Editorial: País deveria se inspirar na iniciativa do Rio para melhorar dieta na escola

10.08.21


O Globo

A Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro mostra que, quando quer, a classe política sabe promover transformações substanciais na qualidade de vida da população. O Projeto de Lei (PL) 1.662/2019 proíbe a venda de produtos ultraprocessados e bebidas açucaradas nas escolas. De autoria de 15 vereadores, assinado por mais 14, o PL obteve maioria na primeira votação na semana passada e deverá ser votado numa segunda rodada em breve. Ele precisa ser aprovado, em nome da saúde de mais de 1 milhão de estudantes.

O projeto deveria servir de inspiração para o resto do Brasil. Outros municípios, como Florianópolis, já adotaram medidas semelhantes, mas não tão abrangentes. A medida é urgente. Em todo o país, 28% das crianças entre 5 e 9 anos atendidas pela atenção primária à saúde do SUS estão com sobrepeso, e 13% com obesidade. Em crianças abaixo de 5 anos, os percentuais são menores, ainda assim alarmantes. O sobrepeso atinge 15%, a obesidade 7%. Ao todo, 6,4 milhões de crianças têm excesso de peso e 3,1 milhões são obesas no Brasil.

O município do Rio de Janeiro fica acima da média nacional. Mais de 100 mil crianças e adolescentes foram diagnosticados em 2020 com excesso de peso. Nas escolas municipais do Rio, 61% das refeições contêm produtos ultraprocessados, segundo o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps). Nas particulares, o percentual é de 30%. Mudar é urgente.

Em países que já fizeram isso, os benefícios são evidentes. Jamie Oliver, o conhecido chef britânico, começou uma cruzada contra “junk food” nas escolas do Reino Unido no início do século. Feitas as mudanças, economistas examinaram as consequências depois de alguns anos. A conclusão foi que a dieta mais saudável resultou num efeito positivo no desempenho escolar e na redução de faltas provocadas por doenças. Nos Estados Unidos, alterações similares foram realizadas no governo Obama, incentivadas pela ex-primeira-dama Michelle. Uma pesquisa publicada no ano passado revelou que houve aumento de consumo de vegetais e grãos integrais entre os alunos, com efeitos positivos na saúde.

Uma seleção de alimentos mais saudáveis não significa uma conta necessariamente mais cara. Um estudo do Ieps aponta que pode haver redução de custos, sem prejudicar a renda dos donos de cantinas.

Não resta dúvida de que escolas são cruciais para vencer a crise de saúde pública representada pela obesidade infantil. Barrar alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas no cardápio será um passo decisivo. Mas as escolas deveriam ir além. Achar que uma decisão histórica na Câmara dos Vereadores encerra a questão é ilusão. É necessário engajar os alunos na transformação e desestimular o consumo de ultraprocessados e açucarados nas cercanias das escolas e também em casa.

https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/pais-deveria-se-inspirar-na-iniciativa-do-rio-para-melhorar-dieta-na-escola.html




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