Cigarro eletrônico com sabor vicia crianças, diz químico que inspirou filme

04.07.22


Uol

Ex- executivo de uma empresa de cigarros que inspirou filme, o bioquímico norte-americano Jeffrey Wigand diz, em entrevista ao UOL, ver os cigarros eletrônicos com sabores como uma "grande invenção" da indústria do tabaco para viciar "milhões" de pessoas desde cedo, ainda crianças.

O cientista, que passou a denunciar as fraudes da indústria tabagista após deixar o cargo de vice-presidente de pesquisa de uma empresa subsidiária da BritishAmerican Tobacc, que controla a BAT Souza Cruz Brasil, afirma que o vício em nicotina entre o público infantil já é uma realidade em seu país, os Estados Unidos, e cobra que autoridades tomem decisões baseadas na ciência.

No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estuda se mantém a atual proibição de cigarros eletrônicos — está marcada para o dia 6 de julho uma sessão extraordinária para analisar o caso.

"Os cigarros eletrônicos são a grande invenção da indústria do tabaco porque eles podem começar com as crianças quando jovens e levá-las ao seu produto principal, os [cigarros] tradicionais", afirmou o pesquisador de 79 anos. A história de como sua luta contra a indústria tabagista começou foi retratada filme "O informante" (1999), de Michael Mann, em que ele é interpretado pelo ator Russell Crowe.

A facilidade do equipamento envolve as crianças, diz ele. "Elas soltam a fumaça. Você não precisa de fósforos, isqueiros, não há cinzas." Ele destacou que tudo é comprado na internet, inclusive o pod, um acessório para colocar sabores de frutas, como manga, morango e menta.

No mês passado, o bioquímico prestou depoimento na agência de saúde dos EUA, o FDA (Food and Drug Administration, equivalente à Anvisa do Brasil), defendendo a proibição a adição de mentol nos cigarros eletrônicos. Dias depois da oitiva dele, o FDA proibiu o cigarro eletrônico Juul, o mais popular do país. A marca é pertencente à empresa Altria, detentora da Phillip Morris USA.

Hoje, os cigarros matam 8 milhões de pessoas no mundo por ano, afirmou Wigand, citando dados da OMS (Organização Mundial de Saúde). A indústria defende que os cigarros eletrônicos são um método para que os fumantes tradicionais abandonem os produtos antigos, considerados mais tóxicos.

Um estudo preliminar da rede Cochrane indica essa possibilidade. A SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) já afirmou que cigarros eletrônicos são acessíveis tanto a crianças como a adolescentes mundo afora. Uma doença chamada "evali" já foi detectada entre jovens nos EUA. Wigand é graduado em química e doutor em bioquímica pela Universidade de Buffalo, estado de Nova Yorque, nos EUA. É fundador da ONG "Crianças Livres da Fumaça", na qual faz palestras para crianças, adolescentes e adultos sobre os males do tabaco.

Leia os principais trechos da entrevista do cientista, concedida ao UOL em duas conversas por videoconferência, em 2 e 20 de junho.

https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2022/07/04/cigarro-eletronico-vicia-criancas-quimico-jeffrey-wigand-filme-informante.htm

 




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