Alimentação saudável também é coisa de homem negro

15.07.20


Alma Negra

Não é de hoje que encontramos em nossa sociedade classificações para o que é ou não coisa de homem. Nos estudos sobre masculinidades, é possível reconhecer o quanto o machismo e seus desdobramentos são prejudiciais a saúde do homem, e dentre tantos aspectos destaco o da alimentação.

Homens foram criados sob a cultura de que são os provedores do lar, aqueles que colocam a comida na mesa, pagam as contas, e não são vulneráveis em nenhum aspecto. Entretanto, são mais suscetíveis a determinadas doenças em razão da negligência dos cuidados com sua saúde. Procuram serviços médicos/hospitalares com pouquíssima frequência, e mesmo quando estão doentes acham que não precisam de cuidados.

Um panorama mundial da saúde, publicado pela revista médica The Lancet em 2016 constatou que, nos últimos 50 anos, houve um aumento de 14 anos na expectativa de vida de homens e mulheres. Ainda assim, a maiorias dos indicadores de saúde mostram uma maior mortalidade masculina em praticamente todas as idades e para quase todas as causas. No Rio de Janeiro, a expectativa de vida entre os gêneros atinge uma diferença de oito anos, sendo 74 anos para mulheres e 62 anos para homens (Ripsa, 2004).

Um estudo realizado pelo Instituto de Avaliação e Medição de saúde, da Universidade de Washington, apresentou dados de que 72% das mortes são causadas por doenças crônicas não transmissíveis. A má alimentação é fator de risco para estas doenças e está relacionada com cerca de 10 milhões de óbitos, 18,8% desse total.

No Brasil, somente 37,3% da população consome a porção recomendada de frutas e hortaliças (cinco porções diárias). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os homens o consumo fica somente em 34,8% contra 39,1% para as mulheres. Quando o assunto é o consumo de carne e frango com excesso gordura, os dados mostram que as mulheres consomem menos que os homens (28,3% contra 47,2%), e o mesmo ocorre em relação aos refrigerantes (20,5% contra 26,6%). Ou seja, hábitos alimentares dos homens são piores que o das mulheres e, mesmo assim, a avaliação dos entrevistados ainda revela que mesmo com uma dieta não balanceada 70,3% dos homens se auto avaliam saudáveis e com uma boa saúde. Otimistas, não?!

Os agravos na saúde masculina derivam de aspectos comportamentais e refletem nos seus hábitos alimentares, onde o consumo de bons alimentos em sua dieta está longe de ser apropriado. Isso implica em maior incidência de doenças cardiovasculares, responsáveis pela morte de 30% da população e que afetam mais aos homens. As principais são infarto, acidente vascular cerebral, arritmias cardíacas e acúmulo de placas de gorduras nas artérias. O colesterol e pressão arterial mais elevados também acometem mais aos homens devido à má alimentação.

Complicações como a cirrose e demais problemas no fígado afetam os homens mais do que as mulheres, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da saúde (OMS), e estão diretamente relacionados ao estilo de vida masculino, que compreende não somente a alimentação incorreta, mas também a grande ingestão de bebidas alcoólicas.

Os dados são ainda piores em relação aos homens negros, pois sabemos que os determinantes de saúde para a população negra expressam as vulnerabilidades desse grupo populacional a diversas doenças. Segundo a Pesquisa Vigitel 2018, apenas 16% possuem consumo regular de frutas e hortaliças. Em relação ao consumo de refrigerantes em cinco ou mais dias da semana, o percentual fica em 17,7%, enquanto que este consumo pelo público feminino cai para 11,4%. O consumo frequente e abusivo de bebidas alcoólicas também se mostra grave entre homens negros, onde 27,1% relata o consumo de quatro a cinco doses em uma mesma ocasião no período de 30 dias. A média de consumo entre mulheres cai para 12,1%.

Além das doenças ligadas à alimentação inadequada, existem as que também prejudicam a saúde masculina por outros fatores: o tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável no mundo e, segundo a Pesquisa Vigitel, 17,9% dos homens fumam, sendo que nesse grupo, 5,6% fumam 20 cigarros ou mais por dia e dentro deste grupo 3,0% são de homens negros; a pneumonia, cuja mortalidade maior em homens se deve a um conjunto de comportamentos de risco e de hábitos de vida que são, em geral, mais frequentes neste grupo; e o câncer de próstata, que mesmo sendo visto como uma doença genética também tem nos maus hábitos fatores que contribuem para seu aparecimento.

A prática da alimentação saudável e dos cuidados preventivos em saúde precisam ser implementados na rotina masculina e tratados com a devida seriedade que os indicadores apresentam. Prestar atenção no que se come e mudar padrões comportamentais destrutivos é fundamental para que se desfrute de uma vida longa e plena. Descuidar da sua própria saúde não atinge somente a você mesmo, mas também todos aqueles que convivem contigo. Se cuidem.

https://almapreta.com/editorias/o-quilombo/alimentacao-saudavel-tambem-e-coisa-de-homem-negro




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