Brasil ainda está longe de ver a luz no fim do túnel, dizem especialistas
31.08.21Carta Capital
Mesmo com o avanço da vacinação contra a Covid-19, o Brasil ainda está longe de solucionar os problemas desencadeados na pandemia, segundo a avaliação dos especialistas que participaram da última edição do Webinar Saúde de CartaCapital, nesta terça-feira 31. Com o tema O que esperar do novo normal, a discussão envolveu a pneumologista Margareth Dalcolmo, o infectologista Esper Kallás e a diretora-geral da ACT – Promoção da Saúde, Paula Johns.
Margareth Dalcolmo chamou a atenção para a agudização da desigualdade social em virtude da crise sanitária e da falta de ação do governo de Jair Bolsonaro. A pneumologista diz ter observado queda nas doações de alimentos e no voluntariado qualificado para a assistência das populações mais pobres.
A especialista também percebeu um impacto negativo no atendimento do Sistema Único de Saúde a outras doenças, como o câncer e a tuberculose, o que tirou da normalidade o índice de diagnósticos e resultou em um retrocesso de cinco anos no controle dessas enfermidades.
Além disso, ela alertou para as consequências da Covid-19, já que o vírus deixa um rastro de sequelas. O SUS, portanto, precisará de uma reordenação para assegurar esses serviços.
“É um desafio que não pensamos em enfrentar por tanto tempo. E a gente não tem uma luz brilhante no fim do túnel. Eu não vejo nem o fim do túnel ainda, quanto mais a luz”, comentou a professora.
Para Paula Johns, as contradições da sociedade brasileira ficaram expostas a com a pandemia. Entre os problemas evidenciados está a fome, apesar de a produção de alimentos ser uma marca do mercado brasileiro.
Johns apontou ainda para os resultados de cortes contínuos de verbas públicas para serviços essenciais, promovidos pelo teto de gastos e por renúncias tributárias. Entre os fatores indicados está a demanda represada no atendimento a vítimas de doenças crônicas não-transmissíveis.
Outro item que veio à tona na crise da Covid-19, em sua visão, foi a facilitação da venda de produtos altamente nocivos à saúde por preços muito baixos, o que favorece o surgimento de comorbidades entre os consumidores.
“A gente precisa mudar a regra do jogo”, afirmou. “Não é que faltam recursos no mundo. Precisamos reorganizar o sistema, porque não é aceitável que a gente perpetue o acirramento dessas desigualdades, que estão no cerne dos problemas que precisamos enfrentar.”
Esper Kallás disse que não tem esperanças a curto prazo para o restabelecimento de um diálogo nacional mais fluído, em detrimento da polarização presente no debate público.
Por outro lado, o infectologista afirmou que um ponto positivo foi a construção de uma aceitação às vacinas no Brasil, enquanto em outros países a população é mais resistente à imunização. Esse consenso vem sendo costurado desde a década de 1940, frisou o especialista, e foi consolidado com o trabalho do SUS.
“Isso é o oposto. Mostra para nós que há um caminho”, opinou Kallás.
Este debate marcou a última edição do Webinar Saúde de CartaCapital, realizado ao longo de agosto. Todas as discussões estão disponíveis no YouTube, com acesso gratuito.
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