'Meu direito acaba quando encontra o do outro', diz Natália Pasternak sobre movimentos contrários à vacinação

03.09.20


O Globo

Ninguém pode ser obrigado a tomar vacinas. Certamente! Assim como ninguém pode ser obrigado a fazer um tratamento de quimioterapia, ninguém pode ser obrigado a parar de fumar, ninguém pode ser obrigado a doar sangue. Direitos individuais devem ser respeitados. No entanto, é preocupante que ainda tenhamos de repetir que meu direito acaba quando encontra o direito do outro.

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Saúde individual e saúde coletiva são domínios que nem sempre podem ser separados. Recusar tratamento contra câncer prejudica somente o paciente. Fumar prejudica somente o indivíduo, mas em local fechado pode prejudicar outras pessoas. Por isso, temos leis que protegem o direito do outros contra o fumo passivo.

Movimentos contrários à vacinação prejudicam toda a sociedade. Em 2018, uma família brasileira, assustada por alegações de que vacinas não são seguras e deixam sequelas, optou por não vacinar seus filhos. Eles tinham duas crianças, uma bebê de seis meses, e uma criança mais velha que já ia à escola. A mais velha pegou coqueluche, e após muito sofrimento, foi tratada e se recuperou. Mas contaminou a bebê, que precisou de internação e correu risco de vida.

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Além da própria irmã, essa criança pode ter contaminado outras crianças e bebês, de outras famílias que não eram contra vacinas, mas cujos filhos ainda não tinham idade para receber a imunização contra coqueluche. A atitude de uma família pôs em risco a vida dos filhos de outros.

No caso de doenças infecciosas, a recusa em vacinar pode impedir que a população seja protegida pela tão falada imunidade de rebanho, que protege os vulneráveis, aqueles que, por motivos de saúde ou de idade, não podem receber a vacina.

Quando o aparato de comunicação oficial da Presidência da República escolhe deliberadamente promover a frase “Ninguém pode ser obrigado a se vacinar”, está semeando confusão, em vez de informar. Faria melhor se usasse o alcance que têm para promover campanhas de conscientização sobre a importância, os benefícios e a segurança das vacinas. A solução para a pandemia é coletiva. Será com atuação conjunta, solidária, e de respeito ao próximo que venceremos a doença.

Fazer populismo disfarçado de respeito às “liberdades individuais” traz o sério risco de prolongar a pandemia, e comprometer ainda mais a retomada das atividades econômicas que o próprio governo federal tanto preza. Além disso, gerar insegurança e desconfiança sobre vacinas pode prejudicar a vacinação como um todo, trazendo de volta doenças que já foram controladas, como pólio e sarampo.

O Brasil tem uma bela história de adesão ampla e voluntária da população a campanhas de vacinação que preservam vidas e saúde. Se o atual governo não atrapalhar, ainda temos chance de seguir assim.

https://oglobo.globo.com/sociedade/meu-direito-acaba-quando-encontra-do-outro-diz-natalia-pasternak-sobre-movimentos-contrarios-vacinacao-24619987




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