Tabagismo pode aumentar risco de infecção por covid-19

09.04.20


Folha Vitória

Devido a epidemia do Novo Coronavírus, pesquisadores estão chegando à conclusão que fumantes podem ser mais impactados pela Covid-19, porque há um comprometimento do funcionamento dos pulmões. Entre os pacientes chineses diagnosticados com pneumonia associada ao coronavírus, segundo estudo da Organização Mundial da Saúde, as chances de agravamento da doença foram 14 vezes maiores entre as pessoas com histórico de tabagismo em comparação com as que não fumavam. 

Fumantes também têm o risco maior de serem acometidos por infecções respiratórias pelo coronavírus, outros vírus, bactérias e fungos.

"Diante da pandemia que temos enfrentado, com a campanha queremos conscientizar a população sobre os riscos graves que os cigarros tradicionais, eletrônicos e vaporizadores trazem para saúde. Não há nível seguro de consumo: apenas um e-cigarro na semana já pode causar sérios danos aos pulmões", destaca o presidente da AMB, Lincoln Ferreira.

A indústria não se cansa de enganar

Os fabricantes de cigarros têm pressionado a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para liberar o comércio dos DEFs no Brasil, especialmente os cigarros eletrônicos e os produtos de tabaco aquecido, sob a alegação de que teriam risco reduzido, por não terem combustão, e serem destinados a adultos fumantes que não querem ou não conseguem parar de fumar. Entretanto, não há evidências conclusivas de pesquisas independentes, ou seja, sem conflito de interesse e que não sejam financiadas pelas empresas de tabaco, de que os DEFs reduzem realmente os danos à saúde. Na verdade, pesquisas tem revelado que substâncias altamente tóxicas estão presentes nos DEFs e que houve aumento no consumo entre jovens nos países em que eles podem ser comercializados.

"O discurso de que os dispositivos eletrônicos para fumar são um produto de menor risco é sedutor, mas é preciso lembrar que já foi usado antes pela indústria de tabaco de forma enganosa, quando lançaram os cigarros "light". Os DEFs também viciam e causam doenças e mortes, por isso o alerta de nossa campanha. A novidade tecnológica atrai para a experimentação, mas depois aprisiona para o consumo, assim como outros produtos para fumar", destaca Mônica Andreis, Diretora Executiva da ACT Promoção de Saúde.

Para a AMB, "esses novos produtos encobrem, numa nuvem de vapor, sérios riscos às políticas de controle do tabaco, não só pela predisposição à renormalização do tabagismo, estímulo à iniciação e recaída pela falsa percepção de segurança, mas também um aumento sem precedentes de doenças tabaco relacionadas causadas pelo cigarro acrescidas da contribuição dessas novas tecnologias para fumar. Num cenário onde o SUS e a Saúde Suplementar lidam com o desafio de enfrentamento dos altos custos da pandemia do coronavírus seria uma insensatez a liberação desses produtos", destaca Alberto Araújo, Presidente da Comissão de Combate ao Tabagismo da AMB.

O vice-presidente da AMB, Diogo Sampaio pontua que "esses dispositivos eletrônicos representam alto risco, especialmente para crianças, adolescentes e adultos jovens. A maioria dos cigarros eletrônicos contêm nicotina, que é altamente viciante. Além disso, jovens que usam e-cigarros têm maior chance de se tornarem fumantes de cigarros tradicionais quando adultos."

A Política Nacional de Controle do Tabagismo, que existe desde o final da década de 1980, é considerada bem sucedida e um exemplo para outros países. O Brasil chegou a ser premiado em 2019 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por ser o segundo país, depois da Turquia, a ter adotado integralmente todas as medidas previstas no relatório MPOWER, que são consideradas as melhores práticas para o controle do tabagismo.

Atualmente, a prevalência de tabagismo no país é de 9,3%, segundo pesquisa Vigitel do Ministério da Saúde, o que representa uma redução de 40% no consumo de tabaco em 13 anos. Medidas como políticas de aumento de preços e impostos, restrição da publicidade, ambientes livres de fumo, entre outras, foram fundamentais para essa conquista, e é preciso continuar avançando.

De olho nos jovens

No ano passado, vários casos de intoxicação e mortes foram registrados nos Estados Unidos entre pessoas que usavam dispositivos eletrônicos para fumar, especialmente jovens. O CDC (Centers for Disease Control and Prevention), a FDA (Food and Drug Administration) e departamentos de saúde locais e estaduais investigam a doença, chamada de Evali (de "E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury"). Em um desses casos, um jovem de 17 anos precisou fazer um transplante duplo de pulmão devido à doença. Até 18 de fevereiro, haviam sido registrados 2.807 casos, com 68 mortes.

A epidemia de consumo entre estudantes e a ocorrência de Evali deixaram claro que, com seus novos produtos, a indústria vem atingindo os jovens, e não as pessoas que já são fumantes, como alegam. Não é por acaso que muitos dispositivos têm um design apelativo para essa faixa etária, como formato de pen drive, e podem ser carregados em portas USB de computadores.

Design e funcionamento

Os cigarros eletrônicos usam uma bateria para aquecer um líquido, que geralmente contém nicotina e aditivos de sabor, e produzir um aerossol que é inalado pelo usuário. Esse tipo de DEF inclui uma ampla variedade de produtos, desde os que se parecem com cigarros ou canetas até os maiores, descritos como tanques e pen-drives.

Já os produtos de tabaco aquecido têm uma bateria que aquece um pequeno cigarro, bastão ou "pod" de tabaco a uma alta temperatura para produzir o aerossol, que também contém nicotina e outros produtos químicos, inalado pelo usuário.

Em razão do vapor liberado, os usuários desses dispositivos não se identificam como fumantes, mas como vapers. Um dos DEFs mais conhecidos é o Juul, lançado em 2015. Ele tem a aparência de um pen drive e pode ser carregado na porta USB do computador, além de ter diversos sabores originais (manga, fruta, pepino, creme, menta, hortelã, fumo Virgínia e tabaco clássico). Outras empresas fabricam refis com mais opções de sabores, como morango, melão e café com leite. Refis de Juul com concentração de sal de nicotina, o que significa nicotina com ácido benzoico, contém o equivalente ao total de nicotina de um maço inteiro de cigarros.

https://www.folhavitoria.com.br/saude/noticia/04/2020/tabagismo-pode-aumentar-risco-de-infeccao-por-covid-19




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