Crianças e adolescentes são resgatados em condições análogas ao trabalho escravo no RS

25.02.21


G1

Duas famílias foram resgatadas de condições análogas ao trabalho escravo em uma plantação de fumo na Zona Rural de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, na quarta-feira (24).

Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT-RS), os agentes encontraram cinco crianças e dois adolescentes de 9 a 17 anos de idade, em situação de trabalho irregular e vivendo em locais impróprios. A propriedade rural em que eles estavam tem aproximadamente 20 hectares.

Uma das famílias era composta por um casal com quatro filhos e outra por um casal e três filhos. Eles moravam junto aos locais de armazenamento de fumo, em instalações precárias e com condições sanitárias e de conservação ruins. A água vinha de poços não protegidos, sendo imprópria para consumo.

De acordo com o MPT, a propriedade pertence a um terceiro casal, o único a ter a documentação em dia, incluindo talão de produtor rural. Os demais trabalhavam na propriedade e eram parte do sistema de integração do fumo.

Dos resgatados, cinco eram menores de 18 anos, com idades de 9, 10, 12, 15 e 16 anos. Outros dois adolescentes, de 14 e 17 anos, que também trabalhavam na moradia do produtor rural, na classificação e na amarração das folhas de fumo, foram afastados do trabalho.

De acordo com a fiscalização, ao longo de 10 meses de trabalho, uma das famílias que trabalhava no cultivo de 50 mil pés de fumo, possuía renda média mensal que não chegava a R$ 300, se somados e divididos os adiantamentos efetuados.

As famílias foram retiradas da propriedade e encaminhadas à Assistência Social do município. Foram emitidas guias de seguro-desemprego para cada trabalhador resgatado, inclusive para os menores de 18 anos, garantindo o recebimento de três parcelas de um salário mínimo.

O trabalho no processo produtivo do fumo é vedado por lei para menores de 18 anos, e caracteriza-se como uma das piores formas de trabalho infantil, de acordo com o Ministério Público do Trabalho.

Em razão da ausência de equipamentos de proteção individual para controle do risco oferecido por agrotóxicos, e mesmo pelo contato com a folha verde do fumo durante a colheita, as crianças e adolescentes apresentavam queixas compatíveis com intoxicação aguda, como náuseas e vômitos.

A operação foi realizada pela Superintendência Regional do Trabalho em parceria com o Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul (MPT-RS) e a Polícia Federal (PF).

Duas famílias foram resgatadas em situação análoga ao trabalho escravo — Foto: Divulgação / MPT-RS

Duas famílias foram resgatadas em situação análoga ao trabalho escravo — Foto: Divulgação / MPT-RS

 

Audiência com empresa responsável

 

Segundo o MPT, a área era usada para a produção de fumo vendido com exclusividade à empresa multinacional processadora Continental Tobaccos Alliance (CTA). A companhia tem um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado com o MPT-RS, pelo qual se compromete a informar a existência de trabalhadores irregulares ou de crianças na atividade produtiva.

À reportagem, a CTA informou que "realiza todas as suas operações em conformidade com a legislação que as regulamenta, bem como atende todas as condições de Acordos firmados com o Ministério Público do Trabalho. As relações entre empresa e produtores de tabaco igualmente são regidas pela lei e tratam-se de relações exclusivamente comerciais".

A empresa ainda acrescentou na nota que "repudia práticas de trabalho escravo e/ou infantil, neste sentido atua com programas voltados à erradicação do trabalho infantil e em cumprimento às leis trabalhistas, bem como em cooperação com órgãos governamentais".

Na ação, o Ministério Público do Trabalho verificou que a empresa tinha conhecimento da presença das crianças e adolescentes trabalhando na plantação e não comunicou o fato ao MPT.

Os auditores-fiscais do Trabalho calcularam as verbas rescisórias dos resgatados em R$ 82.432,86. A empresa foi notificada em audiência realizada na manhã desta quinta-feira (25) a efetuar o pagamento, em razão de graves violações aos direitos humanos da força de trabalho.

De acordo com o MPT, a CTA apresentou defesa, entregou documentos e não se prontificou a pagar o montante.

https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/02/25/criancas-e-adolescentes-sao-resgatados-em-condicoes-analogas-ao-trabalho-escravo-no-rs.ghtml




VOLTAR



Campanhas



Faça parte

REDE PROMOÇÃO DA SAÚDE

Um dos objetivos da ACT é consolidar uma rede formada por representantes da sociedade civil interessados em políticas públicas de promoção da saúde a fim de multiplicar a causa.


CADASTRE-SE