padrinho da iniciativa.

— Nunca vivemos uma situação como esta. Temos que pensar de que forma podemos ser solidários e socorrer quem está no sufoco — afirma Carlinhos, morador de Copacabana e um dos apresentadores do programa.

O percussionista Marcelo Paxu, nascido e criado na Glória, foi um dos que receberam a cesta.

— O preço da comida aumentou, e a gente está sem trabalho. A situação está desesperadora — diz.

O jogo não está ganho

Ele já estava à frente do projeto Basquete Cruzada, que, há 23 anos, usa o esporte e a cultura como ferramentas de inclusão social de crianças e adolescentes moradores da Cruzada São Sebastião, no Leblon. Em 23 anos, mais de três mil jovens foram beneficiados. Mas, na pandemia, o ex-jogador de basquete Wagner da Silva percebeu que precisava driblar outro adversário: a fome. Bateu de porta em porta nos 750 apartamentos ocupados do condomínio, perguntando quem estava precisando de ajuda. Arregaçou as mangas e foi em busca de doações de pessoas físicas e jurídicas, como o colégio Liceu Franco-Brasileiro. Desde o final de março do ano passado, já doou 6.835 cestas básicas a mais de duas mil famílias da Cruzada e de comunidades como Rocinha, Vidigal e Santa Marta.

— Joguei basquete a vida toda, conheci vários países, eu me sinto na obrigação de retribuir. Meu propósito é ajudar a comunidade da forma que eu posso. Doo uma cesta básica pensando em como conseguir dinheiro para dar a próxima — afirma Wagner.

Para a moradora da Cruzada Sandra da Conceição, diarista que na pandemia ficou sem trabalho e sem ter como sustentar os cinco filhos, ele é “como um pai”:

— Wagner é nosso anjo. Sem ele, não conseguiria alimentar a minha família. Ele merece ser muito reconhecido por tudo o que faz por nós.

Contribuições de qualquer valor para a Associação Basquete Cruzada podem ser depositadas na conta-corrente de número 45073-1, agência 1852, do Bradesco. O CNPJ é 34.989.240/0001-82; e o Pix, 21964378448. Doações de alimentos não perecíveis podem ser feitas em pontos de vacinação contra a Covid-19 da prefeitura.

O Instituto de Medicina e Cidadania (IMC), na Glória, também resolveu fazer uma campanha contra a fome. A instituição, que oferece atendimentos médico, psicológico, nutricional e fisioterapêutico gratuitos a pessoas carentes, doou, em um ano, mais de 60 mil cestas básicas a moradores das comunidades Morro Azul, no Flamengo; Parque da Cidade, na Gávea; e Tavares Bastos, no Catete.

— Mais de 80% das famílias das comunidades dependem de doação para se alimentar na pandemia, segundo uma estimativa dos presidentes das associações de moradores. E alimentação é saúde preventiva. Quem tem o que comer tem menos chance de adoecer — destaca Claudio Vieira, diretor executivo do IMC.

Na Tavares Bastos, 300 famílias são beneficiadas. O presidente do Centro Comunitário Social da comunidade, Cristiano Kiko, conta que a alegria de quem recebe as cestas é emocionante:

— As pessoas me mandam foto da geladeira vazia e falam: “Poxa, se você soubesse que na minha casa não tinha nada”. Essas doações fazem muita diferença na vida dos moradores.

Quem quiser contribuir com a campanha do IMC pode fazer um depósito de qualquer valor na conta-corrente 13002497-8, agência 3728, do banco Santander. O CNPJ é 25.299.323/0001-59. Doações também podem ser feitas pelo link http://vaka.me/1172272.

Moradores de rua se multiplicam

A arquiteta Marcia Lima, moradora da Gávea, percebeu logo no início da pandemia que o sofrimento que estava por vir não seria pouco para os mais necessitados.

— Vi na TV um morador de rua dizendo que todos os dias tinham passado a ser domingos, quando eles passavam fome, porque a cidade ficava mais vazia — conta.

No fim de março do ano passado, ela criou com nove amigos a campanha Rio Sem Fome (@riosemfome). Recebeu doações de alimentos de hotéis como Rio Othon Palace, Sol Ipanema e Mirasol e de estabelecimentos como o Cafeína e a Tasca Santa Justa, no Jardim Botânico. Desde então, já distribuiu 2.200 cestas básicas e de produtos de limpeza e entregou 9.800 refeições e garrafas de água a moradores de rua em bairros como Copacabana, Botafogo, Flamengo e Glória. Gente como Marcos Silva, de 17 anos, que prefere morar numa tenda no Largo da Glória a ficar na casa da família, na Mangueira, porque, segundo ele, na rua tem mais chances de se alimentar.

— A gente come quando recebe doação. Cheguei a passar fome um dia, senti um aperto no coração — diz.

Marcia conta que, hoje, apenas ela e o administrador Mario Victor Pagoni seguem no projeto. E que as contribuições caíram 90%. A carência, no entanto, só aumenta.

— Percebemos um crescimento muito grande no número de moradores de rua. Agora, vemos barracas montadas a cada espaço na Praia de Botafogo, na Praia do Flamengo. É muito dolorido — diz a arquiteta, acrescentando que o projeto precisa muito de ajuda para continuar. — Só temos verba para mais uma semana de doações.

Contribuições de qualquer valor podem ser feitas na conta-corrente 29210-9, agência 1785 do Bradesco, em nome de Marcia da Silveira Lima. O CPF (e também a chave Pix) é 958548787-04.

Outra iniciativa que chegou a parar e agora quer voltar com tudo é a da Casa de Aya (@casadeayavk), fundada pelas jornalistas Luana Dias e Debora Pio, a professora Isabel Navega, a auxiliar administrativa Camila Aguiar e a estudante de Serviço Social Isabele Aguiar. O projeto, que a princípio oferecia aulas de capoeira, artes, cinema e literatura a jovens da Vila Kennedy, onde elas nasceram, passou a buscar meios de sobrevivência para famílias na pandemia.

— No ano passado, ajudamos 150 famílias por três meses com cestas básicas, kits de higiene e limpeza e alimentos orgânicos. Agora, se conseguirmos arrecadar R$ 8 mil por mês, poderemos ajudar ao menos cem famílias por três meses — conta Luana, moradora de Santa Teresa.

Doações para a Casa de Aya podem ser feitas via conta- corrente 49073624-4, agência 0001, do Nubank, em nome de Isabele de Aguiar Corrêa. O CPF é 054.687.697-86; e o Pix, 21975623775.

https://oglobo.globo.com/rio/bairros/a-fome-nao-espera-veja-como-participar-de-campanhas-para-ajudar-quem-sofre-com-inseguranca-alimentar-24997216#:~:text=Alimentos%20n%C3%A3o%20perec%C3%ADveis%20podem%20ser,de%20Jesus%2C%20padrinho%20da%20iniciativa




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