Dieta, exercícios, vacinas e controle do ambiente estão entre as medidas indicadas para o bem estar dos pulmões

24.11.20


O Globo

SÃO PAULO - Quando se trata de medidas saudáveis para o pulmão, os especialistas são unânimes: tabagismo, não. Mas largar o cigarro não é o único hábito recomendado para quem quer preservar a saúde respiratória. Nessa lista, entram ainda a alimentação, a prática de exercícios e a manutenção de um ambiente livre de partículas nocivas no ar.

 

A saúde pulmonar, é claro, começa deixando de lado o tabaco, de longe o maior causador de doenças das vias respiratórias. Se o fumante já tiver algum tipo de condição prévia, então, abandonar as tragadas é ainda mais urgente – o que não significa que seja fácil, diz o pneumologista Alexandre Milagres:

— A grande maioria não consegue parar de fumar. Quem consegue é só depois de tentar cinco ou seis vezes. Eu sempre sou franco e digo que a luta é árdua.

Mas também não é impossível, e sempre vale tentar. Largar o vício requer, primeiro de tudo, um motivo. Pode ser para economizar dinheiro, ou pela perda de alguém próximo. Reposição de nicotina, medicamentos e terapia cognitiva comportamental são as armas disponíveis nessa luta.

É recomendável procurar um médico ou centro confiável, diz o pneumologista José Roberto Jardim, do Núcleo de Prevenção e Cessação do Tabagismo – PrevFumo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

— Nós esclarecemos sobre o cigarro, mas não colocamos medo de doença em ninguém. Estimulamos a mudança de comportamento. Se a pessoa está com vontade de fumar, que faça outra coisa, ligue para um amigo, até passar o pico de vontade — recomenda.

O ideal é nem começar a fumar, seja cigarro, cigarro eletrônico, charuto, cachimbo ou cigarro de palha. Daí a importância das campanhas de conscientização dos jovens e adultos, que precisam ser alertados das artimanhas da indústria do tabaco para convencer novos consumidores.

 

Poluição

O tabaco, porém, não é a única fumaça que faz mal aos pulmões. A poluição do ar também é altamente nociva — e ainda mais complicada de evitar e combater. Estima-se que ela esteja associada com a mortalidade precoce de 7 milhões de pessoas por ano, o que é mais do que matam a diarreia e a malária somadas, de acordo com o médico patologista Paulo Saldiva, professor da Universidade de São Paulo.

— Não há padrão de qualidade do ar seguro, assim como não há padrão de fumo seguro. Calcula-se que a exposição à poluição equivalha a dois a três cigarros por dia. Fumamos sem ter escolha. Pode parecer pouco , mas é o suficiente para aumentar os riscos de infecções respiratórias, infarto do miocárdio e cerebral, baixo peso ao nascer e câncer de pulmão — alerta.

Os ganhos para a longevidade, diz Saldiva, são palpáveis. Por exemplo: se a poluição do ar fosse reduzida em São Paulo até o padrão restrito estabelecido pela Organização Mundial de Saúde, a expectativa de vida aumentaria em dois anos e meio na cidade.

Ainda segundo o especialista, a adoção de medidas restritivas de emissão de poluentes geraria um ganho de tempo de descanso e trabalho perdidos em congestionamentos, seria benéfica para a saúde mental, e reduziria acidentes de trânsito. O efeito local é rápido.

Casa segura

O controle ambiental doméstico se torna ainda mais importante por conta disso. Na descrição do alergista e imunologista Marcello Bossois, coordenador técnico do Brasil sem Alergia, somos os reis e rainhas das nossas casas. Por isso, devemos tomar cuidados para manter ameaças respiratórias da porta para fora.

 

Ácaros e mofo adoram umidade e se instalam em travesseiros e colchões. Forrá-los pode ser uma boa solução. No caso de alérgicos, é bom retirar tapetes, cortinas, carpete, edredons e bichos de pelúcia. Produtos de limpeza com perfumes irritantes devem ser substituídos por sabão de coco, vinagre e álcool 70%

O pneumologista André Nathan, do Hospital Sírio-Libanês , alerta também para os pássaros, que podem causar pneumonia de hipersensibilidade em alérgicos.

O ar-condicionado pode ser um aliado nas regiões mais quentes e úmidas, mas os filtros devem ser limpos semanalmente, e a manutenção preventiva deve ser feita a cada seis meses. A temperatura não pode ser inferior a 23o C ou 24o C.

No caso de locais muito secos, um umidificador é um aliado para evitar irritação das vias respiratórias, que podem virar doenças crônicas. Da mesma forma, a ingestão de líquidos lubrifica as vias respiratórias e elimina mais facilmente agressores dos pulmões.

Para a saúde pulmonar, valem duas máximas que servem para todo o corpo: tenha uma alimentação equilibrada e faça exercícios físicos. Como resume o pneumologista Bruno Baeta, da Rede D’Or, o controle do peso é fundamental:

— Sobrepeso e obesidade alteram a dinâmica respiratória. Esse acúmulo de gordura pode causar a síndrome da apneia do sono.

 

Quanto à alimentação, não há segredo ou fórmula mágica, dizem os médicos.

— Se a pessoa é saudável, tem uma boa alimentação, que traz as substâncias adequadas para o funcionamento dos sistemas imunológico e cardiovascular, ela vai estar protegendo o pulmão — resume o nutrólogo Celso Cukier, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Dieta especial

Com os doentes pulmonares, é diferente. Uma dieta pobre em carboidratos, por exemplo, pode ser interessante. Em casos mais graves, pode ser necessário escolher alimentos de digestão mais facilitada, para economia de oxigênio, além de complementação de vitaminas e minerais.

No caso dos exercícios, é parecido. Para quem não tem doença pulmonar, a recomendação é melhorar a capacidade cardiorrespiratória com exercícios aeróbicos – e não, não precisa necessariamente ser natação, como se acreditava antigamente. Pode ser caminhada, corrida, bicicleta, ergométrica, esteira.

Trabalhos de força, que mexam com os músculos do tórax, também são benéficos, segundo Fabio Cahue, master trainer da Body Tech. O acompanhamento profissional é sempre recomendável, mas no caso de pessoas com doenças respiratórias é essencial.

Vigor na respiração

Também não faz mal investir em exercícios respiratórios que mexam com o diafragma e ainda promovam relaxamento. No caso de quem tem asma, DPOC e outras doenças, eles são recomendáveis, seja na forma de práticas integrativas como meditação e tai chi chuan, seja usando técnicas mais tradicionais, como a fisioterapia. A reabilitação pulmonar aumenta a capacidade de encarar exercícios e fortalecer os músculos.

 

Isso serve também para quem está se recuperando dos efeitos da Covid-19, como mostra uma pesquisa em andamento coordenada pelo fisioterapeuta Yves de Souza, líder do Laboratório de Pesquisa em Reabilitação Pulmonar da Universidade Veiga de Almeida.

— Em seis semanas, a capacidade deles de fazer exercícios melhorou em pelo menos 55%, e o perfil de ansiedade e depressão diminuiu — revela Souza.

A esperança é que, pelo menos nos casos de Covid-19, uma vacina chegue logo para minimizar seu impacto. Hoje, a doença causada pelo coronavírus Sars-Cov-2 é um dos maiores vilões que pulmão humano pode enfrentar, na opinião do pneumologista Carlos Alberto de Barros, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro .

— Como o pulmão interage com o meio ambiente, precisamos nos proteger das infecções em geral. Num momento em que sofremos uma agressão grande com a Covid-19, sendo o órgão sua porta de entrada, ao surgir a vacina, convido a todos que querem defender o seu pulmão, o pulmão de seus pais, de seus filhos, de seus amigos e concidadãos, que se vacinem. É a única forma eficaz de proteger o aparelho respiratório e a população — clama.

https://oglobo.globo.com/sociedade/dieta-exercicios-vacinas-controle-do-ambiente-estao-entre-as-medidas-indicadas-para-bem-estar-dos-pulmoes-24761420




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