Estratégia de redução de danos no consumo de álcool deve ser individual
24.08.17 - Folha de S. Paulo / seminários FolhaFolha de S. Paulo / seminários Folha
LEONARDO NEIVA
DE SÃO PAULO
23/08/2017 16h06
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Para ser eficiente, uma estratégia de redução de danos no consumo de bebidas alcoólicas deve ser pensada de forma individual e adaptada a um determinado contexto. A afirmação é do professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e presidente da Abramd (Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas), Rubens Adorno.
Segundo ele, para lançar programas de prevenção, é preciso "conhecer muito bem o contexto de cada um e ser criativo em relação a ele, além de levar em conta a situação geral dessa sociedade".
"Na Alemanha, um dos países com o maior nível de alcoolização da Europa, os garçons são alertados para não oferecer bebida a quem já passou do limite", contou.
As declarações foram feitas durante a segunda mesa de debates, sobre redução de danos no consumo de álcool, realizada nesta quarta-feira (23) no fórum "Mudança de Hábitos e Redução de Danos à Saúde", no teatro Unibes Cultural, em São Paulo. O evento foi promovido pela Folha com patrocínio da Philip Morris.
A Folha de Sao Paulo promove o forum Mudanca de Habitos e Reducao de Danos a Saude. O evento discute praticas e politicas para reduzir os riscos a saude de pessoas que nao conseguem ou nao desejam parar de fumar ou de beber. Sobre o tabaco, um dos principais temas a serem debatidos sera a troca do cigarro por dispositivos eletronicos para fumar e se eles podem ser considerados reducao de danos. No caso das bebidas alcoolicas, sera discutida a promocao do consumo consciente e medidas para evitar o consumo por criancas e adolescentes.
Quirino Cordeiro, do Ministerio da Saúde, Rubens Adorno, professor da USP, Isabel Tremarin, orientadora educacional do Colegio Anchieta, e Claudia Colucci (moderadora)
Também participaram do debate o coordenador nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro, e a coordenadora de orientação educacional do Colégio Anchieta, de Porto Alegre, Isabel Tremarin.
Segundo Cordeiro, a estratégia de redução de danos tem sido aplicada pelo governo brasileiro principalmente na forma de unidades de acolhimento voltadas para pessoas dependentes do álcool e outras drogas. Para ele, há evidências de sucesso na aplicação do modelo.
"No início da epidemia de Aids, se percebeu que, quando você oferecia a possibilidade de os indivíduos fazerem o uso de drogas injetáveis com maior segurança, diminuía a ocorrência de Aids e de hepatite", disse.
Ele lembra, no entanto, que a redução de danos é uma estratégia de pouca exigência, que não obriga o consumidor a parar de beber. "É preciso haver a promoção da abstinência em alguns casos. Às vezes a individualização do tratamento requer outras estratégias que não a redução de danos."
Como outros exemplos de estratégias de redução de danos, Cordeiro cita programas que evitem que as pessoas dirijam depois de beber e também leis que restrinjam o acesso ao álcool.
Como exemplo de restrição de acesso à bebida ele cita o caso do município de Diadema, na Grande São Paulo, onde, em 2002, foi criada uma lei que estabelece o fechamento de estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas após as 23h. Para Cordeiro, a ação teria influenciado a queda das taxas de homicídio e suicídio na cidade nas duas décadas seguintes.
Para Adorno, no entanto, não é comprovada a relação entre a ocorrência dos dois fatores na cidade. Os números de homicídios e suicídios seriam "problemas muito mais complexos e nunca monocausais", afirmou.
ÁLCOOL ENTRE JOVENS
No debate, a coordenadora educacional Isabel Tremarin falou sobre a prevenção do consumo de álcool entre jovens e adolescentes.
Com o objetivo de ilustrar os perigos da negligência dos pais em relação ao consumo de álcool por jovens, Tremarin coordenou a produção de um filme de ficção em parceria com pais de alunos do Colégio Anchieta, que foi lançado em junho deste ano.
Anchieta
A intenção é que o filme, que tem cerca de 30 minutos e está disponível na internet, seja usado em escolas como forma de alerta.
Para Tremarin, um dos maiores riscos do consumo de álcool entre os jovens é o fato de o cérebro deles ainda estar em desenvolvimento.
"Pessoas com menos de 18 anos têm a área do cérebro que controla a sensação de prazer bem mais desenvolvida do que a área ligada ao controle de impulsos. Isso significa que o controle de prazer tem maior aderência, enquanto aquele que diz o que é certo e errado amadurece um pouco depois", explica.
Segundo ela, estudos mostram que pessoas que começaram a consumir álcool com menos de 18 anos têm chances maiores de desenvolver dependência. Para combater a prática, ela defendeu a formação de "uma aliança forte entre educadores, família e órgãos público, com o objetivo de fazer a prevenção do consumo e promover o cuidado com essas crianças".
Link: http://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2017/08/1912314-estrategia-de-reducao-de-danos-no-consumo-de-alcool-deve-ser-individual.shtml
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