Vape: Cigarro eletrônico entre jovens reverteu declínios no uso de tabaco
31.05.22O Globo
Um estudo publicado na revista Pediatrics mostrou que mais de 1 milhão de adolescentes de 14 a 17 anos passaram a consumir algum tipo de tabaco diariamente nos Estados Unidos, entre 2017 e 2019. Isso se traduz em 2.284 novos fumantes menores de idade todos os dias. A maior parte deles, é usuária de cigarro eletrônico.
De acordo com os pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego, essa taxa de iniciação ao tabaco entre jovens não é observada desde o início dos anos 90, antes da implementação das medidas de controle do tabaco. “Dadas as evidências recentes das potenciais consequências para a saúde dos cigarros eletrônicos com sabor vaping, esse aumento acentuado entre os jovens requer atenção e ação urgentes da saúde pública”, disse o co-autor John P. Pierce, professor da Universidade da Califórnia em San Diego.
A equipe analisou dados de pessoas de 14 a 34 anos, coletados pelo estudo longitudinal de Avaliação Populacional de Tabaco e Saúde (PATH), em dois períodos. O primeiro, em 2014, antes do aumento nas vendas dos produtos da marca JUUL - pioneira no mercado de cigarros eletrônicos - e em 2017, quando o consumo desses dispositivos explodiu.
Para cinco grupos etários, os pesquisadores compararam quantos participantes usaram tabaco pela primeira vez e quantos se tornaram usuários diários durante um período de dois anos. Os resultados mostraram que houve queda no número de indivíduos que experimentaram cigarros ou que se tornaram fumantes diários de cigarro entre o grupo de 2014 e o de 2017.
Por outro lado, o uso diário geral de tabaco aumentou devido ao aumento do consumo de cigarros eletrônicos, principalmente entre aqueles de 14 a 17 anos. Esses adolescentes corresponderam a dois terços de todos os novos usuários diários de tabaco entre 2017 e 2019. Além disso, esses jovens apresentaram o mesmo grau de dependência do tabaco de pessoas que fumam cigarro comum diariamente.
"Três principais contribuintes influenciaram o aumento no uso diário de cigarros eletrônicos: campanhas de mídia social, altas concentrações de nicotina e sabores de frutas", disse a autora sênior Karen Messer, , professora de bioestatística da Escola de Saúde Pública Herbert Wertheim, na UC San Diego.
Em 2017, houve um aumento de 40% nas vendas de cigarros eletrônicos nos Estados Unidos, impulsionado pelos produtos JUUL com sabores atraentes para jovens e altas concentrações de nicotina. Os pesquisadores estimam que 600.000 indivíduos nos EUA com menos de 21 anos usaram produtos JUUL diariamente em 2019, uma taxa 2,5 vezes maior do que aqueles com idades entre 25 e 34 anos.
O tabagismo é considerado um dos principais fatores de risco para uma série de doenças crônicas, incluindo vários tipos de câncer, doenças pulmonares e cardiovasculares. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 8 milhões de pessoas morrem por ano no mundo em consequência do tabaco. Até 2030, o tabagismo pode ser responsável por 10% do total de mortes globais.
Os cigarros eletrônicos são dispositivos que aquecem um líquido aromatizado com nicotina e outros produtos químicos. Inicialmente, eles foram comercializados como uma estratégia menos prejudicial à saúde para substituir os cigarros tradicionais. Entretanto, uma série de estudos publicados nos último anos indica que esses dispositivos pode causar graves consequências negativas para a saúde no longo prazo.
No Brasil, a comercialização de cigarros eletrônicos é proibida. Entretanto, isso não impede o uso desses dispositivos, que vem ganhando popularidade no país, em especial entre jovens. Dados da pesquisa Covitel, apresentados este ano, mostram que uma a cada cinco pessoas de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos. O relatório é o primeiro a trazer dados referentes ao consumo desses dispositivos o país.
Por outro lado, dados da Vigitel mostram queda na prevalência do consumo de cigarros tradicionais entre adultos. Em 2021, 9,1% da população a partir de 18 anos fumava, sendo 11,8% entre homens e 6,7% entre mulheres. Em 2006, primeiro ano que o inquérito foi realizado, essa taxa era de 15,7%, sendo 19,5% para homens e 12,4% para mulheres.
A edição mais recente da pesquisa mostrou também que a frequência de fumantes foi menor entre os adultos jovens de até 34 anos e entre aqueles com mais de 65 anos. Segundo informações do Inca, a idade média de experimentação de tabaco entre os jovens brasileiros é de 16 anos de idade, tanto para meninos quanto para meninas.