Visto, lido e ouvido — Desigualdades educacionais

08.08.21


Correio Braziliense - Opinião

Se, hoje, nossos cientistas e pesquisadores têm de buscar no exterior meios para prosseguir suas pesquisas foi porque deixamos de dar a atenção devida e o valor que merece a educação, sobretudo, a pública. Hoje, nossas escolas públicas, apesar dos volumosos recursos que o governo diz alocar para o ensino, estão, em sua maioria, sucateadas ou, simplesmente, fechadas pela pandemia, deixando milhares de alunos sem aulas e sem perspectiva de retorno. Esse atraso, dizem os especialistas, será mais sentido no futuro, quando a situação atingir um nível crítico, comparável aos países mais pobres do planeta.

De cada cinco crianças e adolescentes, quatro estão matriculados em escolas públicas, em sua maioria ainda fechadas. Falar em recuperação da aprendizagem, perdida em 2020 é uma falácia. O mesmo se pode dizer da aprendizagem perdida no primeiro semestre de 2021. As escolas particulares estão ocupando esses espaços vazios, atendendo apenas os alunos de famílias da classe média para cima, deixando uma legião de brasileiros, filhos de famílias de baixa renda, no porão escuro do analfabetismo.

Esse vácuo deixado pela escola pública, por causa da pandemia, traz reflexos não apenas ao binômio ensino-aprendizagem, se estende à saúde, ao desenvolvimento mental e emocional, à segurança e à assistência social, já que muitas crianças deixam de ser atendidas nessas importantes áreas de seu crescimento como ser humano. Os mais atingidos são, sobretudo, aqueles alunos de famílias mais pobres das periferias das cidades.

Não bastasse a acentuada queda na renda familiar, a questão da segurança alimentar é também importante, uma vez que muitas crianças ficam sem a merenda escolar diariamente. São impactos que trarão problemas duradouros no futuro desses cidadãos. Esse é um tempo irrecuperável do ponto de vista do desenvolvimento humano. Infelizmente, não é uma preocupação que o brasileiro observa nas autoridades responsáveis por essas áreas. Não há um mutirão nacional em prol do ensino. Não há propagandas educativas, abordando esses problemas e suas consequências, muito menos orientando a população como proceder para enfrentar essa crise vivida na educação dos brasileiros. Nem as manchetes diárias abordam o assunto. É como se ele não existisse, ou fizesse parte apenas do cotidiano daqueles que se ocupam realmente com a questão.

Se, antes da pandemia, era um problema demasiadamente sério, agora, com o prolongamento da quarentena, ele adquiriu proporções catastróficas. Autoridades, em posição de influência, poderiam mudar essa paralisia. Mas elas têm filhos matriculados em escolas particulares e, portanto, não sentem o problema na pele, nem fazem ideia das repercussões negativas que o fechamento de escolas tem para o futuro do país.

Justamente, essas crianças e adolescentes da periferia são as que mais sentem os efeitos da pandemia e estão entre os mais esquecidos. Isso retira deles qualquer chance de alcançar um futuro minimamente decente. Não é difícil prever que essa defasagem irá aumentar além das desigualdades educacionais, já altas, as desigualdades econômicas entre ricos e pobres, tornando nosso país, que já é um campeão nesse quesito, um exemplo a ser evitado a todo custo.

De certo, essa é uma questão que, em um país sério e comprometido, deveria provocar um verdadeiro esforço de guerra para ser superada. Para aquelas crianças que estão há quase dois anos sem escola, ocorre um duplo prejuízo cognitivo: a perda de novos conhecimentos e o conteúdo que tinha aprendido, mas não apreendidos, foi apagado da memória.

Por outro lado, o afastamento prolongado faz aumentar, ainda mais, o desinteresse das crianças pela escola, isso sem falar que havia, anteriormente, uma grande evasão escolar. Para aquelas, em fase de alfabetização, os prejuízos são incalculáveis e, em alguns casos, irreversíveis.




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