Contra a obesidade infantil, Rio pode proibir alimentos ultraprocessados nas escolas públicas e privadas
10.08.21O GLOBO -
RIO — O cachorro quente e o achocolatado podem ter que sair das cantinas e dos refeitórios de escolas públicas e particulares do Rio, cedendo lugar a produtos mais saudáveis, como um bolo produzido por merendeiras e um suco de fruta. Ainda esta semana, o presidente da Câmara Municipal, Carlo Caiado (Democratas), quer levar à votação em segunda discussão o projeto de lei que proíbe oferecer aos alunos e vender nas cantinas de colégios alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas, como forma de enfrentar a obesidade na infância e na adolescência. A proposta, de autoria de Cesar Maia (Democratas) e outros 14 vereadores, foi aprovada por 31 votos a dez em primeira votação, no último dia 4.
Representantes do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), do Instituto Desiderata e da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (Soperj) defendem a necessidade de crianças e jovens consumirem produtos não industrializados. Pesquisa do Ieps sobre os cardápios das escolas da prefeitura, em 2020, mostrou que 61% tinham algum alimento ultraprocessado. O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, afirma que há quase 20 anos não há cantinas na rede e que o cardápio de suas escolas é preparado pelo Instituto de Nutrição Anne Dias:
— A merenda de qualidade é uma das marcas do Rio.
No cardápio de 2021, disponível no site da secretaria, há alimentos como feijão, arroz, cubinhos de frango, salada de chuchu com milho e café com leite. Mas há também biscoitos, doces e salgados, e iogurte, que não poderiam ser oferecidos em escolas, pelo projeto de lei.
O artigo segundo da proposta em tramitação cita outros produtos vetados, como refrescos, refrigerantes e bebidas do tipo néctar; embutidos; balas; congelados prontos para aquecimento; panificados cujos ingredientes incluam substâncias como gordura vegetal hidrogenada, açúcar, amido, soro de leite e outros aditivos; e bolos industrializados.
Diretor-executivo do Ieps, Miguel Lago ressalta que é preciso ter nas escolas um “cardápio de verdade”:
— Os ultraprocessados geram obesidade e sobrepeso. É preciso que crianças e jovens recebam uma alimentação de verdade, uma comida normal.
Cem mil acima do peso
Diretora-executiva do Instituto Desiderata, Roberta Marques cita um dado que considera alarmante. Segundo o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde, em 2019, o município do Rio tinha cem mil crianças com excesso de peso.
— O caminho para combater a obesidade é oferecer às nossas crianças e aos nossos jovens comida caseira, não industrializada, sem conservantes e com pouco açúcar. Como eles passam boa parte do dia na escola, é fundamental que os colégios tenham essa alimentação saudável — diz Roberta.
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