Por que a letalidade do coronavírus é maior entre idosos e pacientes com doenças crônicas?

12.04.20


Gauchazh

Sete em cada 10 mortos no Brasil por síndrome respiratória aguda grave — um dado mais abrangente que ajuda a entender os efeitos da pandemia de coronavírus no país, como o próprio Ministério da Saúde tem adotado — apresentavam pelo menos um fator de risco associado, a chamada comorbidade. Ainda entre os óbitos, 77% dos casos são de pacientes com mais de 60 anos. O quadro é claro: a letalidade do coronavírus, apesar de não ser exclusiva a esses grupos, é muito maior entre idosos e pacientes com doenças crônicas.

Quadros de cardiopatia foram a principal condição associada aos óbitos investigados. Em segundo lugar, vêm os diabéticos, diagnósticos de pneumopatia e doenças neurológicas. Outras comorbidades, como problemas renais, de obesidade e asma, aparecem com prevalência menor.

Do total de casos confirmados no Brasil até sexta-feira (10), 4.217 (11%) estavam em estado grave, necessitando de internação em hospitais de referência em todo o Brasil. Entre os 1.056 óbitos confirmados até esta data, 77% ocorreram em pessoas com mais de 60 anos e 74% do total das vítimas apresentavam pelo menos um fator de risco.

Bruna Rocha, diagnosticada com esclerose múltipla em 2000 e vice-presidente da entidade Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME), viu o coronavírus chegar muito perto da família. Amigos próximos foram hospitalizados, o que fez ela temer ainda mais pela saúde do marido, que também tem esclerose múltipla, dos avós, da mãe e da irmã, que tem esquizofrenia, e, claro, dela própria.

— Tenho chorado quase todos os dias. Às vezes de medo, outras de raiva e tristeza. E muitas vezes de cansaço. É um cansaço físico, mas, principalmente, emocional. Por mais que eu tenha aprendido ao longo da vida que não controlo quase nada, é complicado lidar com tantas incertezas — conta Bruna, que também é diretora de comunicação da Crônicos do Dia a Dia (CDD).

Segundo Hemerson Luz, médico especialista em doenças infeciosas, todas as pessoas com comorbidades têm que adotar cuidados extras para evitar a infeção pela covid-19. O ritual é o mesmo indicado a todos: além de lavar as mãos com mais frequência com água e sabão, elas devem evitar tocar o rosto, aglomerações, contato próximo e confinamento por mais de 15 minutos com outras pessoas, que devem estar distantes cerca de dois metros.

— Se tiver qualquer pessoa sintomática em casa, essa pessoa deve usar máscara. Essas pessoas também devem respeitar rigorosamente o distanciamento social e evitar sair. Para muitos, há uma falsa sensação de segurança de sair para lugares abertos, mas elas devem levar em conta que o botão do elevador, a maçaneta da porta do prédio, o portão de casa podem contaminá-las — lembrou.

Pessoas acima de 60 anos se enquadram no grupo de risco mesmo que não tenham nenhum problema de saúde associado. Além disso, gente de qualquer idade que tenha comorbidades, como cardiopatia, diabetes, pneumopatia, doença neurológica ou renal, imunodepressão, obesidade, asma e puérperas, entre outras, também precisam redobrar os cuidados nas medidas de prevenção ao coronavírus. Pesquisa do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social) divulgada na última quarta-feira (8) mostra que 10,53% da população brasileira têm 65 anos ou mais.

Riscos maiores para os idosos

O aumento no número de pessoas com 65 anos ou mais na população brasileira foi de 20% na comparação com os dados de 2012, quando a proporção de idosos era de 8,8%. Há mais idosos entre as mulheres e entre amarelos e/ou brancos, que também têm uma maior expectativa de vida e uma taxa de fertilidade menor.

A gravidade da covid-19, a doença causada pelo coronavírus, aumenta com a idade, como diferentes estudos têm demonstrado. Um dos mais recentes, publicado em 31 de março na revista médica britânica The Lancet, mostra que a doença é, em média, muito mais perigosa para pessoas acima de 60 anos, com uma taxa de mortalidade de 6,4%, que dobra (13,4%) entre maiores de 80 anos, contra 0,32% em menores de 60 anos, segundo o estudo, que foi baseado em centenas de casos chineses observados em fevereiro.

Os idosos são as pessoas de referência ou os chefes de família de 19,3% dos domicílios brasileiros. Na relação que ocupam com a pessoa de referência da casa, eles são 91,5% dos avós, 69% dos sogros ou sogras e 61,2% dos pais ou mães. Segundo os pesquisadores, esse dado indica a dificuldade da política de distanciamento social dessa parcela da população. Os dados apontam também que os domicílios com idosos têm 25,6% menos pessoas do que a média nacional.

Um grupo internacional de cientistas apontou, também na revista The Lancet, que, entre as pessoas com mais de 80 anos, uma em cada cinco (20%) precisará ser hospitalizada por conta do coronavírus. A pesquisa também constatou que a proporção estimada de mortes nos casos diagnosticados e nos mais leves e não confirmados é fortemente influenciada pela idade.

"Nossas estimativas podem ser aplicadas a qualquer país para orientar decisões sobre as melhores políticas de contenção para covid-19", comentou um dos coautores, Azra Ghani. "Pode haver casos extremos que recebem muita atenção da mídia, mas nossa análise mostra claramente que, com 50 anos ou mais, a hospitalização é muito mais provável, e uma proporção maior de casos é fatal", completou.

https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/noticia/2020/04/por-que-a-letalidade-do-coronavirus-e-maior-entre-idosos-e-pacientes-com-doencas-cronicas-ck8usjpia020e01ntm03s81rg.html




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