Adultos com sobrepeso devem ser examinados para diabetes a partir dos 35, recomendam especialistas

31.08.21


O Globo

Adultos com sobrepeso devem ser examinados para diabetes tipo 2 e para detecção de níveis elevados de açúcar no sangue a partir dos 35 anos, cinco anos antes do que a era recomendado até então nos Estados Unidos.

A nova recomendação, que partiu de uma força-tarefa de especialistas e não se aplica a mulheres grávidas, surge em meio ao aumento das taxas de obesidade e diabetes nos Estados Unidos. Isso significa que mais de 40% da população adulta americana agora deve ser rastreada, de acordo com uma estimativa. A recomendação da força-tarefa (que orienta as seguradoras americanas) e um resumo das últimas evidências científicas foram publicados na semana passada na revista JAMA (Journal of the American Medical Association).

No Brasil, segundo a última pesquisa Vigitel do Ministério da Saúde, divulgada em 2020, 20,3% dos brasileiros estão obesos. Conforme o mesmo levantamento, 7,4% da população brasileira é diabética, o que equivale a 15,5 milhões de brasileiros.

Por aqui, explica o endocrinologista Paulo Miranda, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, toda a população obesa e com sobrepeso já tem indicação para fazer o exame para diabetes, sem restrição de idade e independentemente de outros fatores de risco. Já para a população geral, a recomendação para o rastreio é a partir de 45 anos.

— O diagnóstico de pré-diabetes é muito importante, porque essas pessoas já têm fatores de risco maiores para doenças cardiovasculares, doenças renais e outros problemas do que a população em geral. E (o rastreio de) uma alteração mais leve da glicose é uma oportunidade de prevenir a diabetes com medidas não farmacológicas, com mudanças de hábitos de vida, como a prática de atividades físicas, o controle alimentar e a perda de peso. (O diagnóstico de pré-diabetes) é um momento muito pertinente pra prevenir — diz Miranda.

Ele explica ainda que, no Brasil, estima-se que 40% das pessoas que tenham diabetes potencialmente ainda não foram diagnosticadas, e, portanto, não estão em tratamento.

— A diabetes do tipo 2 é uma doença silenciosa, que vai gerar sintomas e complicações no longo prazo. Se o diagnóstico é precoce, existe uma chance maior de prevenir as principais complicações — alerta.

Diabetes é fator agravante para a Covid-19

Quase um em cada sete adultos americanos agora tem diabetes, a taxa mais alta já registrada no país, descobriu um estudo recente. Na última década, houve pouca melhora na capacidade de os pacientes de controlar a doença, ou seja, reduzindo seus níveis de açúcar no sangue, pressão arterial e colesterol.

O aumento é especialmente preocupante em meio à pandemia, já que o diabetes é uma das condições médicas crônicas que aumentam o risco de uma infecção por coronavírus levar a quadros graves, hospitalização e até à morte por Covid-19.

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O diabetes está relacionado a doenças cardíacas e hepáticas, e é a principal causa de insuficiência renal e nova cegueira em adultos. A condição pode levar à amputação de membros, danos aos nervos e a outras complicações.

A força-tarefa disse que os prestadores de cuidados de saúde devem considerar a triagem de alguns indivíduos ainda antes dos 35 anos, se eles estiverem sob risco elevado. Isso inclui pessoas com histórico familiar de diabetes ou histórico pessoal de condições como diabetes gestacional e pessoas que são negras, hispânicas, nativas americanas, nativas do Alasca ou asiáticas americanas.

Todos esses grupos têm taxas mais altas de diabetes do que os americanos brancos.

“A epidemia da Covid é realmente importante, mas também temos uma epidemia de diabetes e pré-diabetes impulsionada pela obesidade e falta de exercícios”, disse o Michael J. Barry, vice-presidente da força-tarefa e diretor no Massachusetts General Hospital, em Boston. “Todas essas condições com as quais vivemos por anos ainda estão valendo.”

Exame deve ser feito a cada 3 anos

Cerca de um terço dos adultos norte-americanos têm níveis elevados de açúcar no sangue, uma condição chamada pré-diabetes que geralmente precede a diabetes tipo 2 e pode progredir para uma doença desenvolvida. A maioria não sabe que tem a doença, que não produz sintomas óbvios e é por isso que o rastreamento é essencial, disse Michael J. Barry.

Estar acima do peso ou ser obeso é o fator de risco mais importante para o tipo mais comum de diabetes, diabetes tipo 2 e pré-diabetes. Mudanças no estilo de vida — incluindo aumento da atividade física, alimentação mais saudável e perda até mesmo de uma pequena quantidade de peso — podem prevenir a progressão de pré-diabetes para diabetes completo. (O tratamento medicamentoso também é uma opção.)

A triagem geralmente envolve um exame de sangue para determinar se o açúcar no sangue (ou glicose) está elevado. A força-tarefa pediu a redução da idade da primeira triagem para 35, porque é quando a prevalência de diabetes tipo 2 começa a aumentar. A triagem deve ser realizada a cada três anos até os 70 anos, disse a força-tarefa.

Tannaz Moin, endocrinologista que co-escreveu um editorial acompanhando as novas recomendações, disse que reduzir a idade para o rastreamento foi um passo na direção certa e que ficou satisfeita com o fato de as diretrizes enfatizarem a importância de detectar o pré-diabetes.

“Há muito mais reconhecimento de que o pré-diabetes é um grande problema que muitas vezes passa despercebido”, disse Moin. É fundamental detectar pré-diabetes em adultos jovens, porque eles podem viver com diabetes por muito tempo se desenvolverem a condição em uma idade relativamente jovem, e terão maior risco de desenvolver complicações.

Intervenções intensivas no estilo de vida que se concentram na perda moderada de peso e incluem 150 minutos de atividade física por semana podem prevenir ou retardar o aparecimento de diabetes tipo 2 em pessoas com sobrepeso ou obesas com pré-diabetes. Uma droga, a metformina, também é uma opção, mas não é tão benéfica quanto as mudanças no estilo de vida.

“Temos evidências realmente boas de que podemos atrasar o início do diabetes tipo 2 se conseguirmos que os indivíduos com pré-diabetes façam algo sobre seu risco”, disse o Moin. “É o mesmo para as pessoas com diabetes tipo 2: quando sabemos que elas têm, temos uma caixa de ferramentas inteira que podemos oferecer a elas”.

Aumento na população jovem americana

As taxas de diabetes e pré-diabetes aumentaram nos últimos anos entre as populações mais jovens, incluindo crianças e adolescentes. Estudos mostraram que quase um em cada quatro adultos com idades entre 18 e 44 anos tem pré-diabetes.

Outro estudo publicado na terça-feira no JAMA relatou que a prevalência de diabetes tipo 1, muitas vezes chamada de diabetes juvenil, e diabetes tipo 2, que geralmente começa mais tarde na vida, aumentou em crianças e adolescentes de 2001 a 2017, com os maiores aumentos entre aqueles maiores de 16 anos.

A taxa de diabetes tipo 2 quase dobrou, pulando de 0,34 por 1.000 americanos com idades entre 10 e 19 anos, em 2001, para 0,67 por 1.000 jovens, em 2017. Os maiores aumentos foram relatados entre jovens negros e hispânicos.

A incidência de diabetes tipo 1 também aumentou: de 1,48 por 1.000 crianças e adolescentes com menos de 19 anos, em 2001, para 2,15 por 1.000 jovens, em 2017, com os maiores aumentos entre crianças e adolescentes brancos e negros.

https://oglobo.globo.com/saude/medicina/adultos-com-sobrepeso-devem-ser-examinados-para-diabetes-partir-dos-35-recomendam-especialistas-25176810




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