Setembro laranja: como enfrentar a obesidade infantil em meio ao aumento de casos na pandemia?

02.09.21


REVISTA CRESCER

 

obesidade infantil é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um dos problemas de saúde pública mais graves do Século 21. E esse problema parece ter se agravado ainda mais durante a pandemia da covid-19: segundo uma pesquisa conduzida nos EUA, a pandemia levou a um aumento no número de crianças com sobrepeso ou obesidade no país.

Alimentação infantil (Foto: Pexels)
Prevenção da obesidade infantil começa ainda na introdução alimentar (Foto: Pexels)

estudo, publicado recentemente no Journal of the America Medical Association (JAMA), analisou os registros eletrônicos de saúde de 191.509 jovens americanos entre 5 e 17 anos, coletados no período de março de 2019 a janeiro de 2021.

Os pesquisadores constataram aumento de sobrepeso e obesidade especialmente entre as crianças de 5 a 11 anos de idade, cujo percentual aumentou 8,7% durante a pandemia. Atualmente, 45,7% das crianças dessa faixa etária estão acima do peso ideal. Entre os jovens de 12 a 15 anos, o sobrepeso aumentou cerca de 5,2%, em comparação com o período antes da pandemia, e entre os adolescentes de 16 a 17 anos, o aumento foi de 3,1%.

“Quando comparamos o ganho de peso entre crianças de 2019 a 2020, descobrimos que houve ganho de peso durante a pandemia para jovens de todas as idades. Em média, crianças de 5 a 11 anos ganharam 5 quilos extras, enquanto as de 16 a 17 anos ganharam 2 quilos extras. O resultado foi um aumento de quase 9% nas crianças mais novas nas categorias de sobrepeso e obesidade”, disse Corinna Koebnick, autora sênior da pesquisa, ao site News Medical.

Qual é o cenário do Brasil?

O Brasil tem aproximadamente 3,1 milhões de crianças com quadro de obesidade e 6,4 milhões com sobrepeso, conforme mostram os dados mais atuais do Ministério da Saúde, referentes a 2019. Os números SISVAN são provenientes do acompanhamento de crianças nos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS), do SUS. Das crianças acompanhadas, 14,8% das menores de 5 anos e 28,1% das crianças entre 5 e 9 anos tinham excesso de peso, e destas, 7% e 13,2% apresentavam obesidade, respectivamente, segundo o indicador Índice de Massa Corporal (IMC) para idade.

Todos os anos, geralmente no mês de maio, são divulgados os dados do sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, conhecido pela sigla Vigitel. A pesquisa, feita pelo Ministério da Saúde, tem o intuito de analisar a situação atual das doenças crônicas não transmissíveis no país, entre elas a obesidade. Neste ano, porém, os dados ainda não foram divulgados.

De acordo com a organização não governamental ACT, que atua em defesa de políticas de saúde pública, a coleta de dados do Vigitel foi realizada entre janeiro e abril de 2020 e há expectativa de que os resultados sejam divulgados em setembro, na “Semana de DCNT 2021”, Semana das Doenças Crônicas Não Transmissíveis, promovida pelo Ministério da Saúde. No entanto, a divulgação está atrasada em relação ao seu cronograma anual.

"O monitoramento desses dados fornece uma série de pistas para ações em saúde, como por exemplo saber a proporção de pessoas atingida por hipertensão ou diabetes, se está ocorrendo aumento ou diminuição de suas prevalências, em que regiões e estados do país estão mais ou menos presentes, quais os grupos mais afetados, como evolui a frequência de consumo de cigarros, fumo passivo, mamografias, consumo de alimentos marcadores de alimentação saudável e não saudável, entre outros fatores. Dados atualizados periodicamente são imprescindíveis para nortear quais políticas públicas devem ser construídas, implementadas e avaliadas, pois mapeiam as condições reais de vida da população", defende Kelly Poliany de Souza Alves, nutricionista e doutora em Saúde Coletiva, consultora técnica em Políticas Públicas de Alimentação e Nutrição da ACT.

Obesidade (Foto: Thinkstock)
Brasil não tem dados atualizados sobre obesidade infantil, após a pandemia (Foto: Thinkstock)

A CRESCER procurou o Ministério da Saúde para entender o motivo do atraso, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Vale destacar, porém, que o Vigitel - embora seja bastante importante para definir as políticas públicas relacionadas ao enfrentamento da obesidade no país, só traz dados de maiores de 18 anos.

Para a Dra. Elza Daniel de Mello, membro do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), embora faltem dados atualizados sobre a situação das crianças brasileiras, já é possível notar um aumento no número de pequenos com obesidade durante a pandemia da covid-19. “Houve aumento de cerca de 20 a 30% de obesidade infantil em todo o mundo, porque as crianças precisaram ficar mais em casa. Não havia nem o deslocamento para a escola, que já gerava um gasto energético, e em casa muitas vezes a alimentação tem como base alimentos ultra processados ou gordurosos, que contém mais calorias”, disse à CRESCER.

A nutricionista Viviane Gomes, do Instituto Castro, destaca, além consumo de alimentos industrializados, o longo tempo em frente às telas. “Infelizmente com a pandemia, as crianças foram obrigadas a ficar dentro de casa em frente aos aparelhos eletrônicos, consumindo guloseimas (salgadinhos, biscoitos recheados, doces etc.) que são extremamente calóricos”, avaliou.

Como prevenir e enfrentar a obesidade infantil?

Setembro marca o mês de conscientização contra a obesidade infantil - o chamado Setembro Laranja. Mas como é possível, na prática, prevenir e enfrentar esse problema dentro de casa? “Precisamos pensar na obesidade como uma doença sem cura, crônica e que traz uma série de problemas para as crianças. A obesidade traz distúrbio de crescimento, distúrbio do sono, crianças com diabetes muito precocemente e problemas no joelho, por exemplo. Há ainda a questão do bullying, a criança acaba com vergonha de praticar atividades físicas, entra em depressão, se isola...", afirma Dr. Eduardo Grecco, gastrocirurgião e endoscopista do Instituto EndoVitta.

Para o especialista, a prevenção precisa ser baseada em três pilares: alimentação saudável, atividade física e o controle da ansiedade. E quanto antes todos esses cuidados entrarem na rotina, melhor. "Evidências científicas apontam que esta proteção deve começar ainda na gestação e na primeira infância (do nascimento até os 4 anos de idade), pois distúrbios de crescimento e desenvolvimento nestas fases estão associados à obesidade tanto na infância como na vida adulta. Nesse sentido, precisamos de políticas públicas para garantir às gestantes o acompanhamento pré-natal adequado e o acesso à alimentação adequada e saudável, apoio e proteção ao aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida e à introdução da alimentação complementar saudável em tempo oportuno, em casa e nas creches", destaca Bruna Kulik Hassan, consultora em pesquisa e nutrição da ACT.

Ainda no aspecto da alimentação, além do estímulo ao consumo de frutas, verduras, legumes, grelhados – e evitar o excesso de embutidos e ultraprocessados -, vale lembrar que a educação flui melhor quando é pelo exemplo, ou seja, a dieta de toda a família importa.

Dra Elza acredita que, para se combater com eficácia a obesidade infantil, é necessário que haja uma parceria entre a família, escola e o governo. “Nós temos quase 50% de crianças com excesso de peso. Se essas crianças continuarem obesas, daqui há 20 anos o SUS vai estar sobrecarregado, porque muitas vão ter grandes comorbidades, como diabetes, hipertensão e alguns tipos de câncer que são facilitados pela obesidade. O ideal seria a gente planejar medidas pra cuidar dessas crianças e também para evitar que mais jovens fiquem obesos”, disse Elza.

No caso das escolas, o suporte pode vir através da implementação de mais atividades físicas na rotina das crianças. A nutricionista Viviane recomenda que sejam incluídos na rotina da criança períodos de atividades físicas, ao menos 3 vezes na semana. É importante também que a lancheira da criança contenha alimentos saudáveis e que sejam evitados os lanches industrializados.

8 dicas de ouro contra a obesidade infantil

Os especialistas ouvidos pela CRESCER reuniram 8 dicas de ouro para ajudar a prevenir a obesidade infantil por meio de hábitos saudáveis para as crianças (e para toda a família).

1) Procure fazer as refeições sem aparelhos eletrônicos ou mesmo TV ligada no ambiente, para que a criança perceba o alimento consumido e saiba identificar o momento em que se encontra saciada, para não consumir além do que o necessário;

2) Inclua legumes, verduras e hortaliças nas refeições. Você pode também envolver as crianças no momento do preparo, para que ela possa interagir com o alimento;

3) Faça da refeição um momento de prazer e alegria em família. O consumo de alimentos saudáveis pelos pais é uma ótima forma de incentivo para a criança;

4) Evite ter em casa alimentos industrializados. Substitua-os por frutas para os lanches da tarde e mesmo na escola;

5) Reduza a quantidade de carboidratos branco e inclua alimentos integrais na dieta -eles aumentam a saciedade da criança;

6) Inclua atividades físicas e brincadeiras ao ar livre na rotina;

7) Incentive o consumo de água em vez de refrigerantes e sucos de caixinha. De preferência, os sucos devem ser de fruta natural e sem adição de açúcar;

8) Cuide da rotina do sono. É importante que a criança tenha horas de sono satisfatórias para uma vida saudável.

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