Todos pelas Vacinas, impacto de bebidas açucaradas na saúde e proibição de cigarros com sabor | Boletim ACT 168

03.02.21


 

Editorial

O ano começou com a maior das perspectivas para todo o planeta: a vacinação em massa contra a Covid-19. Embora o Brasil tenha saído atrasado, em comparação com outros países que começaram a vacinar ainda em dezembro, até o dia do fechamento deste Boletim, mais de 2,2 milhões de pessoas já tinham sido vacinadas. Segundo especialistas, como o médico sanitarista e ex-ministro da saúde, José Temporão, o Programa Nacional de Imunizações, que faz parte do SUS, é capaz de atender a demanda diante da pandemia do novo coronavírus. "Não tenho a menor dúvida de que o PNI tem todas as condições técnicas, logísticas, de pessoal e experiência para poder colocar essa campanha de vacinação em prática”, avaliou, em entrevista à CNN.

Assim como fez em 2020, compartilhando as principais informações sobre a pandemia e evitando as notícias falsas, a ACT vai compartilhar informações sobre o tema e apoia o movimento e campanha Todos Pelas Vacinas, formado por organizações de divulgação científica para promover a conscientização sobre a importância da vacinação contra a Covid-19 e para prevenir outras doenças. É justamente para esclarecer as principais dúvidas a respeito das vacinas que a ACT abre a primeira edição do Boletim com a entrevista com o epidemiologista José Cássio de Moraes, membro do Observatório Covid-19 BR.

A ACT também está partipando de um movimento que reúne organizações como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a Transparência Brasil e a Brasil Open Knowledge para pedir maior transparência quanto aos dados relacionados à área de saúde e, especialmente, os que se referem à Covid-19.

Esta edição traz como destaque a pesquisa intitulada “O lado oculto das bebidas açucaradas: doenças, mortes e custos à saúde",  que apresenta dados importantes sobre o impacto dessas bebidas ao sistema de saúde brasileiro. São mais de 2,2 milhões de brasileiros com doenças relacionadas ao consumo desses produtos e uma conta que chega a quase R$3 bilhões por ano. O trabalho é inédito no Brasil e feito pelo mesmo instituto que calculou a carga do tabagismo para a sociedade, em 2015.

Por fim, na seção ACT Legal, um marco na história do controle do tabagismo: a partir de agora, não há mais impedimento para que a Anvisa proíba o registro de cigarros com aditivos não permitidos pela norma que regula esses produtos. A decisão foi por unanimidade, na 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), reconhecendo a competência da agência para a edição da Resolução da Diretora Colegiada 14/2012, sua legalidade e constitucionalidade. 

Boa leitura,

Anna Monteiro | Diretora de Comunicação

____________________________________________

 

Entrevista: José Cássio de Moraes

As vacinas disponíveis até agora contra a Covid-19 reduzem a gravidade dos casos e, com isso, têm potencial para reduzir a transmissão pela diminuição de casos graves. Mas, depois de vacinar, é importante continuar usando máscara e álcool em gel, além de manter o distanciamento social. Quem afirma é o epidemiologista da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, José Cássio de Moraes, membro do Observatório Covid-BR, iniciativa independente que reúne pesquisadores com o desejo de contribuir para a disseminação de informação de qualidade baseada em dados atualizados e análises cientificamente embasadas. O Observatório Covid-19 BR é uma das organizações integrantes do Movimento Todos Pelas Vacinas.

O que é o movimento/campanha Todos Pelas Vacinas? Qual o objetivo?

O Movimento Todos Pelas Vacinas é um trabalho conjunto de diferentes redes de divulgação científica como Observatório Covid-19 Br, União Pró-Vacina, Equipe Halo das Nações Unidas, Rede Análise Covid, Blogs Unicamp, Projeto Divulgar, Abrasco e outros. 

A ideia do movimento é fornecer informações embasadas sobre vacinas que as pessoas possam compartilhar em suas redes sociais através do site www.todospelasvacinas.info. O site conta ainda com apoio de personalidades para auxiliar na divulgação do movimento. Assim, pretendemos combater as fake news sobre o tema e ainda fornecer material para que as pessoas possam se informar. 

Como funciona uma vacina?

As vacinas introduzem um antígeno para que estimule o organismo a produzir anticorpos. Quando o vírus infecta uma pessoa vacinada, os anticorpos vão neutralizar a ação do vírus.

E no caso das vacinas contra a Covid-19, como elas funcionam e quais as principais diferenças entre as várias vacinas que estão começando a ser disponibilizadas?

Estão disponível no mundo cinco vacinas, duas delas liberadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 

A Coronovac é composta de vírus inteiro inativado, ou seja, morto. Deve ser aplicada duas doses com intervalo de duas a quatro semanas.

A Astrazeneca/Oxford é um composto com um vírus respiratório de macaco, o Adenovírus, no qual inserimos material genético do vírus da Covid-19 para que o organismo produza anticorpos contra a proteína S. Essa proteína gruda na célula e facilita a entrada do vírus na célula humana. O adenovírus não se reproduz no organismo. O esquema é de duas doses com intervalo de quatro a 12 semanas.

Pfizer e Moderna são vacinas por RNA mensageiro envolto em uma bolha de gordura. O RNA penetra no citoplasma da célula e ela passa a produzir proteína S. Essa proteína vai estimular o organismo a produzir anticorpos para neutralizar a adesão do vírus na célula. Devem ser aplicadas duas doses com intervalo de três a quatro semanas.

A Sputinik 5 é constituída por dois vírus respiratórios humanos, Adenovírus, no qual se insere material genético para agir de forma semelhante à da Astrazeneca. Para cada dose, é um vírus diferente, que também não se multiplica. O intervalo entre as doses deve ser de três semanas. 

Qual a importância de se vacinar o maior número possível de pessoas?

As vacinas disponíveis reduzem a gravidade dos casos. Potencialmente, podem reduzir a transmissão pela diminuição de casos graves.

Como está o país na questão da vacinação? Saímos com atraso frente a outros países, e ainda estamos com uma baixa cobertura?

A cobertura com a primeira dose ainda não chegou a 1%. O programa nacional de imunização tem capacidade de vacinar mais de dois milhões de doses por dia se houver disponibilidade de vacinas.

Algumas pessoas têm medo de se vacinar, porque  as vacinas foram desenvolvidas num período relativamente curto de tempo. Elas são seguras?

O estudo da vacina para coronavírus está sendo feito desde de 2002. As plataformas das vacinas também já eram conhecidas anteriormente. Houve um investimento massivo de bilhões de dólares para acelerar os estudos, mas sem perda de segurança. 

Nos estudos das vacinas, não se observou qualquer evento adverso grave. Febre por alguns dias, dor local e vermelhidão são reações adversas comuns.

Quais os maiores desafios que o país enfrenta para que a vacinação seja a mais ampla possível?

O maior desafio é a escassez de vacinas. O país não deu importância à vacina, priorizando medicamentos sem eficácia.

Quais os principais cuidados que a pessoa que foi vacinada deve ter?

As pessoas vacinadas devem manter as medidas não farmacológicas como máscara, distanciamento social e uso de álcool gel, pois a vacina não elimina a transmissão. Quando atingirmos uma cobertura elevada, vamos ter uma importante redução da transmissão. 

____________________________________________

 

Notas

Todos Pelas Vacinas

A ACT Promoção da Saúde está apoiando a campanha Todos pelas Vacinas, iniciativa liderada por organizações ligadas à divulgação científica com o objetivo de informar a população a respeito da imunização e combater notícias falsas sobre as vacinas contra a Covid-19.

A mobilização conta com uma plataforma virtual, que disponiza materiais como artes, vídeos, artigos e pesquisas, e diversas ações nas redes sociais para serem compartilhadas, sempre com a hashtag #TodosPelasVacinas

Segundo a Organização Mundial da Saúde,  as vacinas salvam aproximadamente três milhões de pessoas por ano, e cerca de 1,5 milhão de pessoas poderiam ser salvas a cada ano se recebessem vacinas contra a doença que contraíram. De acordo com o site, as vacinas têm uma importância para a sociedade como um todo, uma vez que doenças, ainda que tratadas, afetam a vida social e econômica de todos os indivíduos, além de gerarem bilhões em gastos no sistema de saúde.  

A campanha é organizada por 15 entidades científicas, entre elas a equipe Halo das Nações Unidas (ONU), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a União Pró-Vacina, a Rede Análise Covid-19 e o Observatório Covid-19 BR. 

 

Dependência à pronta-entrega

Em fevereiro, a ACT vai lançar um estudo sobre a propaganda e a venda de cigarros e outros produtos de tabaco por meios eletrônicos, que são proibidas no Brasil há anos. Dependência à pronta-entrega analisa como é possível que qualquer pessoa, incluindo menores de idade, comprem cigarros por meio de aplicativos de entrega. Até cigarros eletrônicos, que têm o marketing e a venda proibidos no país, podem ser adquiridos por aplicativos.

A análise é especialmente relevante agora porque houve um aumento exponencial no uso de aplicativos de entrega desde o início do período de isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19. Além disso, em 2019, a pesquisa Vigitel mostrou que houve um incremento no percentual de jovens adultos fumantes em 15 capitais brasileiras, o que interrompeu uma série histórica de queda de cerca de 30 anos. 

Aguarde e acompanhe o lançamento em nossas redes sociais.

 

"A saúde é uma palavra distante da pobreza"

No ano passado, durante o Seminário Alianças Estratégicas para a Promoção da Saúde, organizado de maneira virtual pela ACT, convidamos a poeta Carol Dall Farra para o encerramento de um dos encontros. Seu trabalho, a declamação de um texto sobre como grupos socioeconomicamente vulneráveis estão mais sujeitos a sofrer com falta de acesso à saúde, alimentação inadequada e tabagismo, foi tão emocionante que pedimos para que ela o gravasse também em vídeo. O resultado pode ser conferido no canal da ACT no Youtube.

 

Vape Vicia: cigarros eletrônicos não ajudam a parar de fumar

Uma das prioridades da ACT em seu trabalho pelo controle do tabaco é a defesa da manutenção da proibição da venda e propaganda no Brasil dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), que incluem os cigarros eletrônicos e os produtos de tabaco aquecido. Isso porque a indústria do tabaco tenta mostrá-los como produtos de “dano reduzido” para ajudar pessoas que já fumam a parar, mas a verdade é que estudos já mostraram que eles não servem para isso e também fazem mal para a saúde. Além disso, estratégias como a promoção desses dispositivos em festas e o uso de sabores doces são utilizadas para atrair novos - e jovens - consumidores. 

Por isso, estamos lançando um novo vídeo, mais uma peça da campanha Vape Vicia. Elaborado e produzido por uma equipe de jovens, mostra um grupo de amigos que descobre que um deles está tentando usar os vapes para parar de fumar, então conversam sobre por que essa não é uma boa opção. Confira o vídeo e compartilhe em suas redes sociais.

 

América do Sul se torna região livre do fumo

Com a assinatura de decreto presidencial no Paraguai, na primeira semana de janeiro, proibindo o fumo e o uso de cigarros em lugares públicos fechados e em áreas externas lotadas, os países da América do Sul alcançaram um marco importante na saúde pública: a população da região está protegida dos efeitos nocivos do fumo passivo. Assim, o continente, que reúne cerca de 430 milhões de pessoas, é o primeiro a ser livre do fumo.

A evolução das políticas de controle do tabagismo é resultado de anos de compromisso e ações de lideranças e grupos da sociedade civil para que os países adotassem as obrigações estabelecidas na Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, da Organização Mundial da Saúde, o primeiro tratado global de saúde pública, que ano passado completou 15 anos. 

As evidências científicas são claras e apontam que o único meio efetivo para proteger trabalhadores e a população em geral contra os efeitos do fumo passivo é implementar ambientes livres de fumo, incluindo locais de trabalho e espaços públicos, como restaurantes, bares e indústria da hospitalidade. Outras medidas de controle do tabaco, incluindo aumento de impostos de produtos de tabaco, advertências sanitárias e proibição da publicidade, também são fundamentais para avançar.

 

O lado oculto das bebidas açucaradas

Uma pesquisa inédita, “O lado oculto das bebidas açucaradas: doenças, mortes e custos à saúde",  traz dados importantes sobre o impacto das bebidas açucaradas. Mais de 2,2 milhões de adultos brasileiros estão com obesidade ou sobrepeso devido ao consumo dessas bebidas e quase 13 mil adultos morrem por ano no Brasil por causa delas. Quase 1,4 milhão de adultos têm diabetes tipo 2 no Brasil, o que representa 16% do total de pessoas com a doença. A cada ano, mais de 80 mil novos casos de diabetes tipo 2 são atribuíveis às bebidas açucaradas e 5.179 mortes de pacientes com essa doença são devidas ao consumo de refrigerantes, bebidas de frutas e chás açucarados.

Outro dado inédito é o cálculo do custo que o consumo de bebidas açucaradas traz aos cofres públicos: o sistema de saúde brasileiro gasta quase R$ 3 bilhões, por ano, na atenção a pacientes com doenças provocadas pelo consumo de bebidas açucaradas. Desse total, quase R$ 140 milhões são usados na atenção a pessoas com obesidade e sobrepeso e R$ 2,86 bilhões com pacientes das demais doenças associadas, como diabetes tipo 2, doenças cardíacas, cerebrovasculares, doenças renais, asma, doenças osteomusculares e câncer.

O estudo foi coordenado pelo Instituto de Efectividad Clinica y Sanitária (IECS), e contou com a participação ACT Promoção da Saúde nos dados sobre o Brasil.  

 

XXVI Conbran 

A 26º edição do Congresso Brasileiro de Nutrição aconteceu entre os dias 19 e 22, reunindo dois mil participantes. O evento, que desde 2016 se mantém livre do patrocínio por indústrias alimenticias com conflito de interesses, aconteceria no ano passado, em Belém do Pará, mas foi adiado por conta da pandemia da Covid-19 e acabou ganhando uma versão online. O objetivo do encontro foi promover discussões de caráter técnico-científico, político e cultural sobre a alimentação adequada e saudável como um direito para todos, abordando o tema central “Comensalidade e sociedade: o encontro com a cultura, a ciência e a comida”.

Contanto com apoio da ACT Promoção da Saúde como patrocinadora, o evento reuniu profissionais, estudantes, membros da academia e representantes diversas entidades e organizações, entre elas a Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, da qual a ACT faz parte, e que apresentou o curso pré-congresso de “Advocacy para a agenda de Alimentação e Nutrição”. Paula Johns, diretora geral da ACT, moderou a mesa “Alimentação, saúde e ambiente: agrotóxicos em debate”, e vários outros membros da Aliança fizeram palestras ao longo do congresso. 

A Aliança apresentou, também, um estande virtual, onde foram promovidos bate-papos inspiradores com convidados especiais, rodas de conversa com os Núcleos Locais da Aliança e um quiz desafiador para testar os conhecimentos dos participantes sobre políticas públicas de promoção da alimentação adequada e saudável, valendo brindes como os livros "Donos do Mercado", de João Peres e Victor Matioli, e "Uma verdade indigesta", de Marion Nestle.   

 

Você já apoia o NutriNet Brasil?

A qualidade da alimentação dos brasileiros tem piorado nos últimos anos e isso se reflete nas prevalências elevadas de obesidade e outras doenças crônicas que observamos atualmente no país. Para mudar esse quadro, o estudo NutriNet Brasil pretende acompanhar as condições de alimentação e o estado de saúde de 200 mil brasileiros de todas as regiões do país por vários anos e identificar os padrões de alimentação praticados por essa população capazes de  prevenir ou aumentar o risco de doenças como diabetes, hipertensão, obesidade e diversos tipos de câncer. O estudo é totalmente online.

Há, hoje, cerca de 85 mil brasileiros participando da pesquisa, mas a meta é chegar a 200 mil pessoas. Para isso, foi lançada a campanha "Eu participo do #NutriNetBrasil, e você?", para estimular a entrada de novos participantes no estudo a partir, principalmente, do apoio dos embaixadores convidados, que declaram sua participação na pesquisa em suas próprias redes sociais e convidam seus seguidores a também participarem. Rita Lobo, Bela Gil, Paola Carosella, Pedro Bial e Gregorio Duvivier já embarcaram nessa.

Uma forma apoiar é fazer a divulgação das artes da campanha nas redes sociais, usando a hashtag #NutriNetBrasil e citando o perfil do @NutriNetBrasil

 

Por Mais Transparência

Outro movimento que a ACT vem ajudando a divulgar é o que reivindica mais transparência aos dados públicos, especialmente os do Ministério da Saúde relacionados à pandemia da Covid-19. Ele reúne entidades como Open Knowledge Brasil, Transparência Brasil, Purpose e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.

Embora tenha sido cobrado e apresentado um plano de vacinação contra a Covid-19, ainda sem muitos detalhes, o país segue sem ter acesso a dados sobre insumos e infraestrutura hospitalar, como testes, leitos, medicamentos  e seringas. No último dia 2, a Folha de S. Paulo publicou um artigo do grupo mostrando a situação.

Em dezembro, uma nota técnica publicada pelo Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas indicava a desatualização de painéis de testes, medicamentos e EPIs.    

____________________________________________

 

ACT Legal

  • Regulação de cigarros com sabor entra em vigor 

Por unanimidade, em julgamento da 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), realizado em 25 de janeiro, foi proferida a terceira decisão judicial que reconhece a competência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a edição da Resolução da Diretora Colegiada 14/2012, que regula o uso de aditivos nos produtos de tabaco, bem como a sua legalidade e a sua constitucionalidade. A decisão manteve a sentença em ação movida pelo Sinditabaco (Sindicato da Indústria do Tabaco) contra a Anvisa (proc. nº 0046897-86.2012.4.01.3400).  

Esta decisão está alinhada à do Supremo Tribunal Federal, de 2018, e ao precedente fixado no Incidente de Assunção de Competência (IAC) julgado pela 3ª Seção do TRF1, no ano passado, e representa mais uma vitória para a saúde pública no controle do tabagismo. Apesar de caber recurso das decisões do TRF1, ambas contribuem para pacificar o debate sobre a validade da RDC 14/2012 e a competência da Anvisa para a sua edição.  

Com a decisão de hoje, não há mais liminares em favor das grandes fabricantes de cigarros do país, e a regulação do uso de aditivos em produtos de tabaco finalmente está em vigência, após mais de oito anos da sua edição”, explica a advogada Adriana Carvalho, diretora jurídica da ACT Promoção da Saúde, organização que participou como amicus curiae e assistente nestes três casos.  Isso significa que, a partir de agora, não há mais impedimento judicial para que a Anvisa proíba o registro de cigarros com sabor e aromas.

A RDC 14/2012 é medida de prevenção ao tabagismo. Os aditivos de sabor aumentam a atratividade e palatabilidade de produtos de tabaco, facilitando a iniciação ao tabagismo. Há aditivos que potencializam a dependência química, como a amônia. Aditivos de sabor são usados para mascarar a irritação e o sabor desagradável do tabaco, e facilitar a experimentação e o consumo entre adolescentes de um produto que causa malefícios à saúde, forte dependência, risco de doenças e morte.

Breve histórico

Há oito anos, a Anvisa concluiu um processo de consulta pública (nº 25351.153402/2012-69) sobre a regulação do uso de aditivos em produtos de tabaco, que contou com a ampla participação da sociedade civil e do setor regulado, e editou a RDC 14/2012.  A norma prevê a relação exaustiva dos aditivos permitidos e proibidos e possibilita às empresas requerimento para uso dos insumos proibidos, conforme dispõe.

Apesar de ter sido acolhido o pleito das empresas de tabaco e permitido o uso de açúcar para recompor perdas durante o processo de cura das folhas de tabaco, empresas e entidades sindicais judicializaram imediatamente a medida e obtiveram liminares, o que permitiu que as maiores fabricantes de cigarros no país seguissem por todo esse tempo sem cumprir a resolução. 

Em fevereiro de 2018, o STF julgou improcedente a ação direta de inconstitucionalidade movida pela Confederação Nacional da Indústria contra a Anvisa (ADI 4874), para obter a declaração de inconstitucionalidade do art. 7º, inc. III e XV, da Lei 9.782/99, e dos art. 6º e 7º, da RDC 14/2012).

O Plenário do STF, por 9 votos a 1, manteve a constitucionalidade dos dispositivos da referida lei, que trata da competência da Anvisa para proibir a fabricação, importação e comercialização de produtos e insumos, em caso de risco iminente à saúde. 

Da mesma forma, foi mantida a constitucionalidade dos dispositivos da RDC 14/12, e por questão de quórum, este item do julgamento foi destituído de efeito vinculante, o que permitiu a tramitação das ações já existentes à época, com o mesmo objeto.

Em outubro/2020, a 3ª Seção do TRF1, por unanimidade (processo n° 0046408-58.2012.4.01.3300), admitiu Incidente de Assunção de Competência e uniformizou entendimento que converge para superar o debate sobre o ponto da decisão do STF destituída de efeito vinculante, ao afirmar “que decorre da improcedência da ação a validade da norma editada pela Anvisa, porquanto não alcançado o quórum necessário para retirar a sua validade”. 

  • Agenda Regulatória da Anvisa

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária realizou, entre os dias 23 de novembro e 22 de janeiro, uma Consulta Pública sobre sua Agenda Regulatória para 2021 a 2023.

A rotulagem de alimentos embalados consta na Agenda Regulatória proposta pela Anvisa e a ACT contribuiu para a consulta reforçando a necessidade do aperfeiçoamento de alguns pontos da norma de rotulagem editada pela Anvisa em 2020 por meio da RDC nº 429/2020 e na IN nº 75/2020 .

Entre os pontos de aperfeiçoamento da norma sugeridos pela ACT, destacam-se: a necessidade de revisão do modelo de perfil nutricional dos alimentos que terão alertas em seus rótulos, de modo a contemplar uma maior gama de alimentos ultraprocessados; a revisão do modelo de rotulagem utilizado, que não alerta o consumidor propriamente sobre a alta presença de açúcares, sódio e gordura nos alimentos ultraprocessados; e a necessidade de instauração de mecanismos de fiscalização da norma de rotulagem.

____________________________________________

 

Notícias

O novo regulamento de Milão, na Itália, entrou em vigor em janeiro e, entre outros pontos, proíbe a prática de fumar em locais onde haja a presença de pessoas a menos de 10 metros de distância.  Também está proibido fumar em pontos de ônibus, em áreas verdes, em parques voltados para as crianças, locais de práticas esportivas – como estádios e ginásios – e cemitérios.  

Não é de hoje que se escuta a máxima de que exercício físico melhora a imunidade. A afirmação, porém, ganhou ainda mais força no ano passado, quando estourou a pandemia de coronavírus. É importante frisar que, apesar dos incontáveis benefícios, exercício não é vacina e não vai deixar o praticante imune a qualquer doença. Ele funciona como prevenção e está sempre aliado a cuidados complementares, como alimentação e, atualmente, o uso de máscaras para evitar a disseminação da Covid-19.

Os dados mais recentes sobre insegurança alimentar mostram que a fome não é coisa do passado no Brasil. A falta de dinheiro para comprar comida, problema em 34,9% dos domicílios, em 2004, passou para 22,6%, em 2013, voltou a subir, chegando a 36,7%, em 2018, lembra o economista Marcelo Neri, diretor da Fundação Getulio Vargas (FGV Social).

As bebidas açucaradas resultam em gastos de R$ 2,9 bilhões por ano ao sistema de saúde brasileiro no tratamento de doenças relacionadas ao seu consumo. É o que revela um estudo inédito sobre o impacto da ingestão desses produtos em países da América Latina coordenado pelo Instituto de Efectividad Clinica y Sanitária (IECS) da Argentina. 

____________________________________________

 

Boletim ACT 168

Diretoria: Paula Johns (Diretora Geral), Mônica Andreis (Diretora Executiva), Anna Monteiro (Diretora de Comunicação), Daniela Guedes (Diretora de Campanhas e Mobilização), Fabiana Fregona (Diretora Financeira), Adriana Carvalho (Diretora Jurídica)

Editoração: Anna Monteiro

Redação: Anna Monteiro, Juliana Cenoz Waetge, Rosa Mattos

Revisão: Juliana Cenoz Waetge

ACT Legal: Adriana Carvalho, Joana Cruz, Renata Lima

Mídias sociais: Victória Rabetim

Produção gráfica: Ronieri Gomes




VOLTAR



Campanhas



Faça parte

REDE PROMOÇÃO DA SAÚDE

Um dos objetivos da ACT é consolidar uma rede formada por representantes da sociedade civil interessados em políticas públicas de promoção da saúde a fim de multiplicar a causa.


CADASTRE-SE